No dia 17 de setembro foi comemorado o Dia Mundial da Segurança do Paciente, uma data definida pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para alavancar o debate sobre o tema trabalhando a conscientização de todos os envolvidos no ciclo de cuidados e minimizando os riscos. E envolver o paciente nesta discussão é indispensável.
“O tema é a segurança do paciente e estávamos habituados a conversar sobre ele somente com profissionais da área. O assunto pouco chegava ao paciente de fato”. Foi com essa abordagem que o doutor Lucas Zambon, diretor-científico do IBSP, deu início à uma aula aberta sobre como melhorar as estatísticas e reduzir os riscos no atendimento de saúde na última terça-feira em São Paulo.
Reunidos na Casa do Saber, centro de debates e de troca de conhecimentos localizado na zona sul da capital paulista, interessados na temática assistiram à apresentação de Zambon que, de forma transparente, promoveu um retrospecto sobre o assunto detalhando os números atuais do segmento bem como incentivando a população a atuar ativamente na busca por ambientes de saúde mais seguros.
Para o diretor, quando o paciente se empodera, ele se transforma em um agente ativo do cuidado. “Devemos começar questionando os médicos quanto às intervenções que nos são propostas. Em um primeiro momento pode parecer estranho, mas é uma questão cultural”, disse ao citar o Choosing Wisely® (1), iniciativa que estimula profissionais de saúde e pacientes a conversar sobre exames e procedimentos fazendo escolhas mais corretas e efetivas.
Aviação civil X Saúde
Traçar um comparativo entre a saúde e a aviação pode soar esquisito em um primeiro momento. Porém, ao relacionar as duas áreas sob a ótica da segurança, a análise torna-se mais interessante.
Dois episódios da aviação são muito conhecidos pelo mundo inteiro, sendo que um foi um sucesso e o outro uma tragédia. Em 1977, o choque de duas aeronaves no aeroporto de Tenerife, na costa da África Ocidental, levou 583 pessoas à morte. O episódio teve este fim devido à uma sequência de erros humanos como, por exemplo, falta de comunicação e decisões precipitadas.
O ocorrido motivou a aviação a adotar um treinamento desenvolvido pela NASA em 1979, o “Crew Resource Management”(3). O foco deste método é melhorar a comunicação interpessoal, a tomada de decisão, e o trabalho em equipe em ambientes onde o erro humano pode ser catastrófico. Visando reduzir os erros na aviação, o projeto conquistou excelentes resultados contribuindo para um cenário em que viajar de avião tornou-se algo extremamente seguro.
O outro episódio, desta vez de sucesso, remete à 2009 quando um Airbus A320 que iniciava um voo comercial de Nova Iorque para Charlotte, na Carolina do Sul (EUA), chocou-se com pássaros obrigando o piloto a traçar uma saída emergencial. Na ocasião, o comandante optou por fazer um pouso de emergência no rio Hudson apenas seis minutos após a decolagem. A concentração da tripulação e sua capacidade de tomar decisões rápidas e estratégicas salvaram os 150 passageiros e os 5 tripulantes do voo.
“Hoje a taxa de acidentes de avião é muito baixa. Em 2018, mesmo com mais de 35 milhões de voos, ocorreram apenas 11 acidentes com fatalidade”, esclareceu Zambon. A grande questão está em: será que a saúde está mais perto da fatalidade de Tenerife ou do sucesso do rio Hudson?
E a resposta pode assustar: segundo pesquisadores da Johns Hopkins University School of Medicine, mais de 250 mil mortes (2) ocorrem por ano nos EUA devido a erros humanos. “É como se acontecesse um acidente como o de Tenerife por dia em território norte-americano”, pontua Zambon.
Para melhorar esse cenário, iniciativas como a campanha da OMS traduzida pela SOBRASP (Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente) são fundamentais. Com o slogan “Fale pela segurança do paciente” o projeto estimula o debate. Hoje, hospitais de referência no país contam com núcleos compostos por profissionais de vários setores que trabalham, em conjunto, pela segurança do paciente dentro da instituição.
Esse é um dos caminhos que leva à implementação de uma cultura de segurança dentro das unidades hospitalares, melhorando a qualidade do atendimento e reduzindo riscos.
Referências:
(1) Choosing Wisely
(2) Medical error— The third leading cause of death in the US
(3) Crew Resource Management
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