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Oncologia clínica – Processos bem estabelecidos e comunicação aberta promovem segurança

Oncologia clínica – Processos bem estabelecidos e comunicação aberta promovem segurança
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Comemorado em 4 de fevereiro, o Dia Mundial do Câncer surge como uma excelente oportunidade para abordar a necessidade de minimizar os riscos do paciente oncológico, visto que essa população pode estar vulnerável dentro dos sistemas de saúde por vivenciar um ciclo de cuidados multidisciplinares que envolvem, muitas vezes, medicações com elevado grau de toxicidade e tratamentos com radiação.

Estudo (1) publicado em 2015 no JAMA Oncology aplica lições tiradas da Teoria do Acidente Normal (Normal Accident Theroy – NAT) para melhorar a segurança dos pacientes em oncologia clínica da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Essa teoria, cunhada pelo sociólogo Charles Perrow ainda na década de 1980, diz respeito a cenários onde sistemas interligados criam um ambiente bastante complexo, levando a possíveis falhas inesperadas e, como consequência, acidentes.

Esse panorama, bastante utilizado para avaliação de usinas nucleares e dentro do contexto da aviação, também foi vinculado à oncologia clínica cujo ciclo de cuidado acaba por envolver especialistas diversos como médicos clínicos, cirurgiões, radiologistas, enfermeiros e assistentes sociais e uma ampla gama de prestadores, já que há transições de cuidado que levam o paciente a migrar, com frequência, de um consultório para um ambulatório ou hospital. Essa complexidade pode ampliar o potencial de erro.

Entre as principais preocupações listadas no estudo estão as falhas na quimioterapia ambulatorial. Segundo o documento, a taxa de erro de medicação nesses ambientes está entre 3% e 19%. Além disso, o estudo relata que em uma pesquisa com 193 pacientes adultos em quimioterapia, 22% acreditam terem vivenciado cuidados inseguros. Paralelamente, traz outro dado relevante: 54% dos profissionais de saúde entrevistados em departamentos de oncologia da Suíça relataram ter observado colegas de trabalho cometendo falhas potencialmente prejudiciais.

Ainda no contexto da quimioterapia, há um estudo (2) realizado no Brasil em 2017 que enfatiza que ações simples de serem implementadas podem identificar e prevenir problemas relacionados a medicamentos, evitando riscos à segurança do paciente e, inclusive, perdas financeiras. Na ocasião, foram avaliadas 6.104 prescrições e 4,5% delas apresentavam falhas, a maioria causadas por falta de informações. Além disso, 32,1% dos problemas estavam relacionados às doses. Assim, o estudo quantificou monetariamente esses problemas e concluiu que cada intervenção como inclusão de informações e ajuste de doses promoveu economia de R$ 126,78.

>> Oncologia – Planejamento e processos bem definidos evitam falhas nos centros de infusão

Outra preocupação apontada no estudo está no tratamento com radioterapia, visto que foram observadas falhas em cerca de 1% a 4% dos procedimentos.

A fim de compreender o comportamento dos sistemas, implementar iniciativas eficazes de segurança e reduzir os riscos, o estudo aplica sistematicamente alguns conceitos da Teoria do Acidente Normal à oncologia clínica.

O primeiro deles está na padronização, principalmente dos processos. No estudo, por exemplo, uma intervenção se mostrou muito eficaz. Em vez de as informações relevantes sobre o tratamento radioterápico estarem dispostas em diversos formatos (em mensagens telefônicas, portais, e-mail, anotações e conversas verbais), foi definido um único local dentro do registro eletrônico de saúde para que os profissionais transmitissem essas informações a todos os cuidadores. Dessa forma, notas sobre o paciente como gravidez, utilização de marca-passo ou se já passou por uma radiação anterior estarão claramente apontadas, bem como detalhes como o posicionamento do paciente, a data de início daquele tratamento e quais as doses prescritas.

Outra padronização eficiente foi para a revisão dos parâmetros dosimétricos do plano de tratamento de radiação. Anteriormente, essa revisão era feita pelo médico que comparava “mentalmente” o histograma de volume de dose e alguns valores críticos a padrões. Com a intervenção, essa revisão passou a ser feita em uma planilha digital onde foram importados os parâmetros predeterminados do plano para que fossem comparados automaticamente aos padrões departamentais. Para facilitar a análise, foi implementada uma codificação por cores onde os parâmetros que atendem aos padrões e objetivos são verdes e os que não atendem, vermelhos. O estudo também menciona a instituição do programa Enhanced Recovery After Surgery (ERAS) para a padronização dos processos perioperatórios.

O documento menciona outra vertente na busca pela redução dos riscos ao enfatizar que um clima organizacional que permita aos profissionais sentirem-se confortáveis para falar abertamente sobre erros e falhas, sem associar essas situações à culpa, vergonha ou punições, é importante.

Para isso, as intervenções envolveram líderes falando com transparência sobre questões de segurança do paciente e encorajando os colegas a fazer o mesmo. Além disso, reconhecendo e recompensando – inclusive nas decisões sobre remuneração e promoção – aqueles que participam de trabalhos de mentoria para melhoria da qualidade e da segurança. Foram conduzidas, também, reuniões diárias para revisão das atividades do dia e rondas de segurança durante as quais havia conversas diretas com os trabalhadores da linha de frente para debate de potenciais problemas de segurança identificados.

Após a implementação dessas e de outras medidas, os pesquisadores notaram aprimoramento de algumas medidas como, por exemplo, redução do tempo de espera e das interrupções. Além disso, os profissionais também mostraram maior percepção da cultura de qualidade e de segurança na instituição e houve melhoria no desempenho financeiro.

Referências:

(1) Improving Patient Safety in Clinical Oncology – Applying Lessons From Normal Accident Theory

(2) Patient safety and the value of pharmaceutical intervention in a cancer hospital

 

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