NOTÍCIAS

Segurança do Paciente

Burnout do médico dobra risco de incidente para paciente

Burnout do médico dobra risco de incidente para paciente
0
(0)

Ana Helena Rodrigues

Uma pesquisa britânica indica que profissionais da saúde com esgotamento emocional, a chamada Síndrome de burnout, cometem mais erros médicos e que o problema pode se espalhar para outros membros da equipe. Os pesquisadores da Universidade de Manchester analisaram 47 estudos sobre o assunto, feitos com mais de 42 mil profissionis de medicina, e chegaram à conclusão de que médicos com a síndrome de burnout expõe os pacientes ao dobro do risco de sofrer algum incidente na assistência a saúde (continua).

>> INSCRIÇÕES ABERTAS – 2º Seminário Integrado de Farmácia Clínica Faclin-IBSP

Médico cansado durante o atendimento: um dos sinais de burnout, a síndrome de esgotamento profissional (Bigstock)Médico cansado durante o atendimento: um dos sinais de burnout, a síndrome de esgotamento profissional (Bigstock)
Médico cansado durante o atendimento: um dos sinais de burnout, a síndrome de esgotamento profissional (Bigstock)

Os incidentes de segurança do paciente foram definidos pelos pesquisadores como “quaisquer eventos não intencionais ou condições perigosas resultantes do processo de tratamento e não relacionados à doença do paciente, que resultaram ou poderiam ter resultado em riscos à saúde do paciente”. Nessa categoria foram colocados os eventos adversos, efeitos adversos a medicamentos ou outros incidentes terapêuticos e de diagnóstico.

>> Na enfermagem, excesso de trabalho entre profissionais aumenta em 40% o risco de morte de pacientes

A síndrome de burnout é uma condição médica definida pela Classificação Internacional de Doenças (CID) como “estado de exaustão vital”. Sua denominação deriva da expressão inglesa “to burn out”, que significa queimar por completo, consumir-se. Na medicina, foi utilizada pela primeira vez em 1974, pelo psicanalista americano Herbert Freudenberger, para descrever indivíduos que apresentavam estresse emocional crônico, com desgaste emocional e desmotivação como resultado de suas atividades profissionais. O teste desenvolvido em 1981 pela psicóloga Christina Maslach, mostra que o burnout se manifesta em três dimensões básicas: exaustão emocional (o indivíduo se sente cronicamente sobrecarregado e emocionalmente fatigado no local de trabalho), despersonalização ou a sensação de se tornar desconectado do receptor de seus serviços (dos pacientes, no caso de médicos) e falta de realização pessoal (ele sente que seus esforços não têm resultado positivo).

>> “As pessoas falham”, diz enfermeira sobre sobrecarga de trabalho

O novo levantamento mostra que os médicos com burnout são os mais propensos a falhar em aspectos fundamentais do profissionalismo: adesão às diretrizes de tratamento, prescrição de exames e alta, deficiência na capacidade de se comunicar e se colocar no lugar do paciente. Por isso, recebem três vezes mais feedbacks negativos dos pacientes. A falta de conexão com o paciente, causada pelo esgotamento emocional, foi o fator que teve as ligações mais fortes com esses resultados.

>> O que têm em comum os hospitais com problemas de qualidade?

A maior parte dos estudos analisados, 31,9%, tratavam de médicos europeus. Outros 21,3% avaliaram médicos dos Estados Unidos e 19,1% de outras regiões do mundo. Os resultados da associação entre burnout médico e incidentes e baixo profissionalismo não diferiram significativamente entre as diferentes regiões. O estudo listou como os motivos mais comuns para o esgotamento “os enormes esforços gastos com burocracia e papelada, a grande quantidade de tempo gasto no trabalho e a falta de respeito dos administradores e empregadores”. A percepção de que a compensação não era adequada também está na lista. “É menos provável que os médicos  sofram burnout quando desempenham um papel diversificado, ou seja, quando combinam o trabalho clínico com outros tipos de responsabilidades, como gestão, ensino ou pesquisa e quando não estão sobrecarregados com tarefas burocráticas”, disse, em entrevista ao IBSP Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente, a psicóloga Judith Johnson, professora da Universidade de Leeds, no Reino Unido, e uma das autoras do estudo.

