A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia de covid-19 no dia 11 de março de 2020. Desde então, muitos desafios surgiram nos sistemas globais de saúde e os aprendizados após cada etapa precisam ser eternizados, afinal o mundo ainda deverá vivenciar novas pandemias ao longo das próximas décadas.
Um editorial do JAMA Network (1) listou nove lições aprendidas durante a crise e que auxiliam na melhoria da assistência hospitalar. Traremos, abaixo, essas lições tropicalizadas para o nosso cenário brasileiro.
- Estar preparado para aumento inesperado da demanda
Uma das cenas mais tristes que víamos nos noticiários ao redor do mundo era a falta de leitos para atendimento aos contaminados pelo novo coronavírus. No Brasil, que conta com o Sistema Único de Saúde (SUS) e com a rede suplementar, com a corrida para ampliação de leitos e até mesmo a construção de hospitais de campanha, fomos capazes de dar conta do atendimento. Porém, ampliar a estrutura física é algo que pode ser feito de forma mais rápida, mas não basta uma maca, um respirador e medicamentos para prestar o cuidado necessário. É preciso contar com profissionais capacitados para esse atendimento emergencial. E aí sim o desafio foi ampliado.
Todo o mundo sofre com escassez de profissionais de saúde e durante a covid-19 essa necessidade se mostrou ainda mais latente. Alguns hospitais de referência no Brasil uniram esforços para treinar equipes que atuavam nos centros cirúrgicos para o atendimento nas Unidades de Terapia Intensiva. Principalmente, pois muitas cirurgias eletivas foram canceladas a fim de reservar leitos para os casos da infecção.
O que o artigo do JAMA incentiva é que todos os hospitais tenham um plano bastante detalhado para atuação diante de desastres. Esse plano deve considerar quais áreas do hospital podem ser expandidas e em qual ordem essa expansão deve ocorrer; como aumentar a capacidade de atendimento (cancelando procedimentos eletivos, por exemplo); e como aumentar rapidamente a equipe.
- Garantir acesso visual aos pacientes sem necessidade de contato físico
Durante a pandemia, o número de vezes que as equipes de assistência entravam nos quartos para monitorar os pacientes foi reduzido a fim de evitar a propagação do vírus. Para garantir a assistência mesmo com distância física, a possibilidade de ter acesso visual a esses pacientes era importante. Portanto, janelas e portas de vidro se mostraram eficientes pois permitiam a análise visual. Além disso, a tecnologia também pode contribuir com investimento em videomonitoramento, por exemplo.
- Estar sempre com a manutenção do ar-condicionado em dia
O novo coronavírus é um vírus respiratório, altamente transmissível e que exige, das unidades hospitalares, muitos esforços para garantir a qualidade do ar, inclusive em áreas comuns como as salas de espera. Além da manutenção do ar-condicionado, existem alternativas tecnológicas – como filtros de ar e luzes UV – que podem atuar para a diminuição da transmissão da doença.
- Apoiar emocionalmente e psicologicamente os profissionais de saúde
Durante a pandemia, os profissionais de saúde foram bastante pressionados e tiveram de lidar com desgastes emocionais profundos. A alta carga de trabalho, o medo da contaminação e muitas vezes a solidão para evitar transmitir a doença para os familiares exigiram a tomada de ação dos gestores para ofertar apoio psicológico a esses trabalhadores. Isso sem falar no burnout devido ao trabalho contínuo e estressante. Dessa forma, fica de lição a importância de entregar, a esses profissionais, treinamentos dedicados ao gerenciamento do estresse e à resiliência. Ao final da pandemia, as unidades não devem abrir mão dessa assistência, que precisa ser contínua e integrada.
- Manter o uso de máscaras nos hospitais
Dentro do ambiente hospitalar, as máscaras devem permanecer para todos, pois além da covid-19, muitos vírus respiratórios seguem circulando nesses locais. O editorial diz que em Nova Iorque, as taxas de gripe sugerem que a combinação do uso de máscara com distanciamento social reduziu de 5% para 1% o número de consultas em decorrência do vírus influenza.
- Usar a tecnologia para manter o contato entre pacientes e familiares
As videoconferências auxiliaram os pacientes com covid-19 a estarem perto das famílias que não podiam visitá-los na internação. Porém essa distância ocorre mesmo fora da pandemia, já que muitas pessoas têm seus parentes morando em outros locais. Manter esse tipo de comunicação é eficaz e auxilia na humanização do atendimento.
- Diversificar a cadeia de suprimentos
Muitos países sofreram com a carência de suprimentos diversos. No Brasil, faltaram equipamentos de proteção individual, respiradores, oxigênio e até mesmo medicamentos para sedação. Por aqui, uma das lições da pandemia está na diversificação da cadeia de suprimentos e no investimento na indústria brasileira de saúde para garantir que, em novas crises, não soframos com os mesmos problemas.
- Reduzir burocracias e melhorar o monitoramento dos pacientes
Para otimizar o processo, é importante reduzir as burocracias tanto da parte do acesso do paciente quanto da inserção de dados por parte dos profissionais de saúde no sistema. Para isso, é necessário investir em novas tecnologias, prontuários eletrônicos, integração de dados e muitos outros caminhos que facilitam a obtenção de informações de ambas as partes.
- Debater a equidade em saúde
A covid-19 tornou ainda mais visível as desigualdades de saúde em todo o mundo. No Brasil, país continental, essas disparidades se mostraram muito fortes também. Ampliar o acesso para todas as regiões, garantir atendimento de qualidade independentemente de raça, cor, credo, e orientação sexual é indispensável. Ainda nesse contexto, é importante promover ações dentro do ambiente hospitalar contra o preconceito em suas diferentes formas.
Para finalizar, o editorial reforça que reconhecer as lições da pandemia é uma forma de honrar as mais de 5,2 milhões de vidas que foram perdidas nos últimos dois anos no mundo para a covid-19.
Referências:
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