Na discussão sobre Valor em Saúde ou VBHC (Value Based Healthcare), um dos pontos fundamentais é a avaliação de desfechos na ótica do paciente, bem como de sua experiência. Para isso existem indicadores chamados PROMs (Patient Reported Outcomes, ou Desfechos Relatados pelo Paciente) e PREMs (Patient Reported Experience, ou Experiência Relatada pelo Paciente). Mas será que um relato do paciente de uma boa experiência está associado também a relato de bons desfechos quanto a efetividade clínica e segurança?
Publicada no BMJ Quality & Safety, uma pesquisa (1) traça justamente essa correlação e sugere que, no quesito segurança, uma experiência relatada como positiva pode estar associada a 30% menos probabilidade de o paciente comunicar uma complicação. Há outras associações também positivas em diferentes aspectos.
Como o estudo foi conduzido na Inglaterra, é preciso saber que entre os ingleses a qualidade do atendimento em saúde é segmentada na avaliação de três domínios: segurança do paciente, efetividade clínica e experiência do paciente.
Para a pesquisa foram selecionados pacientes da região de East Midlands que realizaram, entre abril de 2010 e março de 2012, cirurgias de artroplastia de quadril e joelho e hernioplastia inguinal. Participaram, no total, 10.383 pessoas.
Além da coleta de dados sobre informações demográficas e de histórico de saúde, para avaliação dos desfechos (PROMs), todos responderam dois questionários. O primeiro, pré-operatório, que incluía o instrumento de avaliação de atividades e saúde, o EQ-5D. Para as artroplastias também foram incluídos questionários sobre sintomas pré-operatórios (Oxford Hip Score e Oxford Knee Score). O segundo questionário, pós-operatório, avaliava a melhoria das condições clínicas através destes mesmos instrumentos, e checava a ocorrência de complicações como problemas na incisão, dificuldades urinárias, sangramento, alergia ou reações a medicamentos.
Além disso, todos os que participaram também receberam um questionário após seis semanas da cirurgia para avaliação da sua experiência (PREMs). Dessa vez o formulário envolvia 24 itens que podiam ser respondidos em uma escala de zero (experiência ruim) a 10 (experiência boa). Este questionário era composto de oito dimensões, que avaliavam pontos como, por exemplo, a limpeza do ambiente, a comunicação com profissionais e tomada de decisão compartilhada.
Como resultado, a pesquisa constatou que 85% dos pacientes que realizaram uma artroplastia e 88% daqueles que fizeram uma hernioplastia, relataram boa experiência com o procedimento cirúrgico (nota 7 ou maior), sendo que 20% do total apontou uma experiência perfeita. Há ainda um dado interessante: nas cirurgias ortopédicas, a pontuação média geral foi maior nos pacientes entre 61 e 70 anos do que entre os mais jovens.
Ocorreu uma associação positiva significativa entre os resultados dos questionários de experiência e desfechos nos três procedimentos. Uma análise das oito dimensões de experiência do paciente avaliadas mostrou que todas se associaram com a efetividade do procedimento realizado. Em particular essa associação foi mais forte nas dimensões de “comunicação e confiança” com médicos e enfermeiros, o que sugere que este aspecto pode ter papel fundamental para o resultado clínico de uma cirurgia.
Outro ponto importante do estudo relata que 31% dos pacientes que passaram por artroplastia do quadril, 34% dos que fizeram artroplastia do joelho, e 23% daqueles que trataram cirurgicamente a hérnia inguinal relataram ao menos um problema pós-operatório (evento adverso). A associação entre experiência e desfechos de segurança foi negativa, ou seja, quanto melhor a experiência relatada, menor a chance de um relato de evento adverso pelo paciente. Quando pensamos em Segurança do Paciente, este resultado se torna ainda mais relevante.
De acordo com Lucas Zambon, diretor científico do IBSP, estes resultados nos fornecem indícios importantes sobre a associação entre uma boa experiência e resultados positivos para o paciente que passa por determinados procedimentos cirúrgicos.
“Obviamente, do ponto de vista científico, a prova definitiva precisaria vir de um ensaio clínico randomizado, em que os desfechos de pacientes que passassem por um processo mais robusto focado em sua experiência, e principalmente comunicação com a equipe, seriam comparados com um grupo controle que não receberia essa intervenção. Entretanto, entendemos que é difícil colocar um estudo como esse em prática. Dado o potencial efeito benéfico que podemos ter com um trabalho adequado de comunicação com o paciente, e que não há nenhum malefício óbvio nessa abordagem, é absolutamente razoável que coloquemos esforços em nossos hospitais para conseguir desfechos clínicos e uma experiência do paciente positivos”, declara.
Referências:
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