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A ética e a segurança do paciente nos modelos de saúde baseada em valor

A ética e a segurança do paciente nos modelos de saúde baseada em valor
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Como fazer para que o modelo de saúde baseada em valor seja ético, eficaz e não coloque a segurança do paciente em risco? O tema, que vem sendo amplamente debatido nos eventos do setor, ainda é bastante controverso na visão de alguns especialistas.

Em abril deste ano, Sachin H. Jain, médico norte-americano focado na construção de um sistema de saúde sustentável e que atenda às necessidades dos pacientes, publicou um artigo na Forbes que questiona o caráter deste modelo. Para ele, inicialmente é preciso construir “uma base ética para que sempre seja feito o que é certo para o paciente”.

Essa visão surge, pois, na sua opinião, o modelo de saúde baseada em valor pode desencadear conflitos de interesses. Isso porque os resultados econômicos da rede assistencial por vezes podem ir contra os cuidados que o paciente precisa. Negar um exame diagnóstico, por exemplo, pode ser uma estratégia para evitar a exposição desnecessária de um paciente à radiação, porém também pode ser apenas para redução de custos.

Quatro “antis” da SBV

Para fundamentar esse raciocínio, o especialista questiona quatro atitudes comuns às organizações que adotam o modelo de saúde baseada em valor, definindo-as em “anti-hospital”, “anti-especialista”, “anti-acesso” e “anti-inovação”.

Para iniciar esse debate, é preciso compreender que, nos Estados Unidos, um dia de internação pode chegar a custar US$ 4 mil para o sistema de saúde. Aqui no Brasil, de acordo com estudo da Planisa (2), durante a pandemia de covid-19 a média de custo de internação por paciente foi de R$ 2.234 na UTI e R$ 1.139 na enfermaria. Então Jain sugere que o conceito de saúde baseado em valor é um conceito “anti-hospital”.

Porém, quando há esse objetivo, a percepção de valor para o cliente também pode ser muito impactada pela dinâmica hospitalar. O especialista comenta, por exemplo, que como um dos focos está em reduzir os dias de hospitalização – já que essa é uma das mais altas despesas dos planos de saúde – os pacientes e seus familiares podem sentir que estão sendo abandonados ou mesmo negligenciados.

O mesmo acontece com o encaminhamento para cuidados paliativos quando se chega ao estágio final da vida. Muitas vezes esse é, sim, o melhor caminho a ser tomado, inclusive para o conforto do paciente. Porém, ainda há muitos acompanhantes que questionam se isso não significa que a equipe clínica está “desistindo” dos cuidados.

Ainda pensando em custos de saúde, há outro setor igualmente dispendioso: o atendimento com especialistas. Aqui é preciso considerar dois cenários. O primeiro é aquele no qual o médico generalista assume a responsabilidade pelo paciente, solicitando a opinião do especialista realmente quando sente necessidade. O segundo, mais complexo, está em possíveis atrasos diagnósticos e de início de tratamentos pela insistência (ou dificuldade) em não acionar um especialista. Seria, então, a saúde baseada em valor uma demanda “anti-especialista”?

Ainda nesse aspecto, há outro questionamento que envolve a equipe multiprofissional. Está cada dia mais clara a importância da atuação em conjunto de várias especialidades, porém os modelos de saúde baseada em valor precisam ser bastante transparentes e éticos na definição de qual especialista cada paciente precisa em cada momento. Ele não pode, por exemplo, ficar restrito aos cuidados de enfermagem quando há necessidade de uma consulta com um médico.

Outro questionamento do autor do artigo está na liberdade de escolha. Em muitos casos – lembrando que ele se refere ao cenário particular dos Estados Unidos, mas que muito pode ser refletido aqui no Brasil, principalmente na saúde suplementar – as operadoras de saúde restringem o acesso aos especialistas e fazem contratações com mais foco em custo do que em qualidade. O que torna a assistência menos efetiva e, no final das contas, pode ampliar o custo do sistema por pecar na prevenção e aumentar a necessidade do tratamento de doenças mais avançadas. Aqui o questionamento é: esse é um modelo “anti-acesso”?

Por fim, não há como não observar como fica a inovação em saúde dentro desse contexto. Para Jain, organizações que atuam com saúde baseada em valor podem demorar a adotar novos medicamentos e novos procedimentos mais modernos, o que os tornaria “anti-inovação”. Hoje em dia, momento em que todos têm fácil acesso à informação, essa atitude pode gerar questionamento, visto que os pacientes já têm ciência do que o mercado está disponibilizando, fazendo questão de receber o que há de mais eficaz à disposição.

O que já analisamos disponível na literatura?

Recentemente publicamos, em nosso portal, uma matéria sobre um estudo chinês que discute os impactos do Diagnostic Related Group (DRG) na gestão dos sistemas de saúde, uma das estratégias comumente adotas por serviços que aderem aos modelos de saúde baseada em valor (clique AQUI para acessar).

Além disso, uma experiência norte-americana (que abordamos NESSA MATÉRIA) avaliou quais os impactos da adesão a um programa focado no desfecho dos pacientes e temos, também, um projeto europeu focado no empoderamento dos pacientes (leia mais AQUI).

 

Referências:

(1) Everybody’s Talking About Value-Based Health Care. Here’s What They’re Not Saying.

(2) Covid-19: Custo mediano de diária em UTI é de R$ 2.234

 

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