No Brasil, ao longo de todo o ano são feitas diversas campanhas para estimular a doação de sangue e, no dia 25 de novembro, é comemorado o Dia Nacional do Doador Voluntário de Sangue. Segundo divulgado pelo Ministério da Saúde, cada bolsa de sangue pode salvar até quatro vidas e temos, no nosso país, cerca de 3,3 milhões de pessoas doadoras, o que significa que a cada mil pessoas, 16 doam sangue regularmente. Com 1,6% da população contribuindo, nosso país atende a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) que afirma ser necessário ter entre 1% e 3% da população doando para atender às necessidades do país (1).
Além de garantir que os bancos de sangue estejam sempre abastecidos, é preciso trabalhar pela segurança do paciente que receberá esses hemoderivados. Para isso, existe um processo sempre seguido a risca: todos os litros de sangue coletados na rede pública de saúde brasileira passam por um teste de sorologia para identificação de doenças. Além disso, o Ministério da Saúde confirma que é realizado o Teste NAT. Esse teste reduz a janela imunológica – tempo em que o vírus está presente no doador, mas ainda não pode ser detectado – para HIV, hepatite C e B.
Publicado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Manual Técnico de Hemovigilância (2) traz as normas relacionadas às atividades que envolvem os processos de transfusões sanguíneas, visando reduzir o risco sanitário e aumentar a segurança dos pacientes.
O manual promove conhecimento sobre os incidentes transfusionais, ou seja, relata os principais agravos ocorridos durante ou após a transfusão, sendo que os incidentes que ocorrem até 24h após o procedimento são intitulados “imediatos” e os que ocorrem após esse prazo são chamados de “tardios”.
Confira, abaixo, a lista dos incidentes transfusionais notificáveis de acordo com a Anvisa:
Atividade multidisciplinar
A Hemovigilância envolve diversas categorias profissionais. Segundo a Anvisa, o enfermeiro é o responsável por comunicar o incidente transfusional ao médico que deve solicitar exames complementares, informar os responsáveis da unidade hospitalar em até 24 horas e preencher a Ficha de Notificação e Investigação de Incidentes Transfusionais (FIT). O responsável pela Hemovigilância do hospital deve, então, complementar a FIT e enviá-la à secretaria de saúde. Caso o hospital conte com uma Comissão Hospitalar de Hemoterapia, esse time deve analisar os problemas transfusionais recentes, propondo medidas corretivas e, posteriormente, avaliando a eficiência dessas medidas implementadas.
O manual descreve passo a passo a conduta de cada profissional diante da identificação de um acidente transfusional, seja ele imediato ou tardio.
Falhas e melhorias
Na Espanha, estudo (3) analisou as possibilidades de melhorias na segurança durante a transfusão de sangue utilizando a análise de modos de falhas e efeitos (FMEA – Failure Mode and Effect Analysis). Na ocasião, as falhas mais importantes apontadas estavam relacionadas a transmissão de informações sobre a solicitação de transfusão de sangue; identificação do paciente; identificação da amostra; testes de correspondência cruzada; transfusão de hemocomponentes; conclusão e controle da transfusão; e notificação de reações transfusionais.
Assim, o estudo concluiu que a aplicação da metodologia FMEA, que permite o uso de indicadores para balizar medidas de segurança, pode auxiliar as instituições a identificar vulnerabilidades e fatores que prejudicam a segurança no hospital, além de garantir acesso à análise das causas e das consequências desses erros e possibilitar o desenho de medidas corretivas e estabelecimentos de indicadores para monitorá-las.
Outro estudo (4) abordou justamente a identificação do paciente ao analisar como a tecnologia pode auxiliar no bloqueio do erro humano diante de situações de transfusão de sangue em pacientes errados.
Publicado em 2019, o estudo teve como motivação um erro de identificação ocorrido no Hospital John Hopkins, nos Estados Unidos. Na ocasião, um paciente que acabara de passar por um procedimento cirúrgico recebeu uma unidade de glóbulos vermelhos incompatível que estava, na verdade, destinada a outro paciente internado na mesma instituição.
Como forma de melhoria, foi instituído um processo automatizado e uma equipe multidisciplinar implementou quatro fases de verificação de código de barras para a administração de hemoderivados. O resultado foi uma melhoria considerável na segurança das transfusões de sangue nas salas de cirurgia. Após as mudanças, a conformidade na documentação de identificação do paciente subiu para 96% no período de um ano (antes das implementações, a conformidade era de 86%).
Referências:
(2) Anvisa – Manual Técnico de Hemovigilância
(3) Improving safety in blood transfusion using failure mode and effect analysis
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