Estudo dinamarquês explorou diferentes cenários para entender qual o real impacto do envolvimento do paciente na assistência
Organizações internacionais vêm enfatizando a importância do envolvimento do paciente no seu próprio cuidado como forma de elevar a satisfação com o atendimento e até mesmo a segurança. Tanto que a Organização Mundial da Saúde escolheu comemorar o Dia Mundial da Segurança do Paciente em 2023 com esse tema a fim de aumentar a conscientização global sobre o assunto e, também, capacitar as populações para poderem realmente se envolver.
Para entender se ter um paciente engajado e com autonomia sobre sua própria saúde realmente melhora esses indicadores, um estudo realizado na Dinamarca avaliou diferentes graus de envolvimento e suas respectivas taxas de satisfação.
Com uma pesquisa transversal baseada na Internet, 24 mil homens dinamarqueses entre 45 e 70 anos foram selecionados aleatoriamente para responder a uma entrevista. Trinta porcento deles retornaram com respostas, ou seja, 6.756 pacientes. No caso, os pesquisadores optaram pela utilização de vinhetas, modelos que tem sido bastante adotados em estudos científicos e se resumem na elaboração de uma história curta para que os participantes possam comentar.
O cenário apresentado aos selecionados dizia respeito ao rastreio do câncer de próstata por meio do exame de PSA (Antígeno Prostático Específico). Como esse é um exame que pode não trazer resultados tão precisos, como deixar de identificar tumores significativos e identificar aqueles insignificantes, trata-se de um bom modelo para avaliar a importância do protagonismo do paciente.
Os pacientes foram segmentados em cinco grupos, sendo que cada um desses grupos recebeu uma história diferente onde a variação estava, justamente, no envolvimento do paciente e partia de envolvimento zero, ou seja, nenhum protagonismo, até a tomada de decisão compartilhada, ou seja, com participação total. Eles decidiam entre fazer ou não fazer o exame de PSA mesmo diante das possíveis inconsistências do teste e como agir a cada resultado do antígeno (sem indicativo de câncer, com indicativo de câncer tratável e com indicativo de câncer sem opção de tratamento e letal).
Para facilitar a compreensão sobre a dinâmica da pesquisa, podemos destacar três cenários distintos:
- Médico sugere o PSA como exame de rotina e o paciente entra em tratamento para o câncer detectado
- Paciente opta por não realizar o PSA devido ao resultado possivelmente inconsistente e, posteriormente, é diagnosticado com um câncer em estágio avançado
- Paciente tem total protagonismo em formato de decisão compartilhada, opta por não realizar o PSA e, posteriormente, é diagnosticado com um câncer de próstata tratável
Depois de ter acesso à história completa, os participantes tinham de responder, em uma escala de cinco pontos (de muito insatisfeito a muito satisfeito) qual o grau de satisfação com o atendimento ofertado.
Sim, o envolvimento do paciente aumenta a satisfação
Como resultado, após avaliar todos os retornos, os pesquisadores sugeriram mais satisfação dos pacientes naqueles cenários onde havia maior envolvimento, principalmente no comparativo entre nenhum envolvimento e aquele onde havia a tomada de decisão compartilhada.
Ponto interessante é que – como era de se esperar – houve uma satisfação reduzida naqueles cenários em que o profissional de saúde agia contra a efetividade do exame de PSA. Pelo menos em terras brasileiras, é senso comum que a solicitação de exames, na visão dos pacientes, muitas vezes está atrelada a uma percepção aumentada de cuidado.
Com isso, o estudo sugere que reconhecer as necessidades dos pacientes, dar a oportunidade para que eles demonstrem suas opiniões, e transmitir informações de forma clara, incluindo os prós e os contras de cada decisão tomada, é fundamental para o engajamento e os bons resultados que ele pode trazer.
Referência
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