O famoso Efeito Hawthorne*, fenômeno descrito no século XX e ainda muito debatido, é facilmente reconhecido em serviços de saúde. Um texto publicado no British Medical Journal (1) debate o tema trazendo evidências de que quando há um auditor por perto, profissionais de saúde atuando nos hospitais chegam a higienizar as mãos três vezes mais. O problema é que o impacto dessa presença é de curta duração, servindo apenas como um lembrete temporário.
Porém, como saber qual é a real taxa de adesão aos protocolos de higienização das mãos sem investir na observação direta? Será que poderíamos automaticamente compreender que as taxas realistas seriam três vezes menores do que as obtidas por meio dessas pesquisas?
O texto do BMJ afirma que não. E a explicação está no fato de que a observação é feita sobre um grupo heterogêneo de trabalhadores da saúde, sendo que alguns automaticamente já estão focados nos protocolos de higienização e outros não. No caso, eles nomeiam os grupos como “aderentes” e “não aderentes”. Com esse fato em mente, entende-se que a magnitude do viés introduzido pelo Efeito Hawthorne depende justamente da proporção de “não aderentes” ao estudo.
Como exemplo, traça a seguinte linha de pensamento: se um hospital com uma taxa de conformidade de higiene das mãos de 40% investe em um programa simples de auditoria e feedback, publicando as taxas mensais e contando com o apoio dos líderes, estudos mostram que em seis meses essa taxa pode chegar a 90%. Esse aumento provavelmente foi impactado pelo Efeito Hawthorne, já que a maioria dos colaboradores dessa unidade de saúde estava no grupo de “não aderentes”.
Porém, se a gestão desse hospital investisse em um programa mais robusto, que trabalhasse com auditoria e feedback, mas também com campanhas educacionais, sinalização, distribuição de produtos de higiene, protetores de tela do computador com lembretes e outros métodos que sabidamente auxiliam na mudança de cultura, o estudo sugere que ao longo de dois anos, haverá uma melhoria sustentada na taxa real de higiene das mãos.
Isso significa que os resultados de melhora nas taxas são “bons demais para serem verdade”? Por um lado, sim. Seres humanos são seres sociais que gostam de agradar aos outros e buscam, sempre, aprovação.
Mas a percepção geral não deve ser um reajuste na forma como são medidas as taxas para anular o Efeito Hawthorne, mas sim a busca pela maior compreensão sobre as ações para utilização de fenômeno a nosso favor. Para isso é possível, por exemplo, apelar aos desejos humanos pelo feedback positivo abusando de estratégias como o anúncio de auditorias regulares, rotatividade de auditores, equipes de auditoria nos ambientes de atendimento ou mesmo dispositivos de rastreamento, todas ferramentas capazes de gerar mudanças sustentáveis.
* Caso queira entender mais a fundo sobre o Efeito Hawthorne, Lucas Zambon, diretor científico do IBSP publicou em seu LinkedIn um artigo explicativo sobre o acontecimento. Clique AQUI para conferir.
Referências:
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