A World Stroke Organization (1) afirma que o mundo tem 13,7 milhões de casos de AVC (Acidente Vascular Cerebral) anualmente. Assim, investir em ações de prevenção e no melhor atendimento a esses pacientes atingidos deve ser prioridade para a garantia de uma sociedade mais saudável e economicamente ativa, já que a SBDCV (Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares) diz que 70% das pessoas não retornam ao trabalho após sofrer um AVC (2).
Com números bastante impactantes, como as instituições de saúde podem contribuir para desfechos melhores?
O primeiro passo, de fato, está em considerar a suspeita de AVC como uma emergência otimizando o atendimento. Recomendações do NINDS (National Institute of Neurological Disorders and Stroke) listadas no Primeiro Consenso Brasileiro para Trombólise no Acidente Vascular Cerebral Isquêmico Agudo (3) apontam as melhores janelas para intervenções nestes pacientes:
Tempo recomendável | Ação |
10 minutos | Da admissão à avaliação médica |
25 minutos | Da admissão ao TC de crânio (término) |
45 minutos | Da admissão ao TC de crânio (interpretação) |
60 minutos | Da admissão à infusão do rtPA |
15 minutos | Disponibilidade do neurologista |
2 horas | Disponibilidade do neurocirurgião |
3 horas | Da admissão ao leito monitorizado |
Quando, em 1996, a FDA (Food and Drug Administration) aprovou o rtPA (ativador do plasminogênio tissular recombinante) como trombolítico para casos de AVC isquêmico agudo, essa percepção de emergência tornou-se ainda mais fortalecida. Com duração de poucas horas, a janela terapêutica deve ser sempre priorizada.
Na Noruega, um projeto para melhorar o atendimento e tratamento de indivíduos que sofreram um AVC comprovou que implementar um protocolo revisado adicionando investimentos no treinamento das equipes contribui para reduzir consideravelmente o tempo de porta-agulha (tempo desde a chegada à emergência até o início da administração do trombolítico). Como consequência, melhoria significativa no desfecho dos pacientes.
O estudo (4) realizado no Hospital Universitário de Stavanger – um dos maiores centros de AVC do país que admite cerca de 450 pacientes com AVC isquêmico agudo ao ano – avaliou 650 pacientes tratados com trombolítico e, após a implementação das melhorias, o tempo médio de porta-agulha caiu de 27 minutos para 13 minutos, resultado que permaneceu consistente após 13 meses. Outro resultado positivo da análise reflete uma fração reduzida de pacientes falecidos ou acamados após 90 dias da entrada na unidade.
Entre as alterações no protocolo de tratamento estavam pré-notificação das equipes especializadas em AVC por meio de um alarme dedicado direcionando à trombólise; preparação do paciente ainda durante o transporte; ida direto ao laboratório de tomografia computadorizada; adiamento da coleta de amostras de sangue sempre que a decisão sobre a terapêutica com trombolítico não dependia dos resultados dos exames (como em pacientes que não utilizavam anticoagulantes); exame do paciente e iniciação da dose de bolus de trombolítico endovenoso já no laboratório. Entre os itens que compunham a preparação do paciente durante o transporte estavam medição da pressão arterial, remoção dos adornos e punção do acesso venoso.
Como melhoria na área educacional, foram implementados treinamentos baseados em simulações para aprimoramento das habilidades não técnicas como comunicação, liderança e trabalho em equipe. No projeto, essas simulações envolviam ensino do protocolo de tratamento revisado como facilitador do processo de implementação.
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Atendimento ao idoso – Ao longo dos últimos anos muito se questionou sobre a segurança da rtPA no paciente idoso (acima de 80 anos de idade). Porém estudo (5) recentemente publicado pelo Serviço de Medicina do Centro Hospitalar Tondela-Viseu de Portugal afirma que a idade não deve ser critério de exclusão para a avaliação da rtPA.
A argumentação em cima da temática reforça que há benefícios desta estratégia terapêutica mesmo em pacientes dentro desta faixa etária. No paciente idoso, o prognóstico já é naturalmente desfavorável. Assim, o uso do rtPA permite que alguns desses indivíduos recuperem a autonomia em vez de seguirem para um desfecho de alto grau de dependência ou morte. Para chegar a essa conclusão o estudo analisou 45 pacientes com idade média de 84,4 anos.
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Referências:
(1) World Stroke Organization – Global Stroke Fact Sheet
(2) Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares
(3) Primeiro Consenso Brasileiro para Trombólise no Acidente Vascular Cerebral Isquêmico Agudo
(5) Trombólise Intravenosa no Acidente Vascular Cerebral Isquémico Agudo Depois dos 80 Anos
(5) Manual de rotinas para atenção ao AVC do Ministério da Saúde
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