Apostar em ferramentas eletrônicas que auxiliam o corpo clínico durante as inúmeras tomadas de decisão ao longo da jornada do paciente tem sido um dos caminhos encontrados pelos administradores hospitalares para reduzir falhas associadas à prática clínica. Recentemente, uma meta-análise publicada pelo The British Medical Journal avaliou uma centena de estudos a fim de compreender as melhorias reais da implementação de sistemas computadorizados de apoio à decisão clínica: com dados de 1,2 milhão de pacientes atendidos em 10.790 provedores de saúde, concluiu que essas ferramentas aumentaram em 5,8% a proporção de pacientes que receberam o cuidado desejado.
Dessa forma, a revisão destaca que a maioria das intervenções eletrônicas nesse sentido alcançam pequenas ou moderadas melhorias, visto que a minoria dos estudos observados indicou aumentos realmente substanciais na prestação de cuidados.
Na sequência, editorial norte-americano publicado também pelo The British Medical Journal analisou esse estudo compreendendo que os sistemas de apoio à decisão clínica devem ser considerados como uma parte da abordagem integrada capaz de preencher lacunas e melhorar a qualidade na assistência, mas nunca como uma solução independente, o que derruba a premissa de que os sistemas de apoio à decisão clínica por si só melhoram o atendimento clínico.
Dessa forma, o artigo sugere estratégias multifacetadas para aumentar a eficácia dessas ferramentas e menciona cinco diretrizes:
1. Remoção das barreiras à criação, implementação e compartilhamento dessas ferramentas para que as soluções que se mostrarem mais eficazes possam ser identificadas e ampliadas dentro das organizações.
2. Criação de um projeto para implementação desses sistemas com base em uma compreensão colaborativa e multidisciplinar dos fluxos de trabalho internos.
3. Implementação das ferramentas paralelamente a intervenções capazes de modificar o comportamento dos médicos, o que envolve educação continuada e treinamento do corpo clínico.
4. Investimento em pesquisas para integração dos sistemas de apoio à decisão clínica com estratégias de engajamento do paciente.
5. Evolução dos sistemas com base em inteligência artificial e machine learning.
Além de apontar questões relativas à implementação dessas ferramentas, o artigo sugere que cada organização deve fazer sua avaliação interna considerando indicadores específicos como, por exemplo, o número de alertas cancelados, o tempo necessário para atender às recomendações e a satisfação dos médicos. Destaca, também, que é preciso investir em pesquisa e inovação capazes de otimizar esses sistemas e sempre compreender o que é viável, o que não é viável, o que se mostra eficiente e o que não se mostra eficiente para que seja possível absorver o real potencial dessas ferramentas.
Outro ponto destacado pelo artigo norte-americano diz respeito a problemas com usabilidade como uma barreira à adesão. Fazendo um crossover com outro estudo que trata especificamente da utilização desses sistemas pela enfermagem e afirma que a experiência dos enfermeiros com a tecnologia interfere na maneira como os sistemas são utilizados, nota-se, mais uma vez, a importância do treinamento para que todo o time tenha o mesmo entendimento das funcionalidades dos sistemas extraindo o que há de melhor em cada um.
Referências:
(2) How effective are clinical decision support systems?
(3) Nurses’ use of computerised clinical decision support systems: a case site analysis
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