Lidando com o Disclosure
Embora muitos erros não provoquem consequências, outros resultam em sérias lesões ao paciente e à família, que variam desde a geração de incapacidades até a morte. Mas como o profissional de saúde deve se comportar em casos com danos severos? Vergonha, culpa intensa e medo da punição são emoções naturais neste momento, mas podem levar a prejuízos subjetivos e objetivos na condução do caso. “Quem se envolveu em um evento adverso grave pode ter dificuldades imediatas em entender e responder adequadamente à situação. Algumas vezes estes profissionais podem precisar de suporte especializado para lidar com tais sentimentos, e não devem temer procurar tal auxílio. Ainda que a maioria das falhas em saúde seja sistêmica, a percepção da mesma é muitas vezes personalizada”, diz Renato Vieira, Gerente Médico Corporativo no Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.
O momento de comunicar o erro costuma ser bastante delicado, pois, enquanto o profissional de saúde vivencia muitos sentimentos, precisa lidar com uma gama de ocorrências bastante pragmáticas que envolvem o evento. “Espera-se, justamente, que participe das análises de causa raiz e dos planos de ação correspondentes. Também precisa, às vezes, posicionar-se frente às autoridades, sejam elas institucionais ou legais e frente ao próprio conselho profissional. Terá de lidar com mudanças de escala, reuniões de análise, com a curiosidade dos colegas de trabalho, etc. É essencial que possa buscar ajuda e que dialogue sempre com as lideranças da instituição na busca de uma postura ética”, acredita o Dr. Renato.
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Reação de quem sofre o dano
Além de todos os sentimentos de culpa e da condução do caso com a instituição de saúde, o profissional de saúde precisa lidar com o paciente e seus familiares, que podem não reagir da melhor forma ao disclosure.
“O disclosure deve ser conduzido com profundo respeito ao sofrimento causado pelo evento adverso ao paciente. Neste sentido, ele é um ato de acolhimento, reafirmação do vínculo e compromisso de melhoria pela instituição de saúde. A condução da comunicação deve respeitar a delicadeza do momento, e deve estar bastante atenta às manifestações e necessidades do outro”, ressalta o médico do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Mesmo dentro das melhores condições, uma reunião de disclosure pode ser palco de sentimentos hostis, como raiva, revolta e ameaças. É importante entender neste momento que tais emoções são esperadas e normais neste contexto. “Muitas vezes é somente após estas manifestações que é possível reestabelecer o vínculo e construir novamente a confiança. Tais sentimentos não se opõem ao disclosure, mas fazem parte dele”, diz o Dr. Renato.
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