Os sistemas de saúde no mundo inteiro estão trabalhando para reduzir as falhas em diagnóstico e uma pesquisa (1) recentemente realizada nos Estados Unidos mostra que há uma ligação direta entre erros de interpretação de tomografias e o horário em que essas análises estão sendo realizadas. De acordo com o estudo, 69% dos médicos radiologistas que trabalhavam fora do expediente apresentaram maiores taxas de erros durante a noite. Mesmo considerando que o fluxo de trabalho costuma ser menos intenso a noite do que de dia.
O relatório – que traz uma observação sobre o impacto do trabalho noturno e da fadiga dos trabalhadores na segurança dos laudos – também aponta que quanto mais tarde for, maior a chance de falha na interpretação dos exames.
Para fazer a medição, os responsáveis pelo estudo entenderam que erros diagnósticos clinicamente importantes são discrepâncias de interpretação que afetam os cuidados agudos ou de acompanhamento. Então, foram observadas 10.090 tomografias computadorizadas do corpo interpretadas fora do horário comercial por 32 bolsistas de radiologia. Durante o dia, a taxa de erro foi de 2%. Já à noite, a taxa subiu para 3%. Considerando o período da noite também há diferenças no número de falhas de acordo com o horário. Foram cometidos menos erros entre 18h e 23h59 do que entre 00h e 7h.
Dessa forma, o estudo acende um alerta sobre como a fadiga e o desalinhamento circadiano podem aumentar as chances de erros diagnósticos. Outro documento (2), dessa vez publicado pela Associação Médica Brasileira (AMB), traçou um paralelo entre os plantões médicos, o sono e a ritmicidade biológica. Nesse material, menciona que a espécie humana organiza suas atividades segundo um ciclo de 24 horas e que essa ritmicidade circadiana envolve oscilações de temperatura corporal, frequência cardíaca, pressão sanguínea, respostas celulares à estímulos internos como hormônios, sistema enzimático, eletrólitos, substratos metabólicos e – muito importante – neurotransmissores.
Alinhada à essa percepção, a literatura vem mostrando que o cansaço dos profissionais impacta a precisão dos diagnósticos. No estudo norte-americano há, também, um questionamento sobre aqueles médicos que atuam rotineiramente à noite e, por isso, teriam seu ritmo circadiano mais consolidado para essa atividade no comparativo com aqueles que estão fazendo horas extras e que, portanto, não terão a mesma disposição à noite por estarem cansados da rotina matutina e vespertina.
A pesquisa indica, também, que a dupla leitura é uma estratégia para mitigar erros em radiologia, porém muitos sistemas pressionam os profissionais para que haja entrega de resultados em tempo real, mesmo fora do horário comercial.
Referências:
(2) Os plantões médicos, o sono e a ritmicidade biológica
Avalie esse conteúdo
Média da classificação 0 / 5. Número de votos: 0