>> Higienização das mãos na emergência: por que a adesão no pronto-socorro é tão difícil?

No Brasil, não há dados sobre a taxa de esgotamento emocional entre os médicos. “Estima-se que os valores sejam semelhantes à média mundial, com incidência entre 27% e 40%, variando de região para região”, diz Alexandrina da Silva Meleiro, psiquiatra do Hospital das Clínicas de São Paulo e coordenadora da Comissão de Atenção à Saúde Mental do Médico da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). As causas de burnout entre médicos brasileiros não diferem muito das que afetam profissionais de outros países: é uma mistura das dificuldades da profissão com as condições precárias de trabalho, principalmente na rede pública. “As pessoas têm expectativas de realização que são frustradas pela realidade”, afirma Alexandrina.

>> Cortinas hospitalares abrigam bactérias. Quando é hora de trocá-las?

O papel de combate ao problema no Brasil é dos Conselhos de Medicina, com ações de conscientização que ressaltam a importância de atividades recreativas e de relaxamento fora do trabalho, além de um tempo reservado para o descanso. “O profissional precisa aprender a estabelecer limites e a dizer não. Às vezes, mudar o local de trabalho também ajuda”, explica Alexandrina. Essas medidas são importantes, mas não superam sozinhas o estresse imposto pelas condições de trabalho, que também precisam ser revistas. “Mudanças devem ser feitas para dar aos médicos mais controle sobre sua carga de trabalho e horário de trabalho, e para garantir que eles tenham intervalos de descanso regulares”, afirma Judith, da Universidade de Leeds. A psicóloga ainda ressalta a importância de treinamento psicológico que preparar os médicos para os desafios que irão enfrentar na profissão.

>> Avaliação da cultura de segurança: qual seria a nota do seu hospital?

O estudo britânico conclui que os padrões atualmente considerados como relevantes para a segurança do paciente estão incompletos, pois negligenciam um fator essencial que é o bem-estar do profissional de saúde. Com isso, os pesquisadores atestam que as organizações de saúde têm o dever de melhorar as condições de trabalho dos médicos e estar atentas para evitar que eles sejam acometidos por esgotamento emocional. “Reduzir o burnout é fundamental para garantir um sistema de saúde sustentável”, afirma Judith.

>> Baixa qualidade da saúde mata mais do que dificuldades de acesso

SAIBA MAIS

Panagioti M, Geraghty K, Johnson J, et al. Association Between Physician Burnout and Patient Safety, Professionalism, and Patient Satisfaction. A Systematic Review and Meta-analysis. JAMA Intern Med. 2018;178(10):1317–1330. doi:10.1001/jamainternmed.2018.3713

Linzer M. Clinician Burnout and the Quality of Care. JAMA Intern Med. 2018;178(10):1331–1332. doi:10.1001/jamainternmed.2018.3708

Epstein, Ronald; Privitera Michael R. Doing something about physician burnout. The Lancet (2016), vol 388, i.10057, p2216-2217. DOI: 10.1016/S0140-6736(16)31332-0

#saudemental

 

87

Avalie esse conteúdo

Média da classificação 0 / 5. Número de votos: 0

Outros conteúdos do Acervo de Segurança do Paciente

Tudo
materiais-cientificos-icon-mini Materiais Científicos
noticias-icon Notícias
eventos-icon-2 Eventos

AVISO IMPORTANTE!

A partir do dia 1º de julho, todos os cursos do IBSP farão parte do IBSP Conecta, o primeiro streaming do Brasil dedicado à qualidade e segurança do paciente.

NÃO PERCA ESSA OPORTUNIDADE E CONHEÇA AGORA MESMO O IBSP CONECTA!