Muito além do contato – Projeto português amplia segurança do paciente com videochamada

Durante a pandemia de COVID-19, que fez com que muitas unidades hospitalares proibissem as visitas devido à alta taxa de transmissibilidade do novo coronavírus, as videochamadas ganharam força como forma de manter o paciente perto de seus familiares. Porém, em Portugal, um projeto realizado no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (CHULC) levou essa ferramenta digital a outro patamar, permitindo benefícios que ultrapassam o contato.

Com uma estrutura de telemedicina criada para que os profissionais de saúde pudessem trocar informações e conhecimentos sobre a COVID-19, doença que se espalhava em alta velocidade pelo mundo e ainda gerava muitas dúvidas no corpo clínico, o hospital já tinha as ferramentas necessárias para angariar o projeto “Mais Próximo de Ti”, que teve início ainda no começo da crise, em abril.

A ideia, então, ganhou corpo junto a um grupo com dezenas de voluntários que, portando tablets ou smartphones, comparecem diariamente às diferentes áreas do hospital permitindo que todos os hospitalizados – com COVID-19 ou outras doenças – tenham a chance de estar mais perto de seus familiares, mesmo que essa proximidade ocorra virtualmente.

Segundo a enfermeira Susana Ramos, que coordena o Gabinete de Segurança do Paciente do CHULC e encabeça o projeto, mesmo tendo sido criada com o propósito inicial de trazer conforto aos pacientes internados, a ideia cresceu e ganhou inclusive algumas responsabilidades assistenciais.

“Os voluntários, ao fazer as visitas, acabam identificando preocupações e necessidades do paciente, levando essas informações às equipes médicas e de enfermagem”, comenta ao enfatizar que o time responsável pelas videochamadas assume essa ponte inclusive convocando membros da equipe para participarem das ligações e, assim, tranquilizarem os pacientes e seus familiares.

Por muitas vezes, segundo Susana, um problema que não tinha sido identificado na admissão do paciente, passa a ser percebido durante as ligações de vídeo. “Assim, o projeto surge como mais uma forma de cuidado e de ampliação da segurança do paciente”, relata. Um idoso, por exemplo, as vezes deixa de mencionar alguma doença adjacente ou informação de seu histórico de saúde que vem à tona quando o filho ou neto participa da ligação. A enfermeira também enfatiza que, por ser mais profissional e utilizar os equipamentos do próprio hospital para fazer as conexões – em vez de utilizar dispositivos do paciente ou até mesmo dos profissionais de saúde – o projeto “Mais Próximo de Ti” mantém a proteção de dados dos envolvidos.

Outro ponto positivo e que foi sendo aderido à ideia inicial está na utilização dessas chamadas como uma terapêutica. “O médico acaba fazendo uma prescrição dessas ligações com base na situação de cada paciente internado”, diz. No caso, alguns recebem as ligações diariamente, outros algumas vezes por semana. “Existem pacientes mais confusos, outros mais deprimidos, então o contato não é padronizado para todos”, complementa.

O projeto ganhou inclusive repercussão na mídia de Portugal e surge como uma forma de vencer barreiras geográficas, já que com a pandemia de COVID-19, pacientes que tem seus familiares em países como Inglaterra, Alemanha e até mesmo no Brasil ficaram impedidos completamente de ver seus parentes, visto que por muitos meses as fronteiras ficaram fechadas. “Quando começamos, não esperávamos que o projeto ganharia essa proporção. Estamos muito satisfeitos inclusive por ver que tantos profissionais, mesmo diante da alta demanda, encontram espaço em seus dias para o voluntariado. É gratificante”, finaliza Susana.

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