Estudo aproveitou o aumento das consultas pré-natais virtuais durante a pandemia para avaliar diversos aspectos da assistência remota
Em um país continental como o Brasil, onde existem comunidades afastadas dos grandes centros e vazios assistenciais diversos, uma assistência remota pode ser alternativa estratégica para reduzir as desigualdades e melhorar o acesso da população aos cuidados de saúde. Com a pandemia de covid-19, esse modelo de assistência se popularizou e ganhou significância. Mas será que é possível aproveitar a Internet, nesse atual momento, para garantir atendimento de qualidade?
Quando se trata de cuidados pré-natais, cada nação tem seu protocolo. Entre os britânicos, por exemplo, o padrão, em circunstâncias normais, são 10 consultas para a primeira gravidez ou sete nas gestações seguintes. Porém, durante a pandemia, 90% dessas consultas foram realizadas remotamente.
Devido à baixa disponibilidade de estudos sobre a qualidade dessa mudança radical, e considerando importante analisar como essa assistência à distância pode performar nos sistemas de saúde, pesquisadores do Reino Unido entrevistaram mais de uma centena de mulheres adultas que estavam grávidas em março de 2020, além de profissionais atuantes em maternidades e gestores de serviços de saúde voltados a essa especialidade, para avaliar cuidados pré-natais remotos quanto a eficiência, eficácia, segurança, acessibilidade, equidade e inclusão.
Após avaliar diversos fatores – detalhados abaixo — o estudo sugere que a assistência remota, pelo menos no que envolve o pré-natal das gestantes, é um caminho estratégico, porém que ainda apresenta falhas estruturais. Isso porque a telessaúde precisa ser avaliada como um sistema complexo, e não apenas do ponto de vista das teleconsultas. Além disso, é sempre importante e necessário oferecer a opção às pacientes para definirem o que é mais confortável e assertivo para cada caso.
Vantagens da assistência remota
Entre as vantagens do atendimento remoto listadas pelas pacientes nessas circunstâncias, foram destacadas a economia de tempo e de despesas com deslocamento, bem como a redução do estresse, da ausência no trabalho e da necessidade de buscar auxílio para cuidar dos outros filhos durante a consulta.
Por parte do sistema, foram apontadas maior eficiência e flexibilidade, bem como a acessibilidade, que se mostrou ampliada em diversos fatores. Além das questões físicas, foi apontado um maior acesso das gestantes à profissionais diversos, como apoio terapêutico integrado e atendimento multidisciplinar. Isso porque se torna muito mais simples passar por especialidades diferentes de forma remota do que ter de se deslocar entre consultórios e endereços distintos.
Um ponto deve ser observado com cuidado. Como o estudo foi realizado durante uma das fases críticas da covid-19, as mulheres enfatizaram que ser atendida remotamente tinha impacto importante na segurança, evitando a contaminação pelo novo coronavírus.
Desvantagens da assistência remota
Como desafios, além do receio de que a assistência remota teria a mesma confiabilidade do que a presencial, até porque há um distanciamento importante entre médico, equipe de saúde e paciente, as gestantes reforçaram questões de infraestrutura digital – o que também é um entrave no território brasileiro, principalmente quando se busca melhorar o acesso de populações instaladas em regiões mais remotas – bem como pontos de falha no prontuário eletrônico, que deixava informações se perderem. Do ponto de vista dos profissionais, apesar de otimizar o tempo da consulta, o atendimento à distância parece ampliar a carga de trabalho.
No que diz respeito à equidade, houve uma preocupação importante. De acordo com os pesquisadores, mulheres com conhecimento em saúde, facilidade de acesso à informação e boa estrutura poderiam se beneficiar bastante do pré-natal remoto. Porém, esse atendimento à distância pode não ser tão prático e eficiente para outros grupos que envolvem populações mais vulneráveis, com baixa alfabetização, oratória e dificuldades de comunicação. Com isso, nota-se que a assistência remota, se não for desenvolvida de forma ampla e acompanhada de um trabalho de base, pode aumentar ainda mais as desigualdades já existentes.
Outro ponto diz respeito à garantia de que essas mulheres poderiam se expressar livremente durante a consulta, tirando dúvidas, levantando preocupações e inclusive abordando questões relativas à violência doméstica. Isso porque se elas estivessem em casa, ao lado de seus agressores, e não durante uma consulta em ambiente externo seguro, essa possibilidade poderia ser bastante reduzida.
Quanto à eficácia, não ficou claro se o cuidado remoto era mais ou menos eficaz do que o presencial, até porque, nesses casos, a eficácia pode variar de acordo com desfechos como nascidos vivos e peso normal do bebê ao nascer. A impossibilidade de escolha entre o remoto, o presencial, ou uma junção dos dois, devido à necessidade de distanciamento social durante a pandemia, também afetou essa percepção.
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