Para o médico do Einstein, garantir a identificação em 100% dos procedimentos é o que reduz a chance de eventos adversos
O primeiro passo na segurança do paciente pode parecer simples: identificar corretamente o paciente. Porém, atualmente ainda é o pilar que pode acabar causando eventos adversos graves, como administração incorreta de medicamentos, cirurgia errada. “Existem evidências claras de que, após a implementação de processos confiáveis de identificação dos pacientes, ocorrem reduções significativas nos erros”, diz o Dr. Antonio Capone Neto, Gerente Médico da Qualidade e Segurança do Paciente do Hospital Israelita Albert Einstein e Fellow do IHI.
Confira a seguir a entrevista de Antonio Capone Neto ao Portal IBSP.
IBSP – A identificação correta do paciente é fundamental para garantir a segurança e qualidade no atendimento?
Antonio Capone Neto – Sim, a identificação dos pacientes deve estar sempre correta para garantir que os cuidados sejam prestados às pessoas para as quais se destinam. Sem a identificação correta do paciente não há possibilidade de segurança ou qualidade, pois a possibilidade de erros é quase certa.
Por esta razão, a identificação correta tem sido um tema central em campanhas e programas nacionais e internacionais de segurança do paciente. Existem evidências claras de que, após a implementação de processos confiáveis de identificação dos pacientes, ocorrem reduções significativas nos erros.
IBSP – O que se recomenda para garantir a correta identificação?
Antonio Capone Neto – Para garantir que todos os pacientes sejam corretamente identificados, recomenda-se o uso de uma pulseira com pelo menos dois identificadores, por exemplo, o nome e número do prontuário e que ela seja conferida antes de cada procedimento, transfusão, medicação, etc. É responsabilidade de todos os profissionais e também dos pacientes e familiares que o processo de identificação ocorra sempre.
IBSP – Quais os pontos críticos/ dificuldades que encontram no Einstein relacionados à identificação do paciente?
Antonio Capone Neto – Alguns fatores podem aumentar os riscos de falhas na identificação do paciente como: pacientes inconscientes, nomes iguais ou parecidos, mudanças de leito, mudanças da equipe que está cuidando do pacidente. O que toda organização de saúde deve fazer é garantir que a identificação seja confirmada antes de qualquer cuidado em cem por cento dos pacientes.
IBSP – Qual solução encontrada pelo hospital para minimizar erros de identificação?
Antonio Capone Neto – Treinamentos e campanhas visando à identificação correta do paciente e as consequências de não fazer isso da forma ideal são importantes para desenvolver a consciência dos riscos e aumentar a adesão ao processo correto de identificação.
Todos os incidentes envolvendo identificação incorreta do paciente devem ser notificados de acordo com a legislação vigente e investigados pelo serviço. Mesmo os casos onde a identificação incorreta não causou dano ao paciente, deverão ser analisados pelo potencial de danos que possuem. Estas análises gerarão recomendações para que o fato não se repita.
O envolvimento do paciente e de seus acompanhantes ou familiares também é uma barreira importante para se evitar erros de identificação. Para tal, eles deverão ser informados do processo de identificação e de sua ocorrência obrigatória antes dos cuidados. Eles também poderão confirmar se esperam ou não por aquele procedimento, medicamento ou transfusão.
IBSP – Há dados que meçam a eficácia das boas práticas?
Antonio Capone Neto – Sim, coletamos indicadores de erros de identificação de modo contínuo, além de vários outros indicadores de qualidade e segurança do paciente como, por exemplo, o número de erros de medicação, número de eventos adversos, número de “quase erros” (near misses ou close calls), taxas de adesão aos protocolos e às boas práticas, entre outros. Sempre que ocorrer um erro, o evento é analisado para se entender por que houve aquela falha e quais a oportunidades de melhoria para que não mais aconteça.
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