Estudo norte-americano analisa como a solicitação mais seletiva de exames de urina em pacientes hospitalizados pode ser positiva
Pacientes hospitalizados devem ser submetidos a exames de urina para diagnóstico de bacteriúria mesmo quando assintomáticos? E, em caso de resultados positivos, como deve ser o protocolo medicamentoso?
Um estudo de melhoria da qualidade (1) publicado no JAMA em setembro de 2023 avaliou, em um espaço de três anos (de julho de 2017 a março de 2020 — período pré-pandemia), pacientes hospitalizados em 46 hospitais e que tinham apresentado urocultura positiva a fim de avaliar as estratégias diagnósticas e de administração de antibióticos adotadas nas unidades de saúde e entender qual era o percentual de pacientes que, mesmo com bacteriúria assintomática (ou seja, que não apresentavam alta frequência ou urgência para urinar, disúria, dor ou sensibilidade, hematúria aguda, febre e calafrios, ou sinais de pielonefrite), recebiam tratamento.
O que o documento relata é que a hospitalização aumenta o risco da bacteriúria assintomática e o tratamento com antibióticos promove mais prejuízos — como eventos adversos e resistência antimicrobiana — do que benefícios. Tanto que as diretrizes norte-americanas não recomendam o tratamento na ausência de sintomas.
Lembrando que foram selecionados apenas pacientes que não estavam recebendo tratamento com antibióticos por outra causa, os detalhes são interessantes de serem observados:
- Dos 14.572 pacientes com urocultura positiva, 28,4% (4.080) eram assintomáticos;
- Dos 4.080 pacientes assintomáticos, 76,8% receberam antibióticos (sendo que houve grande variação, de 50% a 100%, entre os hospitais elencados);
- A duração média da antibioticoterapia foi de seis dias, sendo que os medicamentos mais utilizados foram Ceftriaxona, Cefepime, Cefalexina, Vancomicina, Ciprofloxacino e Levofloxacino;
- A taxa de pacientes tratados com antibióticos caiu, em três anos, de 29,1% para 17,1%;
- A taxa de pacientes assintomáticos com urocultura positiva caiu de 34,1% para 22,5%;
- A taxa de pacientes assintomáticos que receberam antibióticos permaneceu estatisticamente estável, caindo de 82,% para 76,3%.
A diminuição da adoção de tratamentos com antibióticos ao longo dos três anos está associada à diminuição dos exames desnecessários, ou seja, à implementação da coleta de cultura de urina mais seletiva.
Assim, o estudo indica que a melhor gestão diagnóstica impacta positivamente na melhor gestão medicamentosa, seguindo os preceitos do Antimicrobial Stewardship (programas de gerenciamento de antibióticos, antifúngicos, antivirais e antiparasitários implementados nas instituições de saúde).
Esse tipo de ação é essencial em um cenário onde o uso indiscriminado de antibióticos amplia a resistência antimicrobiana e faz com que os pacientes entrem em risco.
Um dos problemas da realização de exames em demasia está no fato de que um resultado positivo, mesmo sem impacto na vida do paciente, desencadeia alguma ação. No caso do estudo, a ação é o início do tratamento medicamentoso. Por esse motivo, a adoção de uma cultura que veta o “overuse” de exames é sinal de melhor gestão de antibióticos na unidade hospitalar. Segundo o Dr. Lucas Zambon, Diretor Científico do IBSP:
Estratégias que ajudem a escolhas mais sábias, no melhor sentido da campanha Choosing Wisely, são fundamentais de serem discutidas, e o cenário do Stewardship de Antimicrobianos é muito propício para isso.
Referência
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