O cateter venoso de inserção periférica (PICC), popularizado a partir da década de 1970, a princípio para nutrição parenteral, ganhou múltiplos usos nos hospitais. Inserido a partir do braço, por uma veia periférica, chega à veia cava superior ou ao átrio direito. Como oferece menos chances de complicações durante a colocação do que um acesso central – é difícil atingir o pulmão ou a carótida pelo braço -, é natural que muitos profissionais tenham a impressão de que há também menos riscos no uso do PICC em relação à ocorrência de infecção sanguínea associada a cateter central e à trombose venosa profunda. Mas alguns levantamentos sugerem que esses riscos são subestimados e que os eventos adversos são também subnotificados.
INSCRIÇÕES ABERTAS – IV Simpósio Internacional de Qualidade e Segurança do Paciente
Em um novo estudo, feito com 438 pacientes de quatro hospitais dos Estados Unidos, 61,4% relataram complicações relacionadas ao uso de PICC: de dor e vermelhião no local da inserção a sintomas de infecção sanguínea e de trombose venosa profunda. O levantamento também mostrou que, na prática, o PICC é usado em situações contraindicadas por diretrizes baseadas em evidências e que as complicações referentes ao seu uso são subnotificadas (1). Ele é indicado idealmente para infusões irritantes a vasos de menor calibre, como alguns tipos de antibióticos, quimioterapia e nutrição parenteral – e que tenham de ser repetidas por mais de cinco dias.
Pelo menos 25% dos pacientes tiveram um PICC inserido para uso em um período igual ou menor a cinco dias. Na maior parte dos pacientes (47,3%), foi usado um dispositivo de dois lúmens (número de “entradas”), em vez um único lúmen. Os duplos oferecem risco de infecção 5,2 vezes maior do que o lúmen único (2). Estima-se que se houver uma mudança em 5% dos PICCs com lúmens duplos para PICCs com lúmen único, 0,5 caso de infecção e 0,5 caso de trombose serão evitados, o que pouparia US$ 23.500 em tratamentos para esses eventos adversos (3).
Dos 438 pacientes que participaram do levantamento, 17,6% relataram sintomas associados a infecções sanguíneas causadas pelo cateter, como febre e calafrios. Destes, dos 43% que precisaram de atendimento médico por causa dos sinais, 87% tiveram que tomar antibióticos. Mas, nos registros médicos dos hospitais, no mesmo período, apenas 1,6% dos casos de infecção sanguínea foram registrados – um indício de subnotificação.
O mesmo aconteceu nos casos em que os pacientes relataram sintomas de trombose venosa profunda (30,6%). Quase 37% precisaram de atendimento médico por vermelhidão, inchaços nas pernas e dificuldade de respirar. Mas apenas 7,1% dos casos apareceram documentados nos registros dos hospitais no mesmo período.
“Embora essas discrepâncias possam refletir infecções não relacionadas ao PICC ou a má atribuição de sintomas relatados pelo paciente, é igualmente plausível que os dados de prontuários médicos da instituição onde o PICC foi colocado subestimem a verdadeira taxa de complicações do PICC”, escreveram os autores, liderados pelo médico intensivista Vineet Chopra, professor da Escola de Medicina da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.
Algumas diretrizes ajudam a decidir em quais casos o PICC deve ser usado e quando ele pode ser dispensado (4). Vale lembrar que equipes treinadas e especializadas devem ser responsáveis pela inserção.
Usos inadequados
– por motivo que não seja infusão incompatível com via periférica e por menos de 5 dias
– por comodidade e por menos de 5 dias em pacientes com acesso venoso difícil
– para pacientes com histórico de trombose ou com doença renal crônica e que estão em tratamento dialítico
– dispositivos com múltiplos lúmens aumentam entre 5 e 12 vezes o risco de infecção
Usos adequados
– para infusões que serão feitas por mais do que 6 dias
– para cuidados paliativos
– para pacientes em assistência domiciliar, desde que a duração necessária do acesso seja maior do que 15 dias
– uso de dispositivo com um único lúmen reduz risco de infecção e trombose venosa profunda
SAIBA MAIS
(1) Krein SL, Saint S, Trautner BW, et al. Patient-reported complications related to peripherally inserted central catheters: a multicentre prospective cohort study. BMJ Qual Saf Published Online First: 25 January 2019. doi:10.1136/bmjqs-2018-008726
(2) Chopra, Vineet et al. PICC-associated Bloodstream Infections: Prevalence, Patterns, and Predictors. The American Journal of Medicine , Volume 127 , Issue 4 , 319 – 328
(3) Ratz, D., Hofer, T., Flanders, S., Saint, S., & Chopra, V. (2016). Limiting the Number of Lumens in Peripherally Inserted Central Catheters to Improve Outcomes and Reduce Cost: A Simulation Study. Infection Control & Hospital Epidemiology, 37(7), 811-817. doi:10.1017/ice.2016.55
(4) Chopra V, Flanders SA, Saint S, Woller SC, O’Grady NP, Safdar N, et al. The Michigan Appropriateness Guide for Intravenous Catheters (MAGIC): Results From a Multispecialty Panel Using the RAND/UCLA Appropriateness Method. Ann Intern Med. ;163:S1–S40. doi: 10.7326/M15-0744
PICC
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