Todos os anos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 15 milhões de bebês nascem prematuros no mundo (1) e o parto ocorrido antes das 37 semanas de gestação é fator de risco para o desenvolvimento de muitas condições clínicas, entre elas a paralisia cerebral.
Porém, com os avanços da ciência e da medicina, muitas intervenções passaram a ser feitas para minimizar os riscos de complicações do parto prematuro. Desde a década de 1990, estudos apontam o sulfato de magnésio como um promissor agente de proteção neurofetal, visto que sua indicação para prevenção de convulsões eclâmpticas e para tocólise vem evidenciando redução tanto nas taxas de paralisia cerebral dos bebês quanto de leucomalácia periventricular (2).
Porém, estudos observacionais mostram que a administração do sulfato de magnésio nem sempre é realizada diante de situações em que o composto seria indicado.
No Reino Unido, onde a administração do medicamento em partos muito prematuros é apontada como parte essencial dos cuidados na obstetrícia, há uma baixa adesão ao cumprimento da diretriz. Pesquisa publicada no BMJ Open Quality (3) diz que, segundo a Auditoria Nacional Neonatal do Reino Unido, em 2017 nos nascimentos com menos de 30 semanas de gestação, apenas 64% das mulheres elegíveis receberam sulfato de magnésio.
Para reverter esse cenário e garantir melhores prognósticos, foi desenvolvido um kit de melhoria de qualidade PReCePT focado em aumentar a conscientização das equipes da maternidade. Como forma de avaliar a eficiência do kit, o estudo piloto foi realizado em cinco maternidades inglesas aumentando, em dois anos, de 21% para 88% a administração do sulfato de magnésio nos casos em que o medicamento seria indicado.
Após o sucesso do projeto-piloto, o National Health Service (NHS), sistema de saúde do Reino Unido, apostou em uma implementação nacional dessa intervenção, que passou por ajustes e melhorias. Para essa ampliação, um novo ensaio clínico controlado randomizado está observando o potencial desses kits. Para isso, dividiu as implementações em dois grupos, sendo que o grupo de intervenção conta com um suporte aprimorado no comparativo com o aplicado no grupo de controle, ou seja, mais ações fortalecendo a importância da administração do medicamento nas mulheres que se encaixam na indicação.
Em território brasileiro, considerando as recomendações da Sociedade Internacional para o Estudo da Hipertensão na Gravidez quanto ao uso do sulfato de magnésio em gestantes com pré-eclâmpsia, um estudo (4) conduzido em uma maternidade instalada no nordeste do Brasil checou a adesão ao protocolo antes e após a implementação da Lista de Verificação do Parto Seguro, lançada pela OMS (5).
Ao longo de um ano, foram avaliados 720 partos, sendo que a incidência de pré-eclâmpsia foi de 39,9%. Das 287 gestantes que apresentaram a condição, 65,8% tinham sinais ou sintomas graves que necessitavam da administração do sulfato de magnésio, porém em 74,7% delas o medicamento foi subutilizado.
Após a implementação da lista de verificação, o uso do sulfato de magnésio em mulheres com pré-eclâmpsia com características graves aumentou de 19,1% para 34,2%, mostrando que intervenções para melhorar a conformidade com base em lembretes de diagnóstico e tratamento podem ajudar na adesão às melhores práticas.
Referências:
(2) Sulfato de magnésio: um avanço na neuroproteção fetal?
(5) WHO Safe Childbirth Checklist
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