Durante a pandemia de COVID-19, todos os países assistiram os pacientes desaparecerem dos atendimentos ambulatoriais. Naturalmente com medo de se contaminar – e até mesmo com instrução dos governos – esses pacientes deixaram de comparecer à consultas e exames, o que passou a despertar preocupação dos especialistas, visto que atrasos no diagnóstico e falta de atendimento e acompanhamento poderiam agravar condições clínicas, gerando um problema denso no futuro.
Porém, enquanto cientistas ao redor do globo batalham para encontrar tratamentos e vacinas capazes de barrar os surtos, as instituições de saúde rapidamente se movimentaram para atender os pacientes contaminados sem deixar de lado os cidadãos com doenças crônicas e condições paralelas ao novo coronavírus. E, então, com algumas mudanças comportamentais e implementações tecnológicas, esses serviços ambulatoriais puderam retomar seus atendimentos com segurança. Um dos caminhos mais profícuos encontrados foi a telessaúde.
Segundo compartilhado (1) pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a China, primeiro país a ser abalado pela pandemia, muito rapidamente solicitou às autoridades de saúde que fortalecessem suas soluções digitais para apoiar as demandas relativas à COVID-19. E então, o setor público se uniu a empresas privadas para criar a infraestrutura necessária e agregar soluções para análise e tratamento de dados em escala a fim de disponibilizar esses serviços remotos.
>> Rádio IBSP – O Potencial da Telemedicina
No Brasil, havia um entrave para a regulamentação da telemedicina, porém, diante de um cenário de crise na saúde, o governo federal autorizou o uso, em caráter emergencial, dessa benfeitoria tecnológica durante a pandemia por meio da Lei nº 13.989 de 15 de abril de 2020 (que dispõe sobre o uso da telemedicina durante a crise causada pelo coronavírus).
Desde então, os serviços de saúde passaram a implementar esse contato remoto a fim de garantir o atendimento aos seus públicos. Um estudo publicado no início de junho no Rio de Janeiro (2) tratou dos desafios e das oportunidades da telessaúde no contexto da COVID-19, considerando que esse avanço tecnológico contribui para a triagem, cuidados e tratamentos remotos, além de auxiliar no monitoramento, na vigilância, na detecção, prevenção e mitigação dos impactos diretos e indiretos da crise nos cuidados de saúde.
Reforçando que o novo coronavírus surgiu como um desafio global, o texto aponta a telessaúde como um recurso fundamental por reduzir a circulação de pessoas dentro dos estabelecimentos, minimizando os riscos de contaminação e disseminação da COVID-19 e, assim, garantindo a segurança tanto dos pacientes quanto dos profissionais.
Entre as aplicações da telessaúde mencionadas pelo estudo estão:
- Telemetria e consultas on-line
- Obtenção de apoio de especialistas
- Suporte a exames de imagem e outros diagnósticos especializados
- Melhoria na comunicação e na educação em saúde
- Combate à pandemia
- Compartilhamento de informação e educação em saúde no país
Mas há barreiras à implementação rápida e extensiva da telessaúde durante a pandemia. O estudo detalha que os especialistas encontraram dificuldades nos requisitos de ativação e licenciamento de pagamentos para fornecedores; em questões relacionadas à negligência médica aplicada à telemedicina; no âmbito da conformidade sobre confidencialidade e segurança de dados; e no estabelecimento de protocolos para gerenciar exames, prescrições e agendamentos. Porém, não menciona dificuldades de adesão da população.
A telessaúde surgiu como um movimento mundial. Mesmo em países que já exerciam esse contato remoto de forma mais habitual, como os Estados Unidos, houve uma movimentação para que os atendimentos eletrônicos suprissem muitas necessidades durante a crise. Assim, o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos também reforçou a importância de ferramentas tecnológicas para a manutenção dos serviços ambulatoriais durante a pandemia (3). A fim de otimizar a telessaúde, o governo federal norte-americano facilitou a implementação desse serviço e ampliou o acesso populacional.
Assim, o sistema de saúde dos EUA passou a utilizar a tecnologia para rastrear pessoas possivelmente infectadas pelo novo coronavírus, encaminhando-as ao melhor atendimento; atender urgências não relacionadas à COVID-19; acessar prestadores tanto de cuidados primários como especialistas; monitorar remotamente condições clínicas de pacientes crônicos; acompanhar os pacientes após a alta hospitalar; prestar atendimento à pacientes internados em hospitais de retaguarda e longa permanência; entre outras atribuições.
Farmácia clínica – O desafio dos serviços ambulatoriais durante a pandemia de COVID-19 também afetou os farmacêuticos que atuam nessa ala das instituições de saúde, já que foi preciso modificar práticas para reduzir ainda mais o contato entre o profissional e os pacientes. Assim como a telessaúde foi uma das alternativas adotadas pelos serviços de medicina para reforçar o distanciamento social sem privar o público do atendimento, a tecnologia também foi aliada das farmácias hospitalares.
É o que menciona um artigo publicado pelo Journal of the American College of Clinical Pharmacy (4) que debate justamente como as equipes adaptaram a prática da farmácia clínica, o que envolve desde a redução do contato direto até acompanhamento de resultados e reestruturação do formato de atendimento ambulatorial.
Além de modificar a prática clínica implementando serviços de telessaúde e forçando um monitoramento e gerenciamento de pacientes com o mínimo de contato, durante a crise gerada pelo novo coronavírus esses profissionais também acabam por expandir suas funções na atenção ambulatorial, já que assumem atividades como o gerenciamento das terapias medicamentosas nas condições crônicas e o fornecimento de testes.
Referências:
(1) COVID-19 and digital health: What can digital health offer for COVID-19?
(3) Healthcare Facilities: Managing Operations During the COVID-19 Pandemic
Avalie esse conteúdo
Média da classificação 0 / 5. Número de votos: 0