Por ano, 234 milhões de cirurgias são realizadas no mundo. Isso significa que uma a cada 25 pessoas serão submetidas a uma operação e a todos os seus riscos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, dos 7 milhões de pacientes que sofrem complicações pós-operatórias, 1 milhão morrem – e que metade dessas complicações são potencialmente evitáveis.
A realização de um checklist de cirurgia segura é uma das ferramentas mais poderosas para evitar erros e eventos adversos. Um dos estudos pioneiros, publicado em 2009 no The New England Journal of Medicine, mostrou que a taxa de mortes e de complicações cirúrgicas caiu mais de 30% nos oito hospitais que participaram de um programa piloto da OMS para implantação de um checklist cirúrgico.
O checklist para uma cirurgia segura
“A ideia do checklist cirúrgico é, em cima do planejamento que já foi feito, realizar uma nova checagem para garantir que nenhum ponto crítico foi deixado de lado”, afirma o médico Victor Grabois, coordenador do Centro Colaborador para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente (Proqualis), da Fiocruz. Grabois foi o convidado do IBSP ao Vivo da última quarta-feira (27/02), para falar sobre como vencer as barreiras de implantação do checklist de cirurgia segura. O vídeo completo está logo abaixo e também disponível na página do IBSP no Facebook (é necessário fazer login).
Em 2009, a OMS elaborou um modelo de checklist para ser usado em cirurgias, após lançar um desafio global para reduzir riscos cirúrgicos e coletar a experiência de um painel internacional de especialistas. O checklist de cirurgia segura da OMS tem três momentos: Entrada (antes da indução anestésica), Time Out ou Pausa (antes da incisão) e Saída (antes de o paciente deixar o centro cirúrgico). Seus elementos podem ser adequados às necessidades e realidade de cada instituição. A OMS recomenda que o checklist não seja muito extenso, o que torna mais difícil sua realização e que perguntas não sejam eliminadas (se há dificuldade em passar por algum dos critérios, é recomendável investigar o porquê e resolvê-lo).
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Na primeira etapa, da entrada, o objetivo é confirmar a identidade do paciente e as informações necessárias para a realização do procedimento correto no sítio cirúrgico correto, além de revisar particularidades do paciente, como alergias, dificuldades respiratórias, risco de aspiração e de perdas sanguíneas significativas. Inclui-se uma verificação dos equipamentos e das providências planejadas para casos de emergências.
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Na segunda etapa, do time-out, mais uma vez se confirma as informações básicas do paciente e do procedimento e é a vez de conferir se a esterilização foi feita, assim como a realização da antibioticoterapia profilática e se os exames essenciais do pacientes estão disponíveis para consulta.
Na terceira etapa, antes da saída do paciente do centro cirúrgico, é a hora de confirmar que a contagem de agulhas, instrumentos e esponjas cirúrgicas confere com a inicial, revisar os cuidados que o paciente precisará no pós-operatório e relatar problemas com equipamentos que precisem ser revisados.
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Em 2017, o ProQualis, traduziu a versão original de checklist de cirurgia segura e o transformou em um aplicativo, disponível para download. A seguir, um resumo de pontos importantes que devem ser contemplados em qualquer checklist e planejados pelos serviços de saúde.
Cirurgia Segura: 10 pontos que merecem atenção
- 1. Certificar-se de que é o paciente certo e o sítio cirúrgico correto
- 2. Proteger o paciente da dor, minimizando os riscos da anestesia
- 3. Ter capacidade para reconhecer dificuldades respiratórias e um plano de ação pronto
- 4. Preparar-se para identificar e agir em caso de grande perda sanguínea
- 5. Evitar induzir reações alérgicas ou à medicação que tragam riscos ao paciente
- 6. Usar métodos para minimizar o risco de infecções de sítio cirúrgico
- 7. Evitar a retenção de compressas ou instrumentos em feridas cirúrgicas
- 8. Identificar de maneira precisa todos os espécimes cirúrgicos
- 9. Comunicar e trocar informações críticas sobre o paciente
- 10. Cabe a hospitais e sistemas públicos de saúde estabelecer vigilância de rotina de resultados, volumes e capacidade cirúrgica
Fonte: The Second Global Patient Safety Challenge: Safe Surgery Saves Lives / OMS
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Cirurgia segura
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