Com hospitais e equipes cada vez mais sobrecarregados, torna-se difícil educar os pacientes para que assumam a liderança
Sistemas de resposta rápida são fundamentais para a segurança do paciente. E prevenir a deterioração clínica dos pacientes após procedimentos cirúrgicos é uma ação com impacto direto na qualidade da assistência, nos desfechos e no grau de satisfação. Entre as estratégias de prevenção está a garantia do atendimento precoce pela identificação de importantes sinais de alerta. Diante desse cenário, qual o nível de contribuição da liderança do paciente em conquistar os melhores cuidados de saúde?
Um artigo qualitativo publicado em meados de junho relatou barreiras e facilitadores à implementação de escalas de alerta lideradas pelos próprios pacientes ao observar unidades cirúrgicas de três hospitais instalados em Londres (Inglaterra) e realizar dezenas de entrevistas etnográficas para explorar o assunto junto aos participantes. As avaliações ocorreram durante parte inicial do programa de melhoria da qualidade intitulado Rescue for Emergency Surgery Patients Observed to Undergo acute Deterioration (RESPOND).
Enfatizando que, por muitas vezes, questionamentos dos pacientes sobre sua própria saúde são ignorados ou desacreditados, o que leva a um certo receio de relatar situações mesmo que potencialmente importantes, o estudo traz evidências sobre a necessidade da educação para que esses pacientes tenham total condição de identificar mudanças significativas em suas condições clínicas. Entre as estratégias, o estudo seleciona o Early 3S (See it Early, Speak up Early and Save lives Early).
Facilitadores e barreiras: liderança do paciente
Entre os facilitadores identificados, destaque para a importância de uma infraestrutura organizacional que envolva uma equipe de cuidados intensivos com condições de atuar junto ao paciente, inclusive do ponto de vista educacional. Isso porque o estudo relatou, por exemplo, barreiras relacionadas à alta rotatividade na equipe, ao aumento da demanda por leitos e à energia limitada para trabalhos de melhoria.
Por mais que haja interesse em desenvolver esses projetos de envolvimento do paciente, o estudo indica uma certa relutância da liderança de enfermagem que acaba voltada a prioridades organizacionais e práticas como avaliações obrigatórias sobre quedas, nutrição e lesões por pressão para redução de danos evitáveis.
Em um dos depoimentos relatados, o entrevistado disse que “isso exige muita mão de obra, pode-se pensar que levará apenas cinco minutos, mas os pacientes têm perguntas diversas e torna-se difícil quando já se está sobrecarregado”. Esse apontamento diz respeito à necessidade de dedicação de tempo para se preparar para educar o paciente e, depois, para transpassar esses conhecimentos um a um. Os profissionais também alertaram que nem sempre seria positivo transferir, para o paciente, a responsabilidade por identificar sinais de deterioração de seu estado clínico.
Passando para questões específicas dos pacientes, outro ponto de atenção despertado durante as entrevistas foi que essa liderança poderia ocorrer apenas entre aqueles com níveis mais altos de educação, o que se tornaria uma prática pouco inclusiva. Até mesmo porque os materiais educativos impressos poderiam frustrar aqueles pacientes com baixos índices de alfabetização. Além disso, no geral, muitos pacientes declararam não ter certeza sobre qual tipo de apontamento pediria uma ligação para o Early 3S, questionando se uma reclamação, ou uma dúvida sobre o cuidado, também poderiam ser feitas por aquele canal.
Infelizmente, nota-se que a autonomia do paciente na escala de sua deterioração mostra-se complexa. Em muitos países – inclusive no Brasil – hospitais estão com equipes sobrecarregadas tentando priorizar ações com impacto direto na assistência, o que coloca a participação desses pacientes na identificação de sua própria deterioração clínica em segundo plano.
Referência
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