Pelo menos um erro ocasionado por confusão entre medicamentos com nomes parecidos ocorre a cada mil prescrições dispensadas nos ambulatórios dos Estados Unidos. Esses erros podem levar a danos graves e até mesmo a morte. Mesmo que felizmente a maioria não gere problemas reais, eles precisam ser evitados.
Para isso, existem diferentes estratégias e, entre elas, está o uso de “letra em caixa alta” (do inglês “tall man lettering”), técnica utilizada para diferenciar medicamentos com grafias similares na qual parte do nome recebe destaque (por meio do uso de letras maiúsculas) na hora da escrita. A técnica foi recomendada pela The Joint Commission como meta nacional de segurança do paciente no relatório de 2007. Para exemplificar, podemos considerar a prescrição de vinblastina e vincristina que passam a ser grafadas como vinBLAStina e vinCRIStina.
Porém, como toda abordagem precisa ser medida para avaliação de sua eficácia, um artigo (1) norte-americano avaliou um estudo observacional longitudinal que concluía que a “tall man lettering” foi usada por nove anos em 42 hospitais infantis dos EUA e não apresentou efeito mensurável na redução de erros por confusão de nomes de medicamentos.
A larga escala do estudo é apontada como ponto forte. Porém, entre os pontos fracos são destacadas a falta de informação sobre em que momento cada um desses hospitais adotou a “tall man lettering” e para quais medicamentos utilizou a técnica. Dessa forma, torna-se inviável classificar se a falta de melhoria ocorreu pela não eficiência da técnica ou pela não implementação dela.
Outro apontamento diz respeito ao fato de que o estudo considerou apenas erros interceptados ao longo de quatro dias de internação. Assim, um medicamento administrado equivocadamente em dias subsequentes da hospitalização não era computado. O artigo estipula que esses erros não interceptados podem chegar a 20% de todos os erros de medicação hospitalar.
O que embasa uma recomendação?
Conforme comentado, o uso do “tall man lettering” passou a ser recomendado pela The Joint Commission em 2007, apoiado também pela FDA dos Estados Unidos e pelo ISMP. Porém, o estudo aponta que na época não haviam evidências concretas dos benefícios da adoção desta técnica e questiona a necessidade de padrões mais altos de evidência antes da implementação generalizada de determinada ação (até mesmo porque qualquer implementação deste porte gera custos ao sistema).
Na visão dos pesquisadores, estudos mais amplos envolvendo não somente as alas hospitalares, mas também as farmácias, bem como estudos comparativos entre a “tall man lettering” e outras intervenções, são necessários.
Outras recomendações além da “tall man lettering”
O ISMP sugere uma lista de recomendações (2) para evitar a confusão entre medicamentos com nomes parecidos. Algumas delas estão destacadas abaixo:
- Divulgar uma lista de medicamentos com grafias parecidas
- Incentivar o uso da Denominação Comum Brasileira (DCB) para descrição de medicamentos
- Antes de incluir um novo medicamento na padronização do hospital ou de trocar o fornecedor, verificar se existe a possibilidade de confusão de nomes com aqueles medicamentos já em uso na instituição
- Implantar a prescrição eletrônica para melhorar a legibilidade e configurar o sistema para usar letras maiúsculas e em negrito destacando partes diferentes de nomes semelhantes
- Implantar sistema automatizado de verificação por código de barra na dispensação e administração
- Evitar prescrição verbal e o armazenamento de medicamentos com nomes similares em locais próximos
- Educar os pacientes sobre como evitar a troca de medicamentos
Lista de medicamentos com grafia e sons semelhantes segundo a ISMP
A ISMP Brasil oferta uma lista (2) com diversos medicamentos que podem ser confundidos, destacando, inclusive, alguns potencialmente perigosos. Entre eles estão a troca de BUpivacaína por ROpivacaína, de CARBOplatina por CISplatina, e de ALfetanila por FentaNILA. Confira a lista completa AQUI.
Referências:
(2) Nomes de medicamentos com grafia ou som semelhantes: como evitar erros?
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