Estudo revisa os concentos atuais e reforça a necessidade de aprendizado e experiência
Recentemente, a mídia inglesa publicou o caso de uma criança de 13 anos que faleceu, em Londres, horas após ser entubada. Na ocasião, o paciente tinha sido internado após testar positivo para covid-19 e, a princípio, a causa apontada do óbito foi síndrome do desconforto respiratório. Porém, posteriormente, o médico legista responsável pelo caso declarou que a morte, na verdade, pode ter ocorrido devido a um deslocamento do tubo endotraqueal.
Publicado no Jornal de Pediatria (periódico da Sociedade Brasileira de Pediatria), um artigo (1) revisou os conceitos atuais relativos à entubação traqueal em crianças, reforçando que para a prevenção de incidentes, o conhecimento, aprendizado e a experiência são primordiais. “O procedimento realizado por pediatras inexperientes pode resultar em complicações ameaçadoras”, diz o documento.
A especialização, nesse caso, é importante, pois existem peculiaridades anatômicas no corpo da criança. O segmento cefálico proporcionalmente maior, representando ¼ do corpo ao nascimento, por exemplo, leva à dificuldade em posicionar adequadamente para a entubação. A epiglote mais curta, estreita e angulada, dificulta a visualização. Além disso, a laringe em formato cônico (no adulto o formato é cilíndrico) faz com que a zona de maior estreitamento seja na região subglótica. No adulto, essa zona está na região glótica.
Um estudo transversal brasileiro (2), listou as principais complicações da entubação traqueal em pediatria. Após análise de 147 casos de pacientes entubados com até 15 anos, foram mencionadas as seguintes observações:
- Em 31,3% dos casos foram utilizados tubos traqueais de tamanho inadequado
- Em 14,3% dos casos foram necessárias cinco ou mais tentativas de entubação
- Médicos residentes tinham mais dificuldade para entubação das crianças
- Quanto mais tentativas, maior o número de traumas, hipóxia, bradicardia e piora no escore de Downes após a extubação
- Em 21,8% dos casos houve extubação acidental, que também está relacionada à piora no escore de Downes após a extubação e maior necessidade de reintubação
Portanto, essa publicação também reforça que a maioria das complicações existentes em procedimentos de entubação traqueal em crianças pode ser atribuída à falta de experiência e treinamento.
“As instituições que lidam com população pediátrica precisam se preocupar em avaliar quem são os profissionais, mesmo entre os pediatras, que estão mais aptos a realizar entubação orotraqueal de bebês e crianças”, comenta Lucas Zambon, diretor científico do IBSP. “Em UTIs neonatais e pediátricas, assim como em centro cirúrgicos, há uma tendência de profissionais especializados lidarem com mais frequência com o procedimento, dificultando que a habilidade se perca com o tempo. Contudo, em prontos-socorros, há muitos riscos envolvidos, pois, em geral, é reduto de profissionais mais jovens e inexperientes, e entubação não chega a ser algo tão frequente. Isso exige um investimento em treinamentos simulados periódicos para manter os profissionais habilitados para procedimentos críticos”, completa.
Referências:
(2) Complicações da intubação traqueal em pediatria
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