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Como construir uma cultura de segurança do paciente em hospitais brasileiros

Como construir uma cultura de segurança do paciente em hospitais brasileiros
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Em hospitais que estão construindo a cultura de segurança, a contribuição de todas as áreas agrega para a implantação das metas internacionais e dos protocolos assistenciais

Com 148 anos de existência, o Hospital da Irmandade de São João Batista de Macaé, em Macaé, no Estado do Rio de Janeiro, ocupa um quarteirão da Praça Veríssimo de Melo. Com um passado de profundas raízes na história do município, hoje conta com 150 leitos, 422 funcionários e 74 médicos de todas as especialidades, realizando uma média de 500 cirurgias mensais.

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Em 2016, o Hospital deu um passo importante no que diz respeito à segurança do paciente, implementando o Núcleo de Segurança do Paciente. “Ainda temos muitas barreiras em relação à adesão a alguns protocolos e a algumas práticas propostas, mas com a criação do Núcleo de Segurança do Paciente no nosso hospital, as equipes se tornaram, além de multi, interdisciplinares”, diz Nathália Piovan, do Núcleo de Segurança do Paciente do Hospital São João Batista de Macaé.

Confira a seguir a entrevista exclusiva ao Portal IBSP.

IBSP – Como é o cenário da segurança do paciente na cidade do interior do Estado do Rio de Janeiro?
Nathália Piovan – Infelizmente, é muito deficiente. Em Macaé, por exemplo, a quantidade de profissionais nos quais tive contato e que pude perceber que ainda desconhecem o tema é alarmante. E, então, na hora de propormos uma medida de segurança do paciente, surge a dúvida: “O que é segurança do paciente?”. Além disso, a oferta de cursos na área é reduzida em vista aos desafios que temos.

IBSP – Como foi a implementação do núcleo de segurança do paciente no Hospital São João Batista?
Nathália Piovan – O Núcleo de Segurança do Paciente do Hospital São João Batista foi instituído em setembro de 2016. Por ser recente, ainda temos muitas barreiras em relação à adesão a alguns protocolos e a algumas práticas propostas. Alguns profissionais enxergam o núcleo como um setor para “gerar mais trabalho”. Quando chego a algum setor com uma prancheta e um papel na mão, ouço logo “lá vem o Núcleo com mais um protocolo!”. Encaro como brincadeira e, nesse mesmo clima, já explico que a adesão a esses protocolos não irão assegurar apenas o paciente, mas o próprio funcionário, além de trazer melhorias e credibilidade para a instituição e para os profissionais envolvidos. Aqui, podemos sempre contar com nossa liderança direta e a diretoria, sendo de grande valia, pois nos ajudam a difundir o conceito e a cultura de segurança em nosso hospital.

IBSP – Quais os principais desafios de implementar as políticas de segurança em um hospital como o Hospital São João Batista de Macaé?
Nathália Piovan – O principal desafio que temos aqui é envolver o colaborador na importância do tema. Para alguns profissionais, é apenas mais um trabalho a ser feito. Por isso, a cada dia temos um empenho maior para melhorar e divulgar os conceitos, além de implementar ações concretas voltadas à segurança do paciente, estimulando os colaboradores e desenvolvendo o trabalho em todos os setores do hospital. O desenvolvimento dos protocolos também foi algo trabalhoso, porém prazeroso.

IBSP – Qual a receptividade por parte dos colaboradores da implantação da cultura da qualidade e segurança do paciente?
Nathália Piovan – Na maioria das vezes positiva, apesar de pequenos problemas para aderir a alguns protocolos. Como já dito anteriormente, é importante sempre explicar ao colaborador qual o objetivo e a importância da segurança do paciente. Em última reunião, por exemplo, quando se fala sobre a não adesão (motivo), foi-nos exposto o medo da punição. Foi, então, que percebemos que esse “medo” inibe os colaboradores de notificarem alguns eventos adversos, gerando a falta de ações de melhoria por parte do núcleo de segurança. Os hospitais precisam conscientizar seus colaboradores (daí novamente a importância do envolvimento da diretoria), incutindo que a cultura do caráter punitivo não é o objetivo, mas apenas o de gerar melhorias e barreiras de segurança para que tal evento não volte a acontecer. Sem contar que um evento adverso pode trazer prejuízos financeiros, jurídicos e até mesmo à imagem da instituição.

