NOTÍCIAS

Segurança do Paciente

Surfistas são propensos a ter três vezes mais bactérias resistentes a antibióticos, diz nova pesquisa

Surfistas são propensos a ter três vezes mais bactérias resistentes a antibióticos, diz nova pesquisa
0
(0)

Os oceanos poluídos fazem com que a prática do surfe seja uma das maneiras de contrair E. coli

As bactérias resistentes a antibióticos já são um problema de saúde pública global. Com o aumento do número de infecções resistentes adquiridas pelas pessoas, busca-se cada vez mais compreender os mecanismos pelos quais as pessoas são expostas e contaminadas por essas bactérias para traçar estratégias efetivas prevenir a propagação.

Aumento da gonorreia resistente aos antibióticos pede novos medicamentos, sinaliza OMS

É seguro deixar que pacientes decidam duração do antibiótico? Infectologista responde

O papel do meio ambiente dentro deste contexto ainda não é bem compreendido e um primeiro estudo, no Reino Unido, avalia a relação entre a qualidade da água, exposição humana, as águas do oceano, associando a exposição e colonização por bactérias resistentes aos antibióticos aos surfistas.

Confira aqui o estudo.

Conduzido pela Universidade de Exeter, no sudoeste da Inglaterra, o estudo Beach Bums pediu a 300 pessoas, metade das quais regularmente surfam no litoral do Reino Unido, para usar cotonetes retais. Isso porque os surfistas engolem dez vezes mais água do mar do que os banhistas, e os cientistas queriam descobrir se isso os tornava mais vulneráveis às bactérias que poluem a água do mar e se essas bactérias são resistentes a um antibiótico.

Os cientistas compararam as amostras de fezes de surfistas e não surfistas para avaliar se o intestino dos surfistas continham bactérias de E. coli capazes de crescer na presença de cefotaxima, um antibiótico comumente usado e clinicamente relevante. O cefotaxima já foi prescrito para matar essas bactérias, mas alguns adquiriram genes que lhes permitiram sobreviver a este tratamento.

O estudo, publicado em 14 de janeiro de 2018 na revista Environment International, descobriu que 13 de 143 (9%) de surfistas foram colonizados por essas bactérias resistentes, em comparação com apenas quatro dos 130 (3%) dos não surfistas. Isso significa que a bactéria continuaria a crescer, mesmo que fosse tratada com cefotaxima.

Os pesquisadores também descobriram que os surfistas regulares eram quatro vezes mais propensos a abrigar bactérias que contêm genes móveis que tornam as bactérias resistentes ao antibiótico. Isso é significativo porque os genes podem ser passados entre bactérias – potencialmente espalhando a capacidade de resistir ao tratamento antibiótico entre bactérias. Recentemente, a Assembleia do Meio Ambiente da ONU reconheceu a propagação da resistência aos antibióticos no meio ambiente como uma das maiores preocupações ambientais emergentes do mundo.

A Dra. Anne Leonard, da Faculdade de Medicina da Universidade de Exeter, que liderou a pesquisa, disse: “A resistência antimicrobiana foi globalmente reconhecida como um dos maiores desafios de saúde de nosso tempo, e agora há um foco crescente em como a resistência pode ser disseminada através de nossos ambientes naturais. Precisamos saber mais sobre como os seres humanos estão expostos a essas bactérias e como colonizam nosso corpo. Esta pesquisa é a primeira a identificar uma associação entre o surfe e a colonização intestinal por bactérias resistentes aos antibióticos”.

Apesar das extensas operações de limpeza de águas costeiras e praias, as bactérias potencialmente prejudiciais aos seres humanos ainda entram no meio ambiente costeiro através de esgoto e poluição residual de fontes, incluindo o escoamento de água de culturas agrícolas tratadas com estrume. No artigo, os autores demonstraram a prevalência de E. coli resistentes a cefotaxima nas águas do Reino Unido, bem como a prevalência do gene de resistência móvel que a tornam resistente. Eles estimaram que mais de 2,5 milhões de sessões de esportes aquáticos ocorreram na Inglaterra e no País de Gales em 2015, o que envolveu a ingestão de bactérias E. coli que abrigam esses genes de resistência móvel. Eles descobriram que os surfistas são particularmente vulneráveis a ingerir a bactéria porque eles engolem até dez vezes mais água do que os banhistas do mar.

A Organização Mundial da Saúde alertou para que possamos estar entrando numa era na qual os antibióticos já não são eficazes para matar infecções bacterianas simples e previamente tratáveis. Isso significaria que infecções como pneumonia, tuberculose, envenenamento por sangue, gonorreia e alimentos e doenças transmitidas pela água poderiam ser fatais. Isso também significaria que não seria mais possível usar antibióticos para prevenir infecções em procedimentos médicos de rotina, como substituições de articulações e quimioterapia.

O relatório O’Neill 2016, encomendado pelo governo do Reino Unido, estimou que as infecções resistentes aos antimicrobianos pudessem matar uma pessoa a cada três segundos até 2050 se as tendências atuais continuarem.

Até agora, as soluções para abordar a questão se concentraram principalmente na prescrição e uso. No entanto, é dada maior prioridade ao papel do meio ambiente na divulgação do problema, além da transmissão dentro dos hospitais, entre pessoas e alimentos.

O Dr. Will Gaze, da Faculdade de Medicina da Universidade de Exeter, supervisionou a pesquisa e garante: “Não estamos buscando desencorajar as pessoas a passar menos tempo no mar, já que o surfe é atividade que tem muitos benefícios em termos de exercício, bem-estar e conexão com a natureza. É importante que as pessoas compreendam os riscos envolvidos para que possam tomar decisões sobre seus hábitos de banho e esportes. Esperamos agora que nossos resultados ajudem os decisores políticos, os gestores de praia e as empresas de água a tomar decisões baseadas em evidências para melhorar ainda mais a qualidade da água em benefício da saúde pública”.

Leia mais

Parar de usar antibióticos em animais saudáveis ajuda a evitar a propagação da resistência antibiótica

Veja mais

 

Avalie esse conteúdo

Média da classificação 0 / 5. Número de votos: 0

Outros conteúdos do Acervo de Segurança do Paciente

Tudo
materiais-cientificos-icon-mini Materiais Científicos
noticias-icon Notícias
eventos-icon-2 Eventos

Novo Protocolo de Londres 2024

Tradução Oficial para o Brasil

A Ferramenta Essencial para a Segurança do Paciente, agora em Português!