Remuneração adotada nos Estados Unidos gerencia pacientes crônicos e prioriza atenção primária
É correto afirmar que quanto mais dinheiro se investe em saúde melhor será a qualidade da assistência? Nem sempre. O modelo de remuneração vigente no Brasil é um exemplo de sistema que desperdiça recursos sem privilegiar a segurança do paciente. “Temos um sistema altamente fragmentado, em que não se gerencia esses pacientes potencialmente de alto custo para o sistema”, afirma Dr. José Branco, diretor executivo do IBSP.
No nosso sistema, quanto mais procedimentos são feitos, mais as instituições de saúde lucram, mas a quantidade excessiva de exames e intervenções pode trazer mais malefícios do que benefícios para o paciente. E, por consequência, passa a precisar de ainda mais recursos no futuro, onerando ainda mais o sistema.
Nos Estados Unidos o pagamento do sistema de saúde também era feito por serviço prestado, mas hoje isso está mudando. Novos formatos de remuneração estão sendo implementados para monitorar pacientes de maneira global e bonificar as instituições que conseguem preservar a saúde do paciente com menos intervenções invasivas e caras. “Trazer as experiências desses grandes grupos de saúde internacionais é importante para fomentar essa discussão no Brasil”, opina Branco.
A lógica dos sistemas modernos de remuneração é atuar na atenção primária, monitorar doentes crônicos – que tendem a aumentar junto com a guinada da expectativa de vida –, de forma que os pacientes que precisarem usar procedimentos hospitalares tenham acesso a um atendimento de ponta, sem custos exorbitantes, e bem preparado para prestar a devida assistência. Isso torna-se possível quando as instituições não precisarem mais dispender recursos em exames de rastreamento e intervenções desnecessários que hoje são feitos aos montes para pagar as contas.
“É preciso entender que o dinheiro da saúde é limitado. É preciso investir em áreas que oferecem melhor resultado a longo prazo, que é na atenção primária, na vacinação, no gerenciamento de pacientes crônicos”, explica Branco. “No Brasil, estamos numa transição, em que temos doenças de países pobres, como zika, hanseníase, dengue, e doenças crônicas como lúpus, doenças reumáticas, oncológicas, etc. Ainda não fizemos essa transição de acabar com as doenças infecciosas e ficar só com as doenças crônicas. Esse é um desafio muito grande de gerenciamento desse sistema”, completa.
A modernização da identificação de pacientes também é uma aliada nesse processo. Criar um cadastro único com todo o histórico de cada indivíduo poupa recursos e fortalece a unidade do atendimento. “Se todos os profissionais que atendessem um determinado indivíduo tivessem acesso a todo o histórico desse paciente, exames que foram feitos, procedimentos, seria possível evitar que novos exames fossem feitos desnecessariamente”, indica.
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