Marcela Buscato
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, por ano, aconteçam 43 milhões de incidentes relacionadas à segurança do paciente. Para reduzir esse número, entender quando, como e por que esses problemas ocorrem – assim como suas consequências – é uma tarefa fundamental. Para facilitar a coleta desses dados, de maneira padronizada, a OMS desenvolveu um modelo de nome complicado, mas simples de colocar em prática, o Modelo de Informações Mínimas para a Notificação de Incidentes e Sistemas de Aprendizagem para a Segurança do Paciente (1). Ele é mais conhecido pela sigla MIM SP (em português) ou MIM PS (em inglês).
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A ideia é uniformizar as informações, para que elas possam ser comparadas e gerar análises, mas de maneira a proteger a identidade dos pacientes e dos profissionais envolvidos. O anonimato contribui para o aumento do relato desses incidentes, que seguem subnotificados em serviços de saúde. Ainda há o medo de que eles possam gerar punições – e não aprimoramento dos sistemas de prevenção de erros, como deveriam. A subnotificação de incidentes e de eventos adversos também ocorre pela complexidade do modelo adotado por muitas instituições – isso se ele já foi formalmente desenvolvido – e pela falta de envolvimento da equipe. Mesmo que o sistema já exista, às vezes falta comunicação para explicar aos profissionais como fazer as notificações.
Um levantamento realizado em um hospital referência para nove municípios, em Minas Gerais, em 2015, mostrou que 58% dos profissionais que responderam à pesquisa desconheciam a ficha de notificação. Quase 70% nunca a tinham preenchido (2). “Salienta-se a importância dos formulários serem claros, simples, de preenchimento rápido, e que os profissionais sejam orientados sobre seu preenchimento com a garantia da confidencialidade das informações notificadas”, escrevem os autores do estudo, publicado no ano passado na Revista da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP). “Ademais, o profissional deve fazê-lo de forma anônima, o que aumenta a confiança dos profissionais em notificar”, reforçam os responsáveis pela análise, pesquisadores das universidades do Estado de Minas Gerais, da Federal de Viçosa e Federal de Minas Gerais.
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O modelo desenvolvido pela OMS atende a todos esses critérios. Ele foi validado por países da União Europeia entre os anos de 2014 e 2015 e pode servir como base para a construção de sistemas nacionais de vigilância de incidentes e eventos adversos. Também pode funcionar como plataforma inicial para o desenvolvimento de um sistema de notificação para hospitais interessados em desenvolver sua cultura de segurança – outros campos e descritores podem ser incorporados com o tempo.
O MIM SP é composto por oito categorias que variam entre o objetivo de descrever o incidente (características do paciente, do incidente, consequências) e de ajudar no processo de identificação das causas (fatores que podem ter contribuído e que poderiam ter ajudado a evitá-lo). Veja as categorias que compõe o MIM SP na imagem abaixo:
As informações devem ser sempre circunstanciais, de maneira a não identificar pessoas ou locais. Na categoria “Agente”, por exemplo, estão englobados produtos, dispositivos, pessoas ou elementos envolvidos no incidente. Em “Causas” devem ser citados apenas motivos que tenham sido comprovadamente a origem do problema (causa-raiz), após uma investigação. Do contrário, é preciso salientar que ainda se tratam de suspeitas. Um documento da OMS ensina em detalhes como preencher esse tipo de modelo de notificação, que ainda pode contar com um espaço para livre descrição.
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SAIBA MAIS:
(1) Who (2016). Modelo de informações mínimas para a notificação de incidentes e sistemas de aprendizagem para a segurança do paciente – Guia do usuário. Tradução ProQualis
(2) Siman, Andréia Guerra, Cunha, Simone Graziele Silva, & Brito, Maria José Menezes. (2017). A prática de notificação de eventos adversos em um hospital de ensino. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 51, e03243. Epub 09 de outubro de 2017
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