A saúde mental dos profissionais de saúde está abalada, principalmente daqueles que atuam nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e, portanto, lidam de forma ainda mais próxima com as centenas de casos graves de COVID-19 que passam rotineiramente pelos hospitais.
Avaliar o que há disponível na literatura científica para entender como Burnout – síndrome de esgotamento que desencadeia um estresse crônico no local de trabalho – e outras sensações como depressão e ansiedade se manifestam, é caminho chave para evitar o esgotamento real desses trabalhadores. Até porque o Burnout tem sido associado a maiores taxas de erros no ambiente hospitalar.
Há uma discussão sobre a associação entre esses três problemas de saúde mental, até porque algumas publicações sugerem uma correlação de moderada a alta entre exaustão emocional e depressão, mas são poucos os estudos de qualidade, que utilizam métodos estatísticos, que fazem essas análises de forma aprofundada.
Assim, um estudo (1) publicado no JAMA Network buscou diferenciar, de forma empírica, depressão, ansiedade e Burnout em profissionais de saúde atuantes nas UTIs brasileiras.
Para a análise, foram utilizados dados de um ensaio clínico randomizado coletados em 36 UTIs de hospitais brasileiros, públicos e privados, sem fins lucrativos, antes da pandemia de COVID-19. Participaram da amostra 358 técnicos de enfermagem, 159 enfermeiros, 102 fisioterapeutas e 96 médicos que atuavam em média 40 horas por semana em uma UTI. A maioria (72,7%) eram mulheres e a idade média dos participantes era de 34,8 anos.
Esses profissionais responderam a questionários que geraram pontuações que, quanto mais altas, mais direcionavam à percepção de problemas de saúde mental. Como parâmetros, foram utilizados o Maslach Burnout Inventory (MBI), que é um dos principais instrumentos mundiais para diagnóstico de Burnout; e a Escala Hospitalar de Depressão e Ansiedade (HADS), escala de rastreio muito utilizada nos ambientes de saúde.
O primeiro passo envolveu análises fatoriais confirmatórias que mostraram, em todas as combinações possíveis, ser mais assertivo separar Burnout de depressão e ansiedade. Posteriormente, foram desenvolvidas análises exploratórias que consideraram três grupos diferentes. O primeiro combinou as escalas de ansiedade e depressão obtidas pela classificação HADS; o segundo envolveu as pontuações de realização pessoal do MBI; e o terceiro combinou os itens de exaustão emocional e despersonalização do MBI.
Após essas análises, o estudo indica que Burnout e depressão podem até estar correlacionados, mas existem fatores distintos entre eles. Exaustão emocional e despersonalização, por exemplo, são características do Burnout.
Assim, sugere ser necessário rastrear o esgotamento como uma síndrome de estresse relacionada ao trabalho, e depressão e ansiedade como síndromes clínicas. Essa distinção se faz necessária para que todos sejam corretamente diagnosticados e recebam o tratamento adequado. É importante entender essa diferenciação, pois pode soar menos estigmatizante classificar o sofrimento de um profissional de saúde como Burnout, porém essa classificação, se equivocada, impacta negativamente no prognóstico.
Nesse mesmo caminho, outro estudo (2), dessa vez uma revisão sistemática publicada no início de 2019, também avalia a relação entre Burnout, depressão e ansiedade. Apesar de os resultados sugerirem uma associação significativa entre os pontos, a conclusão dos pesquisadores também foi a de que não há uma sobreposição conclusiva. Isso significa que Burnout, depressão e ansiedade devem ser observados como fatores diferentes e robustos.
Referências:
(1) Association of Burnout With Depression and Anxiety in Critical Care Clinicians in Brazil
(2) The Relationship Between Burnout, Depression, and Anxiety: A Systematic Review and Meta-Analysis
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