A mensuração de indicadores de qualidade é essencial para qualquer instituição de saúde interessada em melhorar a assistência e a segurança do paciente. Porém, implementar métricas que não serão analisadas e debatidas é um investimento sem propósito. É necessário medir esses parâmetros e, na sequência, trabalhar em cima deles.
Um dos caminhos para garantir o bom uso desses dados está na gestão de feedbacks, como ressalta um estudo norte-americano (1) no qual se observou mudança nas métricas de qualidade após implementação de um sistema de feedback mensal quanto ao desempenho de médicos hospitalistas no Medical College of Wisconsin nos EUA.
Na ocasião, o estudo implementou o seguinte processo: a cada 30 dias, todos os médicos hospitalistas recebiam um relatório de feedback composto por um painel individual e um comparativo com a média geral da equipe. Havia, também, sessões de coaching para que esses profissionais aprendessem técnicas para implementar melhorias em seus processos. Uma questão interessante é que os indicadores foram escolhidos em conjunto com a equipe médica que iria ser avaliada. Para fins de comparação, os indicadores de 12 meses antes da intervenção foram comparados com os de 12 meses após a intervenção.
Foram observadas melhorias nas seguintes métricas de qualidade:
- tempo de permanência
- taxa de readmissão em 30 dias
- infecções do trato urinário associadas a sonda vesical
- infecções da corrente sanguínea associadas a cateter venoso central
- avaliação de pacientes quanto sua experiência de assistência médica (questionário HCAHPS)
- participação em rounds de coordenação de cuidados
- porcentagem de altas feitas até as 10h
Alguns resultados, muito significativos, merecem destaque como, por exemplo, a porcentagem de altas até as 10h que subiu de 14,6% para 31,7% entre os 2 períodos, e a quantidade de infecções da corrente sanguínea que caiu de 11 casos (número absoluto) para apenas 1 durante a intervenção (com base nos pacientes acompanhados pela equipe médica).
Entre as observações importantes do estudo está que uma vez que os dashboards dos feedbacks foram elaborados, o tempo despendido pelos analistas para geração dos relatórios foi apontado como gerenciável. Além disso, o estudo aponta algumas estratégias para um sistema eficaz de feedback, entre eles ser fornecido por um superior ou colega de confiança e ser entregue em formatos escritos e verbais que incluam metas específicas e claras.
Por fim, o documento conclui que além dos feedbacks, o investimento em orientações contínuas que auxiliem os participantes a efetivar melhorias é necessário e positivo tanto quanto celebrar as conquistas e melhorias individuais e coletivas.
De acordo com Lucas Zambon, diretor científico do IBSP, é importante interpretar esse estudo com um olhar apurado. “Trata-se de um estudo feito em um hospital único, com um perfil específico de profissionais (no caso, médicos hospitalistas que atuam de forma diferente do que a adotada por muitos locais no Brasil em que são, apenas, time de resposta rápida). Além disso, há que se considerar a influência de fenômenos como o efeito Hawthorne nos resultados”, diz. O executivo reforça a importância da divulgação de experiências exitosas no meio da saúde quando o assunto é qualidade e segurança. “Essas experiências podem tanto levar à formulação de ensaios clínicos randomizados – muitas vezes difíceis de serem executados pela própria natureza da intervenção proposta – quanto servir de inspiração para projetos locais de melhorias que precisam, minimamente, ser balizados por bons indicadores construídos em séries atemporais”, finaliza.
Referência:
(1) Creating a culture of quality: our experience with providing feedback to frontline hospitalists
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