Estudo brasileiro busca compreender quais os fatores de risco e como eles podem impactar a segurança do paciente nas unidades de saúde
As equipes de enfermagem têm papel fundamental na construção e solidificação da cultura de segurança das unidades de saúde, principalmente na atenção primária. Elo entre pacientes, médicos e gestores, esses profissionais detêm muito conhecimento sobre a dinâmica e a rotina dos departamentos e, quando observados e avaliados, esses dados são fonte estratégica para melhorias.
Principalmente após as evidências indicando que, no Brasil, os incidentes mais comuns estão associados a erros de diagnósticos e de medicação, sendo que ocorrem prioritariamente em decorrência de falhas na assistência, na gestão e na comunicação e, também, devido a erros administrativos que envolvem prontuários médicos incompletos, trocados ou com informações faltantes e a fatores pessoais e organizacionais tanto interno quanto externos.
Realizado entre 2019 e 2020 no interior do estado de São Paulo, em um município com cerca de 1,2 milhão de habitantes, um estudo quantitativo e transversal entrevistou 148 enfermeiros que responderam a um questionário apontando percepções sobre desempenho pessoal, profissional e organizacional (como, por exemplo, intenção de permanecer no trabalho, qual o nível de satisfação, como eles enxergam a qualidade do cuidado e a frequência de incidentes em suas unidades de atuação).
Eram, ao todo, 28 itens a serem respondidos dentro de cinco dimensões (carga de trabalho, comunicação, liderança, trabalho em equipe e aprendizagem) e os pesquisadores utilizaram a escala Likert para a análise. Para a compreensão sobre a cultura de segurança, as respostas eram pontuadas de acordo com o padrão: de forma alguma (1 ponto), em grau muito limitado (2 pontos), em grau limitado (3 pontos), moderadamente (4 pontos), em grau considerável (5 pontos), em grau significativo (6 pontos) e completamente (7 pontos).
Já para as variáveis de desempenho profissional e satisfação pessoal, a escala Likert continha a seguinte padronização: discordo totalmente (0 ponto), discordo parcialmente (25 pontos), neutro (50 pontos), concordo parcialmente (75 pontos) e concordo totalmente (100 pontos).
Resultados – A enfermagem e a segurança do paciente
Sob a ótica das equipes de enfermagem, o clima de segurança se mostrou positivo, variando – principalmente em decorrência de carga de trabalho, mostrando o desempenho prejudicado devido à carga de trabalho excessivo ou à equipe inadequada, restrições de tempo e expectativas dos profissionais ao trabalhar sob pressão, e liderança, que avaliava se os líderes estavam abertos a sugestões de melhorias e atitudes em relação a regras e procedimentos formais — entre 4,52 e 5,33.
Esse clima de segurança favorável indica que os profissionais da enfermagem percebem interesse genuíno dos gestores dessas unidades de saúde em manter a segurança interna. Porém, mesmo que a nota tenha sido positiva no geral, houve uma diferença significativa: enfermeiros coordenadores atribuíram maior pontuação à comunicação, trabalho em equipe, segurança e sistema de aprendizagem do que os outros profissionais de cargos menos seniores.
De resto, as pontuações médias foram: carga de trabalho (4,52), comunicação (5,33), liderança (5,20), trabalho em equipe (5,08), sistema de segurança (5,12) e aprendizagem (5,10). Além disso, vale a pena ressaltar que as percepções quanto a trabalho em equipe e sistema de segurança e aprendizagem estavam positiva e fortemente correlacionadas à satisfação no trabalho (cuja nota média foi 75,29) e moderadamente correlacionadas à qualidade do cuidado.
Inesperadamente, aqueles enfermeiros que relatavam trabalhar em equipes incompletas ainda assim apresentaram percepções positivas sobre liderança e trabalho em equipe. Até mesmo mais positivas do que aqueles que disseram atuar em equipes completas. Conforme os pesquisadores, uma das razões para esse achado está no fato de que esses trabalhadores conseguem desenvolver um trabalho colaborativo com autonomia, priorizando suas demandas de serviço. Mas é importante enfatizar que equipes incompletas são fator de risco para prejuízos à segurança do paciente.
Outro apontamento relevante dos enfermeiros diz respeito à frequência de incidentes, sendo que falha na comunicação entre profissionais e usuários é um dos pontos mais críticos e surge como motivo de 64,19% dessas ocorrências. Os outros motivos seriam 9,52% por falha na identificação do usuário em procedimentos e exames, 23,29% por falha na identificação em consultas e prontuários e 29,73% por baixa adesão à higienização das mãos.
Além disso, aqueles profissionais com maior tempo de experiência, maior intenção de permanecer no emprego, mais satisfação no trabalho e melhores percepções sobre a qualidade do cuidado e o clima de segurança relatavam menores frequências de incidentes relacionados à assistência à saúde. Esses profissionais também relataram menor frequência de falhas na identificação do usuário.
Com isso, nota-se, também, que ambientes que promovem a cultura de segurança favorecem o envolvimento dos enfermeiros na elaboração e cumprimento de planos de melhorias alinhados ao Programa Nacional de Segurança do Paciente.
Referência
(1) Percepções de enfermeiros sobre o clima de segurança do paciente na Atenção Primária à Saúde
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