O avanço tecnológico é notável em todos os setores da economia e não se pode negar que, na saúde, muito do desenvolvimento se fez possível devido à inovação. Porém prezar pela segurança do paciente deve ser prioridade quando se fala em incorporação de novas tecnologias. Quais são as evidências de que envolver, nos processos de saúde, uma nova ferramenta ajuda a reduzir os eventos adversos mantendo os pacientes seguros?
A fim de compreender melhor esse percurso inevitável, um estudo (1) realizado no Reino Unido e publicado pelo Health Informatics Journal enfatiza o ritmo acelerado com que as inovações chegam aos serviços de saúde e, justamente por isso, reforça que essas tecnologias devem ser analisadas criteriosamente com o intuito de mitigar os riscos. Não se pode permitir que a ansiedade pela utilização de uma inovação supere a avaliação correta sobre o impacto dela no desfecho dos pacientes.
Falando em desfechos, uma revisão sistemática (2) realizada por pesquisadores dos Estados Unidos buscou avaliar os efeitos das tecnologias da informação em saúde na segurança dos pacientes. Mesmo considerando que a literatura carece de novas pesquisas dentro dessa temática, aponta que 69 estudos foram checados e: 36% encontraram benefícios da TI na segurança dos pacientes da atenção primária; 62% apresentaram resultados inconclusivos e apenas 1% apontou efeito negativo.
Já que eliminar erros de medicamentos é prioridade global, a prescrição eletrônica foi uma das tecnologias que tiveram seu impacto na segurança analisado. O estudo What is the impact of introducing inpatient electronic prescribing on prescribing errors? A naturalistic stepped wedge study in an English teaching hospital (3), publicado no Health Informatics Journal no primeiro semestre de 2019, conclui que a melhoria na segurança existiu, visto que erros de dosagem ou pedidos ilegíveis ou incompletos foram menos frequentes no formato eletrônico.
Porém, ao mesmo tempo, duplicidades, omissões e formulações incorretas foram mais comuns no formato digital. Assim, o estudo não sugere que a tecnologia seja eliminada, mas que já que a segurança do paciente foi medida, devem ser feitas ações para reduzir o lado negativo e, posteriormente, novos estudos para reavaliar a inserção tecnológica.
>> O potencial da telemedicina para melhorar a qualidade do sistema de saúde
Telessaúde e a segurança do paciente – De meados de 2019 para cá, a temática da telessaúde vem ganhando mais repercussão no território brasileiro. Porém, relacionar a telessaúde (que envolve teleconsultas, telediagnóstico, telefarmácia, e-health via Web, triagem telefônica, aconselhamento por telefone, suporte de tele-emergência, gerenciamento de doenças e tele-atendimento) à segurança não tem sido uma tarefa fácil.
Isso ocorre, pois, esses problemas estão muito além das questões relativas às informações (4). O capítulo sobre segurança do paciente e telessaúde do manual Patient Safety and Quality enfatiza, também, que esses problemas ultrapassam a perspectiva de equipamentos defeituosos em utilização, atingindo questionamentos sobre possíveis efeitos adversos relacionados às decisões de gestão de pacientes ocorridas após cenários em que haja problemas com as informações como, por exemplo, atraso ou ausência de dados, além de dificuldades na compreensão. Tanto que, segundo a publicação, os relatórios da Agência de Pesquisa e Qualidade em Saúde dos Estados Unidos não contam com estudos específicos sobre a segurança do paciente em telessaúde.
Paralelamente, apresenta um cenário no qual a utilização da telessaúde pode ajudar a ampliar o cuidado – e consequentemente a segurança – no período após a alta do paciente. Quando esse cidadão é liberado para ir para casa, muitas vezes deixa de seguir as instruções de tratamento (por falhas de comunicação, de compreensão e até por esquecimento), o que interfere negativamente no prognóstico. Com ações de telessaúde, esse paciente pode ser melhor monitorado.
Além disso, países continentais como o Brasil também podem ampliar a segurança dos pacientes que habitam áreas mais remotas e longe dos grandes centros ao adotar práticas de telessaúde; e o monitoramento de pacientes crônicos (como diabéticos, por exemplo) também pode ser intensificado por meio da tecnologia.
Referências:
(1) Digital health and patient safety: Technology is not a magic wand
(2) Effects of health information technology on patient outcomes: a systematic review
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