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Cresce a procura de gestores por médicos hospitalistas no Brasil

Cresce a procura de gestores por médicos hospitalistas no Brasil
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Profissional promove economia de recursos, melhora na qualidade assistencial e na segurança do paciente

 

Com mais de 45 mil profissionais reconhecidos nos Estados Unidos, a medicina hospitalar vem ganhando força também no Brasil. Gestores de instituições de saúde cada vez mais veem no médico hospitalista um aliado crucial para economia de recursos, melhora na qualidade assistencial e na segurança do paciente.

A subespecialidade ainda é recente no País, já que a Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar  (SOBRAMH) foi criada em 2008, mas já existem profissionais interessados em se especializar e cumprir o papel de principal ponte entre equipe médica e gestão. Para isso, é preciso exercitar habilidade em liderar equipes e fazer comanejo clínico de pacientes das mais diversas patologias nas enfermarias. Em entrevista ao IBSP, André Wajner, diretor científico da SOBRAMH, aponta quais os principais desafios e as vantagens em desenvolver a medicina hospitalar nas instituições.

IBSP – Como trabalha um médico hospitalista?
André Wajner – O médico hospitalista é um clínico, que fez sua residência em clínica médica na maioria das vezes e atende pacientes hospitalizados em enfermarias. Todo paciente que não é exclusivamente cirúrgico, que tem uma doença clínica, que é internando da emergência para a enfermaria, ou sai da UTI e vai para a enfermaria, é o paciente que o médico hospitalista atende.

IBSP – Como surgiu esse o conceito dessa especialidade?
André – A medicina hospitalar surgiu em 1996, nos Estados Unidos. Hoje, há mais de 45 mil profissionais hospitalistas nos EUA, e chega a estar entre as duas maiores especialidades no país. E ela veio para o Brasil em 2007, quando foi fundada a Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar.

IBSP – Qual a importância desse profissional no contexto hospitalar?
André – O que vem crescendo muito com isso é o comanejo clínico-cirúrgico. São pacientes que internam para as equipes cirúrgicas (ortopedia, neurocirurgia, cirurgia geral, oncológica…) e que tem várias outras comorbidades clínicas, como diabetes, insuficiência renal, pneumonia. Então, esses pacientes todos acabam necessitando de um manejo clínico, que é realizado pelo médico hospitalista. E várias evidências demonstram diminuição do tempo de internação, melhora da qualidade do atendimento, possibilidade de o paciente ser operado o mais rápido possível e, ao mesmo tempo, conseguir ter menos complicações pós-operatórias. É um campo que vem crescendo muito.

IBSP – Por que segurança do paciente está ligada ao médico hospitalista?
André – Como o hospitalista fica muito tempo no hospital, não é aquele médico de passagem que faz a visita de forma rápida uma vez ao dia, ele acaba conhecendo os problemas do hospital, acompanhando os eventos adversos, os quase erros. Por conta disso, ele precisa ter formação em segurança do paciente, em liderança, em gestão de equipe. Nos EUA, esse profissional é um dos maiores expoentes de qualidade e segurança assistencial, e isso está vindo para o Brasil. Ter um médico hospitalista significa pensar em qualidade assistencial e segurança do paciente não como uma função específica de enfermeiros e farmacêuticos, mas também de médicos. Sempre digo que o hospitalista é o braço direito do bom gestor, pois ele tem uma visão muito grande de gestão à beira do leito e aproxima o gestor dos problemas corriqueiros dos pacientes que, geralmente, são os mais importantes.

IBSP – Como é o cenário de medicina hospitalar no Brasil?
André – É muito novo no Brasil, ainda não temos o especialista em medicina hospitalar, não é reconhecido pela AMB. O que acaba acontecendo é que os profissionais que fazem dois anos de clínica médica optam por fazer um terceiro ano opcional para seguir esse modelo. O que é possível perceber, principalmente no Sul do Brasil, são muitas oportunidades e poucos recursos humanos. Mas há, também, um número maior de estudantes interessados. Há um interesse cada vez maior dos gestores por esse médico e cada vez mais profissionais interessados em atuar nesta área, só que há um atraso para formar esse médico devido à demanda hospitalar crescente.

IBSP – Qual o principal desafio da área?
André – O desafio é como conseguir remunerar melhor esse profissional que tem que ser mais qualificado para atender os pacientes hospitalizados. A comunicação com o paciente, a liderança, e várias questões que o profissional não aprende na residência nem na faculdade também são muito importantes. Além disso, hospitalistas estão muito tempo disponíveis no hospital, o que impossibilita o atendimento em consultório, por exemplo. E como remunerar isso? Não dá para ser por uma diária do paciente. Então, é preciso mostrar para o gestor que com o mesmo número de leitos é possível atender muito mais pacientes, porque eles vão ficar menos tempo no hospital, esse paciente vai ser mais bem atendido e reinternar menos também.

IBSP – Quais as características que um profissional precisa ter para ser um hospitalista?
André – Para começar, tem que ser um profissional muito interessado pelo paciente. Um profissional que tenha relação médico-paciente muito adequada. Tem que ser uma pessoa que tenha uma capacidade de comunicação, liderança, que consiga liderar uma equipe multiprofissional, conversar com a família, com a equipe e com os gestores da mesma forma. E tem que ser uma pessoa que esteja muito atualizada tecnicamente, porque ela acaba atendendo pacientes com diferentes problemas clínicos, seja uma pneumonia, um enfisema, uma insuficiência cardíaca.

IBSP – Como o paciente se beneficia com a presença de um médico hospitalista?
André – Pacientes e familiares têm uma satisfação elevada com esse profissional. Não tem mais aquela rotina de ir ao hospital e não conseguir informações do paciente. O médico está disponível para resolver dúvidas, então os familiares geralmente ficam muito satisfeitos. O paciente fica menos tempo internado e há uma diminuição nos custos. Com relação ao paciente cirúrgico, o hospitalista faz o pré-operatório, deixa o paciente mais pronto para a cirurgia. Como não se perde tempo para avaliá-lo antes, o tempo de internação até a cirurgia é menor. O hospitalista faz com que diminua a incidência de complicações pós-operatórias, pois ele maneja as potenciais complicações já no período pré-operatório, ou seja, o tempo pós-alta também é mais rápido por ter menos complicações. Resumidamente: atende mais rápido, é tão ou mais efetivo quanto os outros profissionais, com custo menor para a instituição.

IBSP – Como os médicos especialistas e cirurgiões se beneficiam pela presença do hospitalista?
André – Os cirurgiões conseguem ficar mais no bloco cirúrgico, operando com mais tranquilidade, porque eles têm certeza de que o paciente está sendo bem cuidado na enfermaria. O hospitalista fica com as complicações mais simples, e os casos mais complexos são referenciados para cirurgiões e especialistas. Então, na verdade, os especialistas se sentem mais desafiados.

IBSP – E o corpo de enfermagem?
André – O cenário que se encontra na maioria das enfermarias é o enfermeiro que fica 24 horas na enfermaria e o médico dá uma passada em alguns horários. Isso faz com que todos os problemas que acontecem na maior parte do tempo sejam defrontados pelo enfermeiro. Com a vinda do hospitalista, o enfermeiro tem sempre um médico à disposição, então os problemas médicos, as intercorrências, quem resolve não é mais o enfermeiro, é o médico.  Além disso, os hospitalistas se comunicam melhoram com os enfermeiros, realizam rounds multidisciplinares e trabalham melhor em equipe. Então, tem uma tranquilidade assistencial para o enfermeiro. O médico passa a ser um parceiro da equipe efetivamente.

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