O inglês Mark Gilchrist, especialista em antimicrobianos, acredita que uso racional de antibióticos é considerado um tema chave dentro da segurança do paciente
Mudança de comportamento é a peça chave diante de um cenário global em que a resistência microbiana ganha força. É o que acredita o farmacêutico do Reino Unido Mark Gilchrist, especialista em antimicrobianos.
Em entrevista ao Portal IBSP, ele avalia a importância do uso racional de antibióticos, a relevância da OPAT (Outpatient Parenteral Antimicrobial Therapy) em relação ao manejo de antibióticos e quais os impactos sistêmicos dessa prática na resistência bacteriana, além de reforçar a valorização do farmacêutico clínico em hospitais e clínicas.
IBSP – Na área da saúde e em especial no que diz respeito à segurança do paciente, o uso racional de antibióticos é um tema de interesse multidisciplinar?
Mark Gilchrist – O uso racional de antibióticos (Antibiotic Stewardship Program – AS) engloba todas as atividades destinadas a melhorar a resposta dos pacientes, minimizando consequências negativas, como as IRAS (Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde), e limitando o desenvolvimento da resistência bacteriana. Um programa de Stewardship, portanto, requer vigilância da vulnerabilidade microbiana, monitoramento da prescrição de medicamentos com acompanhamento e medicação dos processos de indicadores e avaliação dos impactos nos processos clínicos.
O uso racional de antibióticos é considerado um tema chave dentro da segurança do paciente. Portanto, deveria constar como prioridade e com regularidade na agenda de discussões de qualidade e gerenciamento na área da saúde.
Lidar a resistência antimicrobiana é um dever todos, e todos nós deveríamos trabalhar juntos. Afinal, só assim é possível garantir o uso consciente e responsável de antibióticos. Com isso, é importante pontuar que é fundamental usar o antibiótico certo, na dose certa, no horário certo e pela duração certa.
IBSP – Lidar com a resistência antimicrobiana é o grande desafio do século na saúde?
Mark Gilchrist –O uso excessivo e inadequado de antibióticos nos últimos anos levou ao cenário em que as bactérias se tornaram resistentes a eles. Na essência, alguns antibióticos que utilizávamos regularmente não podem mais ser usados devido à resistência bacteriana. Isso nos leva a grandes desafios para tratar pacientes que estão em quadro infeccioso. Infelizmente, há poucos antibióticos sendo desenvolvidos, por isso, precisamos agir agora para preservar os antibióticos que ainda temos disponíveis.
IBSP – Que tipo de vantagem a OPAT (Outpatient Parenteral Antimicrobial Therapy) pode trazer em relação ao manejo de antibióticos e quais os impactos sistêmicos dessa prática?
Mark Gilchrist –A OPAT se tornou, em muitos países, uma forma estabelecida de cuidado de assistência ambulatorial. Ao mesmo tempo, há alertas para garantir o uso prudente do arsenal antimicrobiano. E, para a OPAT, isso representa um dilema. Por um lado, os princípios de Stewarship visam o máximo efeito com o mínimo de efeito colateral. Enquanto para a OPAT, o objetivo é do atendimento é similar, há também prioridade para dosagens certas para otimizar alta precoce do paciente.
Com isso, a OPAT deveria seguir os princípios de Stewarship, incluindo a transição da medicação intravenosa para ora, sempre reportando resultados de infecções relacionadas à assistência médica (IRAS) e readmissões hospitalares. Ou seja, acredito que pacientes que estão no programa de OPAT deveriam ser acompanhados pelo time de Antimicrobial Stewarship.
IBSP – Qual a relevância de um profissional de farmácia dentro do contexto de segurança do paciente?
Mark Gilchrist –A presença de um farmacêutico é 100% relevante. Os farmacêuticos são parte integrante da segurança medicamentosa e da segurança do paciente. A expertise em farmácia clínica e a participação no cuidado ao paciente, em especial nas enfermarias e nas unidades de terapia intensiva, têm demonstrado melhora na otimização no uso de medicamentos assim como a melhora na educação e no treinamento da equipe multidisciplinar, além de significativa redução de erros relacionados ao uso de medicamentos.
IBSP – Como é a realidade da participação do farmacêutico clínico dentro do Reino Unido? Em que ambientes vocês estão inseridos, e como é a atuação hospitalar desse profissional?
Mark Gilchrist –Dentro do cenário hospitalar no Reino Unido, o farmacêutico clinico é extremamente ativo. Cada hospital atua com seus recursos, mas, na maioria das organizações, temos farmacêuticos clínicos trabalhando com diferentes especialidades, ou seja, atuando ao lado de médicos e enfermeiras. Por exemplo, há farmacêuticos nos departamentos de emergência, unidade de terapia intensiva, em clínica médica e cirúrgica. A presença desses profissionais garante o gerenciamento dos medicamentos e a manutenção da otimização da revisão das prescrições médicas.
IBSP – Eventos adversos relacionados a medicamentos estão entre os mais frequentes incidentes de segurança do paciente. Que desafios devem ser superados para melhorarmos as estatísticas?
Mark Gilchrist –Mudança de comportamento! Precisamos aprender a partir de erros de processos e sistemas, e utilizar esse aprendizado para mudar comportamentos.
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