IBSP – Qual a importância de ter uma área dedicada à qualidade? Quais as principais atribuições atuais de vocês e quais os desafios?
Nathália Piovan – A área de qualidade e segurança do paciente é primordial no âmbito hospitalar, pois nos permite promover um ambiente mais seguro seja para os pacientes, seja para os colaboradores, além de padronizar e implantar procedimentos. Hoje, nosso cenário é implantar as seis metas internacionais de segurança, que serão trabalhadas bimestralmente. Especificamente nos meses de agosto e setembro de 2017, estaremos trabalhando com a segurança na identificação do paciente. Anteriormente, foi realizada a implantação da cirurgia segura, prevenção de lesão por pressão e queda, a qual é feita auditoria mensalmente para monitorização dos indicadores. Os desafios são sempre a difícil adesão aos protocolos propostos, mas, sempre como nosso apoio e explicação, evidenciando sempre a importância e a melhoria que nos trará, a adesão acontece de forma satisfatória.

IBSP – O que considera importante na gestão de um hospital para prestar um cuidado mais centrado na qualidade do atendimento ao paciente?
Nathália Piovan – O paciente deve ser visto como um cliente! A gestão deve ter como prioridade garantir a segurança do paciente. Para isso, deve-se reduzir os eventos adversos através do Núcleo de Segurança do Paciente, que implementa os protocolos e dissemina a informação entre os demais. É importante a gestão ativa, pois assegura que esses protocolos estão, de fato, sendo seguidos. Outro ponto importante é investir em treinamentos e cursos de capacitação nessa área.

IBSP – O engajamento da liderança é fundamental para que a segurança do paciente se torne uma realidade aplicada no dia a dia nas instituições de saúde?
Nathália Piovan – Absolutamente. A segurança do paciente está relacionada à liderança da instituição. A liderança exerce um papel importantíssimo, que é o de desmistificar e derrubar todos os obstáculos das mudanças que estão acontecendo e que irão acontecer. A estratégia deve ser sempre priorizar a segurança do paciente. A liderança deve dar o exemplo no cumprimento das ações e no envolvimento e na busca do comprometimento da equipe.

IBSP – O que tem dado certo em termos de segurança do paciente? Há algum projeto, ação que vocês têm colocado em prática?
Nathália Piovan – Com a criação do Núcleo de Segurança do Paciente no nosso hospital, as equipes se tornaram, além de multi, interdisciplinares. Isso está sendo um ponto pra lá de positivo, pois, de uma forma ou de outra, todos contribuem, aprendem e agregam valores que antes não existiam. A implantação dos protocolos nos deu uma visão ampla de fatos que já conhecíamos, mas que não eram totalmente considerados, auxiliando-nos na quebra de paradigmas, dignos de uma instituição centenária. Outro ponto positivo foi o envolvimento dos familiares dos pacientes nas ações que estão sendo implantadas. Consideramos também o registro estatístico das ocorrências como forma de gerenciamento e melhoria contínua dos processos, buscando evitar a reincidência de fatos que afetem negativamente a segurança do paciente.

IBSP – E como disseminar a cultura de segurança do paciente?
Nathália Piovan –A gerência de enfermagem, a direção e a administração nos tem dado muito apoio, e é assim que a cultura de segurança vai se disseminando. Ainda temos muito pela frente, mas com o envolvimento de todos chegaremos ao grande objetivo que é assegurar nosso paciente. Atualmente, nosso foco é o de implantar e implementar 100% das seis metas internacionais de segurança. Em seguida, temos alguns projetos que incluirão estudos científicos e muitas pesquisas.

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