Há casos em que detectar determinadas doenças não traz benefícios para o indivíduo. Isso é conhecido como Overdiagnosis
Impacto em Segurança do Paciente
A máxima de que, quanto antes se detectar uma doença, melhores são as chances do paciente nem sempre deve ser seguida à risca pelo sistema de saúde. Ao menos não quando o objetivo principal é melhorar a qualidade de vida do indivíduo e evitar gasto de recursos desnecessariamente. A grande oferta de variedades de exames e intervenções é uma das responsáveis pelo chamado overdiagnosis. “Tais intervenções têm se tornado mais poderosas, mais frequentes, direcionadas para mais problemas e situações, e realizadas cada vez mais precocemente. Com isso, pessoas saudáveis têm sido prejudicadas”, afirma Dr. Rodrigo Olmos, diretor clínico do Hospital Universitário da USP.
Outro motivo que acaba por estimular profissionais a pedir mais exames do que o necessário é o sistema de remuneração das instituições de saúde, que são compensadas por procedimento feito e não pela qualidade na assistência e resultado global do atendimento. Isso faz com que muitos percam de vista as diretrizes do rastreamento de qualidade.
“O rastreamento de qualidade tem que ter a possibilidade de identificar pessoas com doença grave progressiva precocemente. O segundo pressuposto é que a identificação e o tratamento nessa fase precoce estejam associados à melhora no prognóstico”, explica Olmos. Ou seja, se descobrir a doença em determinado estágio não trouxer melhorias para o paciente, o diagnóstico se torna desnecessário. “O senso comum vai dizer que o diagnóstico precoce é igual a melhor prognóstico, mas nem sempre”, completa o profissional.
Rastreamento x sobrevida
A análise errada dos dados sobre aumento de sobrevida em alguns casos leva à conclusão precipitada sobre a lógica do rastreamento de doenças. “O diagnóstico precoce sempre aumentará a sobrevida, mesmo que o tratamento precoce não modifique a história natural da doença”. Isso significa que, em alguns casos, descobrir a doença antecipadamente vai aumentar o tempo de tratamento, gasto de recursos e intervenções médicas, se comparado a um indivíduo com o mesmo problema, mas que não teve o diagnóstico. No entanto, ambos morrerão com a mesma idade por conta do ciclo natural da doença. Nesse caso, aquele que não teve o diagnóstico precocemente ganhou em qualidade de vida.
“O maior malefício do sobrediagnóstico é que ele detecta doenças que podem regredir espontaneamente, permanecer subclínicos, progredir tão lentamente a ponto de não causar dano ao paciente e causar uma série de danos psicológicos e físicos sem oferecer nenhum benefício em troca”, explica Olmos.
Overdiagnosis ocorrem em:
– Exames de rastreamento: são os famosos check-ups, muitas vezes solicitados periodicamente sem nenhum tipo de sintoma ou pré-disposição que os justifique.
– Exames solicitados por outra indicação (incidentalomas): são tumores encontrados acidentalmente, sem apresentar sintomas. Esse diagnóstico, muitas vezes, dá início a uma cadeia de procedimentos invasivos que são feitos mesmo sem a manifestação de nenhum malefício por conta dos tais tumores.
– Exames desnecessários (pré-operatórios, medicina do trabalho, rotina entre outros): especialistas em overdiagnosis alertam também para que haja cautela nos pedidos de exames pré-operatórios, por exemplo. Muitos deles podem ser feitos desnecessariamente e detectar disfunções que iniciem a cadeia de procedimentos conhecido como overtreatment.
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