Desde 2015, o objetivo é que as novas gerações de médicos adquiram a cultura da segurança e trabalhem na redução de danos no exercício da medicina
O programa de residência médica em clínica médica da Faculdade de Medicina da USP é referência no País. Este é o terceiro ano que incluem o tema segurança do paciente no programa de recepção dos novos residentes. Apesar de não ser uma iniciativa inédita no mundo, pois isso já ocorria há dez anos nos Estados Unidos, é a primeira vez que se coloca em destaque o tema da segurança do paciente na formação acadêmica.
Para a professora Maria do Patrocínio Tenório Nunes, responsável pela disciplina de Clínica Geral do Departamento Clínica Médica FMUSP, a proposta é acolher, nivelar conhecimentos, habilidades e atitudes, servindo principalmente para integrar os novos médicos, que compartilharão aprendizagem por meio de treinamento em serviço durante dois anos. “Introduzir segurança do paciente na recepção dos residentes surgiu da necessidade de engajar todos nós na redução de danos”, afirma Maria do Patrocínio.
O tema ‘segurança do paciente’ foi incluído depois de análises de pesquisas seriamente conduzidas, incluindo uma tese de doutorado do Dr. Lucas Zambon, de 2014, na qual o diretor científico do IBSP estudou o tema segurança do paciente em terapia intensiva. “Como se sabe, o tema é amplo, fundamental e, infelizmente, ainda pouco falado, discutido e praticado pelos médicos ao longo de sua formação. Por isso, convidamos o Dr. Zambon no primeiro evento em 2015 e, logo, percebemos a intensidade e necessidade de aprendermos mais sobre o assunto”, conta a professora da USP.
Confira a seguir a entrevista com a professora Maria do Patrocínio Tenório Nunes ao Portal IBSP.
IBSP – É uma iniciativa pioneira no Brasil?
Maria do Patrocínio Tenório Nunes – Abordar o assunto segurança do paciente não é pioneiro no Brasil. Algumas instituições o fazem. Talvez pioneiro seja estabelecer um encontro de três dias, com metodologias ativas de ensino, para recepcionar médicos residentes. Os temas das atividades são diferentes, mas todos convergem para a segurança do paciente, desde as oficinas de comunicação, passando pelas simulações de habilidades.
IBSP – Já tem algum desdobramento desta ação? Algum resultado?
Maria do Patrocínio – Fazemos há três anos, mas ainda não sistematizamos o processo de análise formal de impacto. Estudos internacionais mostram redução importante de danos para os pacientes e de ansiedade para os médicos. Penso que vale o conhecimento de que informação é também medida preventiva. Espera-se que esses médicos atuem de modo mais reflexivo.
IBSP – Qual a importância de conscientizar os residentes sobre a cultura de segurança? O que pode mudar lá na frente na atuação deste profissional?
Maria do Patrocínio – Claro que não se pode supor que uma ação isolada seja capaz disso, mas o que pretendemos é que novas gerações de médicos adquiram a cultura da segurança. Penso que subimos o primeiro degrau em direção a essa cultura e que a curto e médio prazo as medidas de segurança sejam naturalmente incluídas na prática profissional, tal qual o é o uso do estetoscópio, do receituário, etc.
IBSP – Você acredita a conscientização do médico no início da carreira sobre as práticas de qualidade e segurança do paciente pode mudar sua postura, fazendo-o colocar o paciente no centro do cuidado?
Maria do Patrocínio – Sim acredito! Desde que não se trate de uma medida isolada. O conceito e prática da segurança no cotidiano das profissões de saúde são fundamentais. Resgatar o cuidado centrado no paciente é ideal de todos os profissionais. Conscientização deve ocorrer ao longo de toda a formação e prática profissional, acompanhada por ações positivas.
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