Metodologia PBP: eficiência no treinamento de habilidades não técnicas

24/08/2023

Estudo comparou diferentes métodos de aprendizagem para o ensino de comunicação clínica

Na Irlanda, um ensaio clínico randomizado (1) — clique aqui para baixar — selecionou 90 estudantes de enfermagem e de medicina para participar de um treinamento interdisciplinar que teria duração de três dias. Esses estudantes foram divididos em três grupos para a avaliação de eficácia de um modelo de treinamento seguindo os preceitos do Proficiency-based progression (PBP)*. O foco do treinamento era comunicação clínica, usando a ferramenta ISBAR (Identificação, Situação, Antecedentes, Avaliação, Recomendação) em situações de deterioração clínica de pacientes.

Dessa forma, o primeiro grupo teria apenas o programa nacional de e-learning, o segundo teria o e-learning mais uma simulação padrão e o terceiro grupo participaria do e-learning mais a simulação nos moldes do PBP. Os resultados foram medidos com base em um valor de referência de proficiência previamente definido.

O treinamento consistiu em uma série de telefonemas simulados utilizando quatro casos padronizados. Os materiais do caso incluíam notas do caso, gráficos do escore NEWS e um modelo ISBAR em branco indicando as categorias e o tipo de informação que deveria ser comunicada. Cada cenário apresentava um evento de deterioração do paciente que exigia comunicação telefônica com uso do ISBAR.

Os pesquisadores identificaram, então, que a metodologia PBP — que exige abordagem baseada em evidências — é mais eficaz para ensinar comunicação clínica no contexto do paciente do que o e-learning isoladamente ou quando combinado com simulação padrão. Isso porque, ao final dos três dias, os participantes dos grupos 1 e 2 tiraram proficiência de 6,9% e 13% respectivamente enquanto os alunos do grupo 3 apresentaram proficiência de 60%.

No cenário da segurança do paciente, é essencial entender quais são os melhores métodos de treinamento para habilidades e atitudes que os profissionais precisam desenvolver. Nos cuidados críticos, por exemplo, quando há um paciente com deterioração aguda, a troca de informações entre a equipe deve ser eficiente, clara e concisa para o melhor desfecho.

O diferencial do grupo três, na prática, foi que os alunos realizaram as chamadas telefônicas pontuando-as com base em métricas pré-definidas a fim de determinar se o referencial de proficiência seria alcançado. Ao término de cada ligação, esses resultados foram compartilhados e, quando a nota esperada não era alcançada, a ação se repetia antes de passar para a próxima etapa.

O diferencial desse estudo foi a avaliação do método no treinamento de uma habilidade não-técnica, como a comunicação. Anteriormente, outra pesquisa semelhante focada em habilidades técnicas em cenário cirúrgico, identificou que, quando adotado o método PBP, houve 56% menos erros intraoperatórios e 69% menos erros críticos do que na adoção do treinamento tradicional.

Neste sentido, o Dr. Lucas Zambon, Diretor Científico do IBSP, reflete:
As organizações de saúde precisam se entender como extensões permanentes da formação que os profissionais receberam em suas graduações e pós-graduações. Isso signfica que há necessidade de se profissionalizar a educação para que ocorra um contínuo e adequado desenvolvimento profissional que viabilize a qualidade do cuidado e a segurança do paciente.

* Proficiency-based progression (PBP) é um sistema criado há quase três décadas pelo professor Anthony Gallagher que visa simplificar o treinamento de habilidades buscando um padrão de qualidade.