Estudo brasileiro sugere, também, que cada evento evitável aumenta sete dias no tempo de internação
Conhecer os dados e a realidade dos eventos adversos no cenário brasileiro é fundamental para o planejamento de estratégias focadas na segurança do paciente. Em uma coorte retrospectiva (1) foram analisados 368 prontuários de adultos internados em 2015 em um hospital universitário nacional para entender a incidência e a evitabilidade desses eventos.
Foram identificados 266 eventos adversos em 124 pacientes, uma incidência de 33,7%. Desse total, 58,3% foram julgados como evitáveis.
Apesar da maioria (63,2%) dos eventos serem leves, ou seja, que não prolongaram o tempo de internação tampouco causaram danos permanentes aos pacientes, é importante destacar que 16,2% eram graves, levando à perda de funcionalidade quando da alta hospitalar, necessidade de intervenção cirúrgica ou mesmo morte.
Os eventos adversos mais comuns, somando 40,6% dos casos, estavam relacionados a procedimentos, principalmente em decorrência de cirurgias. Na sequência, os eventos mais presentes tinham relação com cuidados gerais como lesão por pressão, flebite e quedas (22,6%); medicamentos (18,8%), infecções relacionadas à assistência à saúde (13,2%); e atraso no diagnóstico (0,8%).
Outro dado relevante está na percepção dos fatores de risco: 86,3% dos pacientes com eventos adversos tinham fatores de risco intrínsecos como hipertensão arterial, diabetes, neoplasias e hipercolesterolemia; e 97,6% tinham fatores de risco extrínsecos como cateter venoso periférico, intubação traqueal, ventilação mecânica, uso de bomba de infusão contínua e presença de sonda vesical.
Aumento no tempo de internação
Os 266 eventos adversos identificados na revisão geraram 701 dias adicionais de internação, uma média de 6,8 dias a mais por evento adverso. Importante observar que dos 155 eventos evitáveis, 54 casos levaram a 377 dias adicionais no tempo de internação dos pacientes. Isso significa que cada evento adverso evitável pode gerar sete dias a mais de internação.
Esse cenário leva a uma sensação de bola de neve, visto que quanto maior o tempo de internação, maior o risco de eventos adversos. O estudo sugere que internações com oito dias ou mais têm 20% mais chances de gerarem eventos adversos. Ou seja, um evento que aumenta o tempo de hospitalização do paciente pode ser fator desencadeante de um novo incidente.
Comparativo com outros países
Muitos estudos listados na literatura trazem taxas bem inferiores da incidência de eventos adversos durante as internações hospitalares. Há publicações, por exemplo, que apontam incidências de 3,7% nos Estados Unidos, 7,5% no Canadá e 10,5% em países da América Latina. Há, inclusive, um estudo brasileiro prévio, conduzido no Rio de Janeiro, sugerindo taxa de 8,6%.
Porém, esses comparativos devem ser cuidadosos. Isso porque muitos estudos consideram apenas eventos adversos graves e há, também, diferenças no método de revisão de prontuários adotado e nos critérios adotados pelos pesquisadores quanto à caracterização dos eventos.
Referências:
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