Ana Helena Rodrigues
Uma medida simples, sem custos adicionais, poderia evitar a troca de mais da metade dos medicamentos cujos nomes são semelhantes (look-alike-sound-alike, conhecidos pela abreviação LASA). Basta incluir nos pedidos o motivo da indicação do medicamento. A estratégia não é nenhuma novidade – na verdade, é uma recomendação de entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS), e a FDA, a agência do governo americano que regula medicamentos e alimentos. Mas é pouco colocada em prática (1) (2).
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Em um novo levantamento, pesquisadores americanos analisaram a indicação farmacológica de 646 medicamentos separados em 399 pares com nomes e/ou aparências semelhantes, listados pelo Instituto para Práticas Seguras no Uso de Medicamentos (ISMP). Os resultados mostraram que 60% dos pares com tinham indicação farmacológica diferente e outros 21% tinham indicações parcialmente diferentes (3).
“Havia pouca informação quantitativa sobre quantas trocas de drogas LASA poderiam ser prevenidas pelo uso da indicação no pedido”, escrevem os pesquisadores das universidades de Boston e Northwestern, autores da pesquisa. “Nosso estudo mostra que associar indicações a medicamentos LASA pode ajudar a diferenciar a maioria dos medicamentos com nomes semelhantes na versão atual da lista do ISMP. Portanto, a medida pode ser usada para reduzir danos causados por erros em razão do nome do medicamento.”
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Estima-se que problemas na rotulagem correspondam a 33% dos erros de medicação e a 30% das mortes decorrentes deles (4). O problema é estudado desde 1973, quando o farmacêutico americano Benjamin Teplitsky publicou uma lista de medicamentos com nomes semelhantes e alertou para os contratempos causados por caligrafia ilegível no receituário e por prescrição oral, que levavam a erros na administração e dispensação de medicamentos dentro dos hospitais (5).
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Desde então, várias organizações de segurança do paciente e agências reguladoras têm sugerido táticas para identificar e gerenciar os riscos associados a medicamentos com nomes semelhantes. As principais estratégias propostas pelas agências reguladoras internacionais como a americana FDA, a canadense Health Canada e a europeia EMA (European Medicines Agency) são: uso de código de barras para identificação do medicamento, armazenamento separado de medicamentos com nomes semelhantes, inclusão de nomes do princípio ativo além da marca na receita e em rótulos, especificação do objetivo do tratamento na prescrição e verificação do diagnóstico do paciente em relação à indicação de um medicamento antes de dispensar ou administrar o produto.
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Uma das técnicas mais conhecidas e usadas é a Tall Man: escrever parte do nome de um medicamento em letras MAIÚSCULAS para ajudar a distingui-lo de drogas com nome ou pronúncia semelhantes. Por exemplo, os nomes “prednisona” e “prednisolona” são escritos “predniSONA” e “predniSOLONA”, respectivamente. Mas já há indícios de que a medida não é tão eficaz quanto se imaginava (6). “A memória e a percepção humanas são vulneráveis a esse tipo de similaridade”, disse o pesquisador Bruce Lambert ao IBSP – Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente. Lambert é autor no novo levantamento e diretor do Centro de Comunicação e Saúde da Universidade Northwestern, em Chicago, nos Estados Unidos. “As melhores estratégias de prevenção são o uso de códigos de barras para todas as etapas processo e emprego de alertas de indicação em sistemas de pedidos eletrônicos.”
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Apenas a tecnologia não é suficiente para combater o problema, alerta a farmacêutica clínica Marinei Ricieri, da Comissão de Farmácia Hospitalar e Clínica do Conselho Regional de Farmácia do Paraná e da Diretoria da Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar. “Também é preciso oferecer condições de trabalho adequadas para que o profissional não se sobrecarregue e que sua atenção seja minimamente desviada.”
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No Brasil, é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é quem avalia a escolha do nome dos medicamentos pelos fabricantes. No ano passado, foi publicada uma orientação (7) que detalha aspectos relacionados aos nomes estabelecidos pela RDC 59/2014 (8). O documento é uma referência de apoio para melhorar a análise técnica feita pela agência durante a avaliação do nome comercial escolhido pela empresa durante o processo de aprovação do medicamento. Essas publicações atualizaram a lei 6.360/1976 (9) que já determinava que os medicamentos não podem ter nomes, designações, rótulos ou embalagens que induzam ao erro.
SAIBA MAIS
(1) Look-Alike, Sound-Alike Medication Names. WHO Collaborating Centre for Patient Safety Solutions. Patient Safety Solutions, May 2007; volume 1, solution 1.
(2) U.S. Food & Drug Administration. Strategies to Reduce Medication Errors: Working to Improve Medication Safety.
(3) Cheng, Christine M; et al. Using drug knowledgebase information to distinguish between look-alike-sound-alike drugs . Journal of the American Medical Informatics Association, Volume 25, Issue 7, 1 July 2018, Pages 872–884.
(4) Institute of Medicine. Preventing Medication Errors: Quality Chasm Series. Washington, DC: The National Academies Press; 2007.
(5) Teplitsky B. Hazards of sound-alike, look-alike drug names. Calif Med. 1973.
(6) Lambert, Bruce. Does Tall Man lettering prevent drug name confusion errors? Incomplete and conflicting evidence suggest need for definitive study. Lambert BL, et al. BMJ Qual Saf 2016;25:213–217. doi: 10.1136/bmjqs-2015-004929.
(7) Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Santitária. Orientação de Serviço 43/2017
(9) Lei 6.360/1976.
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