Em 2017, o Reino Unido investiu na realização de uma ampla pesquisa para compreender mais detalhes sobre a implementação de melhorias nas organizações de saúde. O foco principal era decifrar quais os entraves e os facilitadores para que essas atividades pudessem ser desenvolvidas.
Para isso, acionou cerca de 46 mil médicos clínicos cadastrados no banco de dados do Royal College of General Practitioners e mais de 9 mil gerentes de práticas assistenciais das clínicas locais. Segundo o estudo, os gerentes de práticas assistenciais foram incluídos pois, apesar de serem altamente influentes no desenvolvimento das equipes e essenciais para a compreensão dos processos e dinâmicas organizacionais, têm suas opiniões raramente consideradas.
Ao final do período, 2.377 médicos e 1.424 gerentes de práticas assistenciais retornaram as pesquisas. Os resultados do estudo são interessantes:
- A maioria dos respondentes declarou saber de áreas e serviços que precisavam de melhorias por meio de atividades internas, e não externas, sendo que as ferramentas mais comuns para essa ciência foram a auditoria, a discussão em reuniões práticas, e problemas apontados pelos pacientes.
- 99% dos entrevistados declararam ter planejado ou realizado atividades de melhoria nos 12 meses que antecederam o estudo.
- Foram planejadas e implementadas, em média, seis atividades de melhoria pelos médicos clínicos e sete atividades pelos gerentes de práticas assistenciais.
- As áreas mais comuns a receber melhorias foram: prescrição, acesso a consultas, gerenciamento de doenças crônicas, colaboração com outras práticas, cuidados paliativos e promoção da saúde:
- 86% dos médicos clínicos e 83% dos gerentes de práticas assistenciais disseram estar envolvidos em projetos com foco na melhoria das prescrições.
- 73% dos médicos clínicos e 81% dos gerentes de práticas assistenciais disseram estar envolvidos em projetos para melhoria do acesso.
- 72% dos médicos clínicos e 73% dos gerentes de práticas assistenciais disseram estar envolvidos em projetos para melhor gestão de doenças crônicas.
Para a análise sobre quais pontos de facilidade foram encontrados durante a implementação das atividades de melhoria, os participantes classificaram 12 itens entre muito útil, bastante útil ou não útil:
- Trabalhar bem em equipe
- Ter boa liderança clínica
- A equipe clínica ter habilidades necessárias para avaliar a qualidade do serviço
- Haver monitoramento de rotina dos cuidados e serviços prestados
- Equipe não clínica ter habilidades necessárias para avaliar a qualidade do serviço
- Equipe clínica bem treinada em como melhorar os cuidados e serviços
- Equipe não clínica bem treinada em como melhorar os cuidados e serviços
- Haver tempo dedicado ao planejamento e implementação de melhorias no atendimento e nos serviços
- Ter ampla gama de informações disponíveis para avaliação dos serviços
- Ter grupo ativo de pacientes participantes
- Ter apoio financeiro de organizações externas
- Ter outros tipos de suporte de organizações externas
Os resultados mostram alinhamento das opiniões entre médicos e gerentes de práticas assistenciais, sendo que a maioria dos tópicos foi classificada como útil. Mais de 90% dos respondentes consideraram como úteis: trabalhar bem em equipe; ter boa liderança clínica; ter uma equipe clínica com habilidades necessárias para avaliar a qualidade do serviço; e monitoramento de rotina dos cuidados e serviços. Paralelamente, suporte e apoio financeiro externos foram os dois facilitadores menos relatados como eficazes.
Já quando questionados sobre os entraves, os respondentes classificaram 11 itens:
- Alto nível de demanda do paciente
- Muitas demandas externas
- Escassez de corpo clínico
- Escassez de trabalhadores não clínicos
- Equipes sem a combinação certa de habilidades para planejar ou gerenciar mudanças
- Falta de dados ou tipos de dados insuficientes
- Falta de habilidade para gerenciar e analisar dados
- Nem todos os médicos clínicos estão empenhados em melhorar os cuidados e serviços
- Nem todos os profissionais não clínicos estão empenhados em melhorar os cuidados e serviços
- Problemas de comunicação
- Falta de interesse em questões de melhoria
Os entraves mais relatados e apontados como dificultadores da implementação de melhorias foram alto nível de demanda do paciente e muitas demandas externas, sendo que mais de 90% dos entrevistados relataram identificar essas barreiras. Escassez de corpo clínico foi a terceira barreira mais relatada, tendo sido destacada por 84% dos médicos e 77% dos gerentes de práticas assistenciais.
Quanto às ferramentas e treinamento para uso delas, 73% dos médicos relataram receber treinamento em auditoria, porém apenas 42% dos gerentes de práticas assistenciais que responderam afirmaram ter participado de treinamentos desse tipo. Para outras ferramentas como PDSA, mapeamento de processos e execução de gráficos, os relatos de treinamento diminuíram consideravelmente. Além disso, 1/5 dos médicos e 1/4 dos gerentes disseram não ter recebido treinamento para nenhuma ferramenta.
Por fim, o estudo conclui que os profissionais estão interessados na temática de melhoria da qualidade, sendo que a maioria relatou ter planejado ou implementado essas atividades ao longo do último ano.
Aprendizados
Verificar esses itens pode trazer uma clareza para as organizações brasileiras interessadas em avaliar seus ambientes. “Não temos o hábito de fazer este tipo de pesquisa em nossas organizações de saúde no Brasil”, diz Lucas Zambon, diretor científico do IBSP. De acordo com o executivo, utilizar a ideia desta pesquisa como base pode ser útil no mapeamento de forças e fraquezas para projetos de melhoria em hospitais, ambulatórios e demais ambientes que prestam cuidados.
Referências:
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