Conduzido nos Estados Unidos, um estudo selecionou dez hospitais locais para implementar ações que mudariam a cultura organizacional a fim de reduzir a mortalidade por infarto agudo do miocárdio. Focada nos líderes dessas instituições e na forma como eles influenciam suas equipes, a abordagem teve dois anos de duração e ao final desse período conseguiu identificar mudanças positivas significativas em 60% dos hospitais participantes, principalmente no ambiente de aprendizagem.
Intitulada “Liderança Salva Vidas”, a ação apoiava a implementação de estratégias baseadas em evidências para reduzir a mortalidade desses pacientes cardíacos promovendo melhorias na cultura organizacional diretamente atrelada ao desempenho hospitalar.
Na fase inicial do projeto foi criado um think tank – uma espécie de laboratório de ideias – com especialistas em teoria organizacional, economia, gestão de saúde, medicina, saúde pública e serviço social. Esses profissionais estavam focados no desenvolvimento de uma avaliação abrangente do cenário científico, financeiro e regulatório de cada instituição. Em reuniões mensais, esse grupo debateu o escopo do projeto para garantir que todos os aspectos estivessem baseados nas mais recentes e robustas evidências científicas.
Na sequência, o projeto foi testado junto a três grupos de usuários: especialistas em cardiologia participantes de um encontro científico em Washington; médicos e administradores atuantes na área de cuidados cardiovasculares em New England e em New York. Nessa etapa, o objetivo principal era coletar, do usuário final, feedbacks sobre o projeto. Esses testes foram bastante úteis e embasaram mudanças significativas na forma como a intervenção estava sendo traçada inicialmente.
A terceira fase focava em estratégias para conquistar engajamento dos principais líderes no ambiente hospitalar. Primeiramente os CEOs e diretores-executivos das instituições selecionadas foram abordados e participaram de uma reunião junto às equipes do projeto. Na sequência, outra reunião, dessa vez com lideranças indicadas pelo alto escalão e que envolviam executivos, cardiologistas, especialistas em melhoria da qualidade e gerenciamento de risco, foi realizada para explicar os objetivos da intervenção e o investimento que se faria necessário. A partir daí foi possível, de fato, iniciar a implementação.
A intervenção em três etapas
Nos 24 meses de duração do projeto, foram desenvolvidas três etapas que o estudo apontou como essenciais para a intervenção:
1. Reuniões anuais com a participação de quatro importantes membros de cada instituição capazes de representar as lideranças administrativa, médica, de enfermagem e de melhoria da qualidade. Durante os encontros, foram compartilhados conteúdos educacionais e realizadas mesas redondas e apresentações sobre o conceito de cultura organizacional, o progresso obtido ao longo do ano, e atitudes práticas para redução da mortalidade por infarto agudo do miocárdio. Ao final de cada reunião, todos deram feedback avaliativo.
2. Workshops com todos os participantes em cada hospital para desenvolvimento das capacidades de liderança. Os encontros visavam orientar a respeito da intervenção e promover a reflexão pelo compartilhamento de conteúdo sobre como construir uma cultura organizacional eficaz e quais as soluções estratégicas para problemas que podem impactar a mortalidade dos pacientes. Ao longo dos encontros, foram dados feedbacks tanto sobre a implementação da estratégia quanto sobre as taxas de mortalidade por infarto agudo do miocárdio.
3. Plataforma virtual para compartilhamento de experiências e repositório de materiais e referências do programa, protegida por senha, fácil de utilizar e integrada com o e-mail. Nesse ambiente eletrônico foram disponibilizados resumos das mesas redondas, as agendas, e a lista de contato dos participantes. O espaço também foi utilizado para sanar dúvidas, sendo que as perguntas eram respondidas em até 24 horas.
Tópicos importantes
Entre os fatores que o estudo julga terem contribuído para o sucesso da intervenção, estão:
- A participação de um parceiro acadêmico bem avaliado permitiu o tratamento das informações por um ator externo, neutro e confiável;
- O foco principal da intervenção não era a implementação técnica de práticas baseadas em evidência para casos de infarto agudo do miocárdio, mas os aspectos do trabalho e a integração dessas práticas a esforços mais amplos de resolução de problemas estratégicos;
- Workshops e troca de experiências práticas;
- Os participantes puderam dedicar parte de suas horas de trabalho à intervenção;
- O projeto durou dois anos, tempo maior do que a maioria dos outros projetos de melhoria da qualidade e que possibilitou mais reflexão, aprendizado e oportunidades de ajustes.
Entre os desafios encontrados estão:
- Houve dificuldade de trabalhar com indicadores em tempo real;
- Vários hospitais passaram por transformações em grande escala (como trocas de lideranças) que despertaram incertezas durante o projeto;
- Houve, no início, certo questionamento por parte das lideranças quanto aos reais impactos da cultura organizacional no desfecho dos pacientes;
As limitações à implementação da intervenção anotadas foram:
- O custo para implementação de intervenções nesse molde pode ser um empecilho;
- A avaliação não foi projetada para mostrar qual etapa seria a mais eficaz;
- O engajamento foi valorizado, mas o estudo não foi projetado para medi-lo;
- Pode ter ocorrido viés de seleção.
Por fim, o estudo pode auxiliar profissionais de saúde e gestores de unidades hospitalares interessados em promover mudanças organizacionais focadas no melhor desfecho dos pacientes. Mostra quais os pontos fracos e os pontos fortes dessas intervenções para ser possível desviar dos entraves e alcançar boa adesão e eficiência das ações.
Referências:
0
Avalie esse conteúdo
Média da classificação 0 / 5. Número de votos: 0