Crise de saúde global prejudicou a segurança do paciente; é preciso preparar os sistemas para novas pandemias que surgirão
Passado o período turbulento da pandemia de covid-19, quando todos os esforços estavam voltados a proteger a população em uma infraestrutura de saúde global já fragilizada, novos estudos estão sendo desenvolvidos, entre eles alguns para compreender quais os impactos do novo coronavírus e de toda a situação de calamidade pública por ele gerado na segurança do paciente. Porém, dificuldades existem para essa análise, até mesmo porque os relatórios de segurança deixaram de ser prioridade durante as fases mais críticas, então os registros e dados sobre falhas e erros acabaram bastante comprometidos.
O caminho, então, foi contar com a visão de quem estava na linha de frente. Assim, pesquisadores norte-americanos entrevistaram, virtualmente, cerca de 80 profissionais de saúde de 16 hospitais dos Estados Unidos que tiveram forte atuação em departamentos de emergência, nas unidades de terapia intensiva e nas alas de internação durante a fase mais crítica da crise global. As perguntas, prioritariamente direcionadas a compreender detalhes sobre as experiências desses trabalhadores, auxiliaram o estudo que integrou um ensaio clínico randomizado mais abrangente.
Os apontamentos rondavam dois temas principais: comprometimento do acesso à assistência à saúde e prejuízos diretos na qualidade dessa assistência. Tudo isso levou a atrasos diagnósticos e busca tardia por atendimento. Entre os impactos diretos aos profissionais e ao sistema, estão escassez de equipamentos, restrições de espaço, e alteração no padrão de atendimento para gerenciar todos esses desafios. Tudo isso, obviamente, impactou a segurança do paciente (com mais quedas, infecções e erros na administração medicamentosa) e foram esses os impactos discutidos na pesquisa.
Percepções dos impactos da pandemia na segurança do paciente
A migração da consulta presencial para a virtual dificultou o acesso a alguns grupos populacionais, gerando atraso no diagnóstico e no controle de doenças crônicas. Quando a situação se estabilizou e os pacientes puderam reingressar no sistema de saúde, os profissionais notaram o agravamento da condição clínica deles, levando a piores prognósticos.
Com os hospitais lotados e muitos trabalhadores da saúde contaminados e, portanto, afastados, houve grande sobrecarga sobre os que se mantiveram em atividade. Tendo de atender um número elevado de pessoas por turno, aumentou a chance de falhas e, por consequência, o risco de eventos adversos.
Além disso, muitos acabaram realocados para áreas com mais demanda e escassez de trabalhadores, sendo que por não estarem familiarizados com aquelas rotinas (enfermeiros da emergência que passaram a atuar nas unidades de terapia intensiva, por exemplo) também comprometiam a segurança. Durante toda a pandemia, houve, também, escassez de recursos como equipamentos de proteção individual, estrutura física e respiradores.
Os padrões de atendimento, pilar de sustentação da segurança do paciente, também foram modificados. Como exemplo, a pesquisa apontou que antes da pandemia, linhas centrais eram utilizadas apenas nos casos mais graves, porém, durante a crise, para manter acesso venoso rápido e confiável, esse formato passou a ser mais comum. O problema é que ele aumenta as chances de infecção da corrente sanguínea. A necessidade de tomar esse tipo de decisão também impactava o emocional dos profissionais, que se sentiam ainda mais pressionados.
Preparo para pandemias futuras
Importante lembrar que mesmo antes da pandemia, eventos de segurança afetavam até um em cada quatro pacientes hospitalizados nos EUA. Durante crises como essa, o cenário torna-se ainda mais preocupante. Porém, é possível reduzir os riscos.
Considerando que outras pandemias devem surgir, é preciso manter os sistemas de saúde preparados para enfrentá-las sem colocar os pacientes em um risco ainda maior. Para isso, os pesquisadores sugerem uma preparação envolvendo um planejamento onde as múltiplas perspectivas de segurança sejam mantidas a fim de mitigar danos adicionais.
Referência
(1) Patient safety and the COVID-19 pandemic: a qualitative study of perspectives of front-line clinicians
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