Revisão sistemática verifica se a adoção de estratégias de telessaúde para acompanhar pacientes no pós-operatório impacta positivamente a segurança do paciente
A pandemia de covid-19 acelerou a adoção de tecnologias em diferentes setores, inclusive na saúde. No Brasil, a prática da telessaúde foi regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) somente em meados de 2022, através da Resolução nº 2.314, após um intenso debate sobre os prós e os contras da alternativa.
Até então, de acordo com estudo conduzido pela Fapesp, durante a crise sanitária, essa possibilidade acabava mais frequentemente utilizada para conectar profissionais na discussão de casos clínicos, em reuniões de serviço e na capacitação e atualização de conhecimentos. O foco não estava na teleconsulta ou no acompanhamento direto com o paciente. Já em outros países, o que chamamos de telessaúde – ou telemedicina – já está em um estágio mais avançado, sendo utilizada inclusive para melhorias nas especialidades cirúrgicas.
Reconhecendo que esses avanços estão se concretizando e que a tecnologia desponta como uma aliada cada vez mais presente na rotina clínica, uma revisão sistemática buscou verificar se agregar telessaúde no acompanhamento do paciente após cirurgias abdominais poderia impactar positivamente as readmissões, as visitas ao pronto-socorro e as taxas de complicações.
Importante ressaltar que a telessaúde, nesses casos, tem sido utilizada como instrumento de segurança do paciente capaz de identificar e prevenir prejuízos à saúde em decorrência da assistência, incluindo estratégias para detecção precoce de complicações, comunicação entre médico e paciente, e monitoramento remoto.
Foram incluídos, na revisão, 19 estudos publicados entre 2013 e 2023 que congregam, ao todo, mais de 10.500 pacientes da América do Norte e da Europa submetidos a cirurgias colorretais, ginecológicas e outros procedimentos abdominais. Esses pacientes foram segmentados em dois grupos: um com aqueles que passaram pelos cuidados convencionais e outro com os que receberam também cuidados de telemedicina envolvendo consultas virtuais, ligações telefônicas, educação do paciente, acompanhamento e monitoramento tanto via dispositivos médicos quanto via aplicativo.
Telessaúde como estratégia de segurança
Como resultados, o estudo traz apontamentos interessantes. O grupo de telessaúde apresentou menor incidência de readmissões em 30 dias e um volume menor de visitas ao pronto-socorro no período pós-cirúrgico. Em contrapartida, as taxas de complicações permaneceram praticamente iguais, sem diferenças estatisticamente significativas (o que nesse caso, pode ser considerado fator positivo).
Como desfechos secundários, os pesquisadores analisaram o tempo de internação hospitalar e a satisfação do paciente, e o grupo de telemedicina permaneceu menos tempo no hospital e foram observados bons índices de adesão e satisfação dos pacientes.
Entre as observações dos pesquisadores, um ponto que merece destaque: a redução do acesso do paciente à unidade hospitalar pode estar diretamente vinculada ao acompanhamento remoto que consegue monitorar o agravamento ou abrandamento dos sintomas à distância. Independentemente dos resultados obtidos, os pesquisadores sugerem novas pesquisas para observar mecanismos específicos de telessaúde atrelados à assistência.
Referências
(1) Telemedicina chegou com a pandemia e veio para ficar, indica estudo
(2) Digital Health Interventions and Patient Safety in Abdominal Surgery
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