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Desmistificando a PrEP – O que profissionais de saúde devem saber sobre o assunto

Desmistificando a PrEP – O que profissionais de saúde devem saber sobre o assunto
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IBSP: Segurança do Paciente - Desmistificando a PrEP – O que profissionais de saúde devem saber sobre o assuntoDesde 2015 a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a profilaxia pré-exposição (PrEP) – utilização de medicamentos antirretrovirais por pessoas HIV negativas com objetivo de evitar que contraiam o vírus – para grupos populacionais com risco substancial, ou seja, quando a incidência é de aproximadamente 3 em cada 100 pessoas por ano (1).

No Brasil, entre 2017 e 2018, o Sistema Único de Saúde (SUS) passou a oferecer a PrEP para os grupos considerados de risco como profissionais de saúde, homossexuais, homens que fazem sexo com homens, pessoas trans e casais sorodiscordantes (quando um dos parceiros é positivo e o outro não). Isso fez, do país, o primeiro da América Latina a adotar a estratégia na rede pública (2).

“Na ocasião o Brasil entrou no mundo mais moderno da prevenção combinada ao HIV. Deixamos de ter um discurso prescritivo baseado no ‘use camisinha’ para investir em uma política que dá, aos indivíduos, autonomia para encontrar a estratégia de prevenção que mais funciona para si mesmo”, pontua Rico Vasconcelos, médico infectologista e pesquisador da Faculdade de Medicina da USP que mantém uma coluna na editoria Viva Bem do portal UOL.

Para nortear a indicação, o Ministério da Saúde publicou o documento Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) de Risco à Infecção pelo HIV, que traz todos os detalhes para a adoção da estratégia (3).

Nesse cenário, os profissionais de saúde também atuam como educadores e facilitadores de acesso e a falta de conhecimento, a discriminação e o preconceito podem surgir como obstáculos. “Precisamos desmontar esses conceitos equivocados para que os profissionais consigam identificar situações de alta vulnerabilidade encaminhando corretamente esse paciente”, diz Vasconcelos.

Na visão do infectologista, existem três mitos principais que precisam ser quebrados sobre a indicação da PrEP no Brasil.

O primeiro deles diz respeito à adesão. “Muitas pessoas acham, por exemplo, que um rapaz jovem não tomará os comprimidos diariamente conforme indicado. Porém, projetos mostraram que quando uma pessoa está interessada e busca esse serviço, ela fez a escolha dela e, assim, seguirá o tratamento adequadamente”, explica.

O estudo Alta e precoce adesão à PrEP entre homens que fazem sexo com homens (HSH) e mulheres trans em risco de infecção ao HIV: o projeto PrEP Brasil (4), que avaliou o uso de PrEP em três centros de referência de prevenção ao HIV no Rio de Janeiro e em São Paulo, comprova que a adesão tem sido bem sucedida. Segundo compartilhado pela publicação, a análise sanguínea do grupo observado mostrou que 78,5% tinham níveis de medicamentos correspondentes a quatro ou mais doses por semana. Apenas 5,9% possuíam níveis que indicavam o uso de menos de 2 doses semanais.

O preconceito também motiva outra objeção e as pessoas se questionam por qual motivo o sistema de saúde deveria desprender parte de seu orçamento à PrEP, sendo que existem tantas outras questões de saúde pública a serem tratadas. “A profilaxia pré-exposição é uma estratégia custo-efetiva que não deve ser compreendida como um ‘gasto de dinheiro’”, pontua Vasconcelos.

Um artigo intitulado O custo-efetividade da PrEP em homens que fazem sexo com homens, mulheres trans e travestis com risco de infecção pelo HIV no Brasil (5), publicado em 2018 pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fundação Oswaldo Cruz, em parceria com pesquisadores norte-americanos, comprovou que, ao adotar a PrEP, os custos médicos relacionados ao HIV diminuem até US$ 8.420, o que leva a estratégia a uma taxa de custo efetividade de US$ 2.530 por vida salva (o estudo considera um custo mensal com comprimidos de tenofovir/entricitabina em torno de US$ 23).

O terceiro mito que precisa ser quebrado, na opinião do especialista, é de que a adesão à PrEP levaria a comportamentos inseguros, expondo o cidadão a outras ISTs como sífilis, gonorreia e hepatite viral. Segundo ele esse cenário não se concretiza. “Ao ofertar a PrEP estamos protegendo o cidadão do HIV e já observamos que a implementação dessa estratégia não aumenta os casos de outras infecções sexualmente transmissíveis. Inclusive, pode ocorrer justamente o oposto. Quando colocamos essa pessoa em uma rotina de PrEP, que envolve consultas e exames, temos inclusive acesso a diagnósticos que não seriam feitos caso a pessoa não estivesse em acompanhamento. Se, por exemplo, entre uma consulta e outra a pessoa pega sífilis, ela tratará mais rápido interrompendo a cadeia de transmissão da doença”, diz.

Com informações tanto para o público geral quanto para profissionais de saúde, o portal www.aids.gov.br/prep traz uma listagem dos serviços que disponibilizam o acompanhamento. “Todos os estados brasileiros já oferecem a PrEP”, comemora Vasconcelos.

Dados atualizados

Em 1988, a Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu o dia 1º de dezembro como o Dia Mundial de Luta contra a AIDS. No Brasil, como forma de mobilizar a sociedade, compartilhar informações e estimular a prevenção não somente do HIV, mas a respeito de outras ISTs diversas, a Lei nº 13.504 de 2017 fez nascer o Dezembro Vermelho.

Os avanços das últimas três décadas foram significativos. Hoje, segundo informações compiladas pela UNAIDS (programa conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS), 38 milhões de pessoas no mundo vivem com HIV e a cada ano são aproximadamente 1,7 milhão de novos casos, uma queda de 40% desde o pico da doença ocorrido em 1998.

Sobre diagnóstico, até 2019 cerca de 81% das pessoas infectadas com HIV tinham ciência de seu estado sorológico positivo, o que nos leva a compreender que ainda há, no mundo, mais de 7 milhões de pessoas sem conhecimento de sua situação.

No âmbito do tratamento, entre 2009 e 2019, mais 6,4 milhões de pessoas no mundo infectadas com HIV passaram a ter acesso à terapia antirretroviral e, assim, 67% dos pacientes com sorologia positiva (aproximadamente 25,4 milhões de pessoas) passaram a ser tratados adequadamente. Desse montante, 59% estavam com carga viral suprimida ou indetectável.

A mortalidade também vem diminuindo. Em 2019, aproximadamente 690 mil pessoas morreram por doenças relacionadas à AIDS no mundo. Em 2010 o cenário era mais devastador tendo levado a óbito cerca de 1,1 milhão de pessoas (6).

Referências:

(1) Recomendações para utilização da PrEP como forma de prevenção do HIV

(2) SUS vai incorporar antirretroviral como prevenção ao HIV

(3) Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) de Risco à Infecção pelo HIV

(4) Alta e precoce adesão à PrEP entre homens que fazem sexo com homens (HSH) e mulheres trans em risco de infecção ao HIV: o projeto PrEP Brasil

(5) O custo-efetividade da PrEP em homens que fazem sexo com homens, mulheres trans e travestis com risco de infecção pelo HIV no Brasil

(6) Estatísticas – UNAIDS

 

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