O setor saúde vem investindo cada vez mais, e de forma intensa nos últimos anos, para migrar de um modelo de registros pautado em meio físico (papel) para um modelo eletrônico e virtual. Mas quando falamos sobre dados e sua interoperabilidade, as dificuldades tornam-se palpáveis. Pautando importantes debates, os entraves para integrar os dados dos cidadãos atingem o âmbito da segurança do paciente.
Um relatório publicado pela Black Book (1), empresa dos EUA responsável por pesquisas de satisfação criadas para melhorar a prestação de serviços em saúde, aponta que as divergências de classificação, armazenamento, proteção e compartilhamento de dados dos diversos sistemas no país, além de gerar despesas na casa dos bilhões de dólares, podem levar a negligência e a repetição de cuidados.
Além disso, o relatório relatou que quase 20% dos registros dos pacientes nas instituições de saúde estudadas estavam duplicados e ressaltou outro ponto que afeta diretamente a segurança da assistência: registros incompletos ou desatualizados levam os profissionais de saúde a tomar decisões em cima de informações imprecisas.
A publicação, que consultou 1.392 gerentes de TI atuantes no setor de saúde, afirma que muitos dos sistemas não conversam, ou seja, são incapazes de trocar dados de maneira segura por atuarem em arquiteturas desconexas. Contribuindo negativamente com um cenário já complexo, o mercado segue criando formatos, o que torna esse entrave cada dia mais difícil de ser solucionado.
No Brasil, um dos principais desafios está em garantir a interoperabilidade entre os prestadores da saúde. Trabalho (2) de um mestrando em gestão de saúde da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas identificou os principais entraves sob as óticas de médicos assistentes, gestores de unidades de atendimento e gestores de TI. Entre os apontamentos há questões envolvendo múltiplas terminologias, padrões de comunicação, segurança da informação, confidencialidade, integridade de dados, disponibilidade de sistemas, legislação e políticas públicas.
A pesquisa conclui que:
- As informações na área da saúde são muito complexas;
- A arquitetura dos sistemas de informações não está centrada no paciente;
- Falta aproximação do profissional de TI com a área clínica;
- Os requisitos de privacidade e confidencialidade são complexos e muitos ainda não têm definição para a atual necessidade;
- Existem prerrogativas políticas;
- Falta definição dos interesses e fomento para que a interoperabilidade ocorra.
Compactuando com as questões sobre a relação tecnológica entre os prestadores de saúde, outro apontamento da Black Book traz uma consideração relevante sobre como a falta de interoperabilidade interfere diretamente nos atendimentos. Segundo divulgação da empresa (3), 52% dos 2.804 usuários de prontuários eletrônicos entrevistados não utilizaram, no primeiro trimestre de 2020, informações de pacientes de fora de seus sistemas pois os dados dos fornecedores externos não estavam disponibilizados em seus acessos.
Padrão também para os médicos – Com tantas informações a serem preenchidas nos registros eletrônicos, a chamada interoperabilidade também precisa ser abraçada pelo corpo clínico. Para que todos tenham as mesmas interpretações, os médicos devem preencher os dados dos pacientes seguindo um mesmo padrão.
Estudo (4) publicado em 2017 pela Informatics in Medicine Unlocked, reforça que os médicos precisam ser treinados quanto às funcionalidades dos prontuários eletrônicos tanto para que possam extrair as melhores informações quanto para que evitem a inserção de dados equivocados que podem resultar em prejuízos diretos aos pacientes.
Referências:
(3) Interoperability Rules Put Brakes on New IT Investments, Black Book Hospital EHR User Survey
(4) Patients’ safety in the era of EMR/EHR automation
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