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Sepse – Qual o poder da triagem eletrônica na redução da mortalidade?

Sepse – Qual o poder da triagem eletrônica na redução da mortalidade?
Sepse
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Estudo amplo e representativo com mais de 60 mil pacientes avalia prós e contras da triagem eletrônica de sepse

Voltado à melhor condução da sepse nas unidades hospitalares, um ensaio randomizado de clusters publicado no JAMA Network comparou a triagem eletrônica baseada no qSOFA (escore para identificação de alto risco para mortalidade hospitalar com suspeita de infecção fora da unidade de terapia intensiva) com nenhum tipo de triagem para averiguar se investir nessa metodologia pode reduzir a taxa de mortalidade.

O estudo foi conduzido durante dois meses em 43 enfermarias (clínicas, cirúrgicas, oncológicas e de covid-19, já que o estudo ocorreu em período que envolve a pandemia) de cinco hospitais da Arábia Saudita e envolveu mais de 60 mil pacientes.

Importante lembrar que identificar e tratar rapidamente a sepse utilizando estratégias como medição de lactato sérico e administração tanto de antibióticos quanto de fluidos intravenosos e vasopressores, é fundamental para desfechos positivos. Ao mesmo tempo, há uma preocupação com um possível uso indiscriminado de antibióticos e consequente aumento da resistência de alguns microrganismos.

Com triagem eletrônica

No grupo que passou pela triagem eletrônica, foram 9.447 alertas em 4.299 dos 29.442 pacientes, o que representa 14,6% do total. Desses, 45,5% tinham uma fonte de infecção diagnosticada e 81,3% receberam antibióticos antes mesmo do alerta soar. Um ponto interessante é que 73,4% dos alertas foram reconhecidos pela equipe de enfermagem e 73,8% por médicos. Entre todos, 34,8% dos casos foram identificados como sepse.

Nesse grupo, nas 12 horas seguintes ao primeiro alerta, os pacientes tiveram maior probabilidade de passar por teste de lactato sérico e solicitação de fluido intravenoso. Além disso, pacientes com um alerta, quando comparados com aqueles com nenhum alerta, tiveram mais risco de mortalidade hospitalar em 90 dias.

Sem triagem eletrônica

Já no grupo que não passou pela triagem eletrônica, foram 8.418 alertas em 5.394 dos 30.613 pacientes, o que representa 17,6% do total. Desses, 35,5% tinham uma fonte de infecção diagnosticada e 72,7% receberam antibióticos antes do alerta. A identificação por parte dos profissionais de saúde também foi similar nesse grupo, sendo que 12,2% dos alertas foram observados por enfermeiros e 12,7% por médicos.

Resultados

Importante observar que, como a pandemia de covid-19 iniciou durante a realização do estudo, aumentando a mortalidade em decorrência da infecção pelo novo coronavírus e não especificamente pela sepse, a avaliação teve obrigatoriamente de ser feita pela análise ajustada, e não pela bruta.

Como resultados, o estudo sugere que há, sim, redução (de 3,13% para 2,46%) na mortalidade hospitalar em 90 dias quando o paciente passa pela triagem eletrônica, mecanismo de baixo custo, confiável, facilmente reprodutível, imparcial e sustentável. Na discussão, os especialistas levantaram cinco pontos relevantes:

1. O alerta identificou pacientes com alto risco de morte;

2. Dos pacientes que tiveram alertas, ⅓ passou por avaliação de sepse pelos médicos;

3. A redução da mortalidade foi observada entre pacientes com ou sem diagnóstico de infecção, o que sugere que o efeito positivo da triagem não se limita aos pacientes com sepse;

4. O alerta promoveu medições mais frequentes de lactato sérico e pedidos de fluidos nas primeiras doze horas, mas não aumentou a coleta de culturas de fluidos corporais e pedidos de antibióticos nessas primeiras doze horas;

5. O formato do estudo padronizou a comunicação entre enfermagem e equipe médica após um alerta, melhorando a coordenação da assistência.

Entre os desfechos secundários, a triagem eletrônica reduziu a terapia vasopressora e as taxas de novos organismos multirresistentes, mas aumentou a terapia de substituição renal incidente, o Clostridioides difficile e a ativação do código azul, porém, nesse último fator, não há clareza se ele está associado a uma escalada maior de cuidados ou ao aumento real na parada cardíaca. Quanto à admissão na UTI, ventilação mecânica ou ativação da equipe de resposta rápida, não foram observadas diferenças importantes.

Mesmo tendo observado maior frequência de prescrição de antibióticos no grupo que passou pela triagem, o estudo também observou – além da redução das taxas de novos organismos multirresistentes conforme descrito acima – um aumento nos dias sem antibiótico.

Referências:
(1) Electronic Sepsis Screening Among Patients Admitted to Hospital Wards: A Stepped-Wedge Cluster Randomized Trial

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