A construção de uma cultura de segurança nas instituições de saúde depende do empenho e dedicação de todos os atores envolvidos no cuidado, entre eles, os pacientes. Quando pensamos na segurança medicamentosa também. Um estudo qualitativo conduzido por uma coalizão de especialistas do Reino Unido e dos Estados Unidos avaliou o envolvimento dos pacientes internados com as medicações em um cenário onde a prescrição eletrônica ganha força.
Para a análise, foram selecionadas duas instituições hospitalares britânicas. Em uma delas, a prescrição eletrônica já estava estabelecida desde 2007. Na outra, estava em implementação. Por isso, o estudo foi segmentado em três fases de coleta: coleta de dados na primeira organização e duas coletas de dados na segunda organização, uma antes e uma depois da implementação do prontuário eletrônico.
O foco estava em estudar áreas clínicas com pacientes adultos que tomam medicamentos para doenças crônicas (como diabetes, Parkinson, HIV e doença pulmonar obstrutiva crônica). Além da observação direta de rodadas de administração de medicamentos, foram realizadas entrevistas com profissionais de saúde, pacientes e cuidadores.
Adendo importante: metade dos profissionais de saúde disseram que o fato de estarem sendo observados não influenciou as ações, porém a outra metade afirmou nervosismo e alteração da rotina, inclusive aumentando o tempo de conversa com os pacientes. Esse dado pode ter interferido no resultado, e conforme ressalta o Lucas Zambon, Diretor Científico do IBSP, “devemos lembrar que esse fenômeno é comum em estudos nos quais os profissionais estão sendo observados, uma vez que isso pode induzir comportamentos e atitudes”.
Foram listados, então, facilitadores e barreiras ao envolvimento do paciente. Separamos alguns relevantes:
Fatores do paciente
- O estado de saúde do paciente, que chega muitas vezes à internação com diminuição do nível de consciência, o que dificulta o envolvimento do mesmo com a segurança medicamentosa. Por isso, é preciso compreender qual o melhor momento para tratar desse assunto.
- Condições físicas, como falta de mobilidade para acessar os registros eletrônicos, deficiências (visuais, cognitivas ou de fala), bem como questões psiquiátricas, também impactam o engajamento.
- O nível de conhecimento do paciente sobre sua saúde, bem como a crença de que questionar um profissional possa incomodar, é fator de impacto direto no envolvimento.
Fatores do cuidador
- Muitas vezes, ao chegar ao ambiente hospitalar, o cuidador que até então tinha atitude proativa na medicação, deixa de se envolver. Ao mesmo tempo, quando toma totalmente a frente da situação, podem deixar o paciente de fora do seu próprio cuidado.
- Assim como com os pacientes, o nível de conhecimento e as crenças dos cuidadores também impactam o envolvimento.
Fatores operacionais
- Os pacientes e seus cuidadores parecem ter mais acesso às prescrições em papel do que às eletrônicas. Um dos problemas elencados pelos profissionais de saúde foi que não era possível permitir que os pacientes acessassem seus registros sem supervisão, visto que o login era bloqueado por senha.
Fatores medicamentosos
- Medicações que mudam constantemente tendem a possibilitar menos envolvimento dos pacientes. Por outro lado, medicamentos contínuos (como os para Parkinson) parecem permitir maior engajamento.
Fatores ambientais
- Quando os registros de medicamentos estavam disponíveis à beira leito, as conversas sobre os tratamentos pareciam mais prováveis de serem realizadas. Paralelamente, quando não havia registros em papel ou quando os profissionais de saúde não tinham, em mãos, um equipamento eletrônico para acessar esses registros, muitos não conseguiam responder às perguntas dos pacientes.
Por fim, o estudo identifica que, no ambiente hospitalar, o paciente muitas vezes não está envolvido com suas medicações. Para melhorar esse cenário, é necessário considerar todos os fatores impactantes, inclusive os relacionados ao ambiente, às equipes de saúde e à cultura organizacional.
Referências:
(1) The Role of Hospital Inpatients in Supporting Medication Safety: A Qualitative Study
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