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Oncologia – Planejamento e processos bem definidos evitam falhas nos centros de infusão

Oncologia – Planejamento e processos bem definidos evitam falhas nos centros de infusão
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IBSP: Segurança do Paciente - Oncologia - Planejamento e processos bem definidos evitam falhas nos centros de infusãoSegundo estimativa do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o Brasil deve ter, entre 2020 e 2022, 625 mil novos casos de câncer ao ano (1). A alta incidência faz com que tenhamos milhares de pacientes todos os dias sendo tratados com quimioterápicos nos centros de infusão espalhados pelo país, seja em hospitais, ambulatórios ou clínicas. Abordar a segurança desses pacientes durante o tratamento, envolvendo toda a equipe multidisciplinar que presta assistência a esse cidadão, é papel das instituições de saúde que ministram essas drogas.

A garantia de uma atenção segura está, na visão de Priscila Mendes Paiva, enfermeira que atua no ramo da oncologia desde 2007, em traçar um bom planejamento e definir processos. “Normalmente, a presença do paciente oncológico no centro de infusão é eletiva, ou seja, conseguimos programar a sua vinda desde o agendamento até a alta”, comenta.

Rotina antes da chegada do paciente ao centro de infusão

O tratamento de cada paciente oncológico no centro de infusão começa cerca de 24 horas antes de sua chegada para a administração medicamentosa. O primeiro passo é entregar a prescrição médica aos enfermeiros e farmacêuticos para o início das checagens. “É importante que haja tempo hábil para que esses profissionais façam a tripla checagem antes do paciente chegar”, explica a enfermeira.

Nesse momento, três profissionais – normalmente dois enfermeiros e um farmacêutico, porém essa definição varia de instituição para instituição – verificam se a prescrição está de acordo com o protocolo terapêutico escolhido para aquele paciente. “Não é incomum que haja falha nessa prescrição. Quando algum erro é encontrado, o médico responsável é acionado”, diz Priscila. Segundo a especialista, o mais comum é acontecer erro de dose que, nem sempre, provém de uma falha do médico. “Às vezes o paciente teve alteração de peso ou teve alguma toxicidade que o enfermeiro identificou e, então, é preciso alterar a dose prescrita”, explica.

Após a tripla checagem, a prescrição segue para a central de manipulação também com antecedência para que o farmacêutico possa fazer suas validações de diluição e concentração. Essa é a última etapa feita no dia anterior à chegada do paciente, na visão de Priscila. “Quando deixamos para fazer essas etapas após o paciente já estar na unidade podem ocorrer atrasos que impactam tanto na experiência dele quanto na rotina do setor, fazendo com que a linha de cuidado seja perdida”, pontua a enfermeira.

Rotina após a chegada do paciente

Assim que chega ao centro de infusão, o paciente passa por uma triagem fundamental dentro da trilha de segurança. “São feitas as avaliações clínica e laboratorial, os enfermeiros analisam hemograma, função hepática e renal e tudo o que for necessário para validar a medicação”, diz Priscila enfatizando que mudança do peso, por exemplo, pode promover alteração na dose do medicamento e que somente com a definição de que o paciente está apto para receber aquela medicação prescrita, ela deve ser manipulada. Com isso, o risco de o paciente receber a dose errada ou mesmo da instituição ter perdas financeiras devido ao desperdício de um medicamento manipulado inadequadamente àquele paciente é muito reduzido.

Após manipulado, o medicamento passa por mais duas checagens na farmácia para verificação da etiqueta com a prescrição médica, observando nome do paciente, data de nascimento, medicamento, dose e via de infusão, informações que, normalmente, estão dispostas no rótulo da bolsa. Somente após mais essas barreiras, o medicamento é entregue ao setor via mensageiro.

Surgem, então, outras etapas de segurança. Ao receber a bolsa, o enfermeiro confere se aquele medicamento está correto junto à prescrição e ao paciente e o armazena de forma adequada para que não haja troca. No Brasil muitas instituições fazem essa checagem de forma automatizada por meio de código de barras. “Isso aumenta a segurança, pois caso haja discordância entre o medicamento e o paciente, torna-se impossível dar sequência à administração”, pontua Priscila.

Na hora da administração, de fato, mais dois profissionais da enfermagem fazem uma dupla checagem. Verificam a prescrição, o rótulo do soro e o paciente. Conciliam essas informações com a pulseira desse paciente pedindo, inclusive, que ele mesmo fale seu nome e data de nascimento. Isso é feito duas vezes, de forma separada. E, se for utilizada uma bomba de infusão, é necessário conferir a bomba. “Pode ocorrer erro na programação da bomba e, com isso, o medicamento pode ser infusionado na velocidade errada”, exemplifica a profissional.

Via de infusão

Segundo Priscila, é papel da enfermagem ter conhecimento sobre as vias de infusão para evitar danos ao paciente. A profissional explica que é necessário tomar muito cuidado com o tipo de droga que está sendo administrada e que medicamentos vesicantes, por exemplo, não devem ser infusionados por acesso venoso periférico. O risco de extravasamento desse medicamento pode prejudicar significativamente o paciente e, por esse motivo, a melhor indicação é que seja usado um acesso venoso central. Quando uma droga vesicante sai da corrente sanguínea e vai para o tecido pode ocorrer, por exemplo, necrose. Dependendo da quantidade de medicamento, o dano pode ser irreversível. Além disso, é preciso manter a rotina correta de manipulação do cateter evitando infecções e obstruções.

Assistência personalizada

Na oncologia, é importante que os atendimentos sejam personalizados e contem com um modelo de enfermagem tradicionalmente intitulado Primary Nursing. Dentro desse cenário temos um mesmo enfermeiro cuidando do paciente do início ao fim do tratamento. Essa abordagem mais particularizada permite ao profissional de saúde conhecer as peculiaridades que podem inclusive interferir no tratamento de cada paciente. “É importante que o enfermeiro conheça a rotina de quem está em tratamento, o que gosta, quais os melhores horários para fazer a infusão, como é seu ciclo de sono, se tem filhos, compromissos de trabalho, e muito mais”, comenta Priscila enfatizando que essa proximidade amplia, também, o engajamento do paciente com seu próprio cuidado.

Empoderamento do paciente e do profissional de saúde

A assistência segura também passa pelo empoderamento tanto do paciente quanto do profissional de saúde.

Quando os gestores da instituição estão alinhados com os trabalhadores da ponta da cadeia – enfermeiros e farmacêuticos – eles empoderam esses profissionais para que façam as checagens adequadas e apontem falhas identificadas sem medo de retaliação. “É importante ter a diretoria clínica do hospital alinhada com a linha de frente para que esses profissionais se sintam seguros até para interromper uma infusão quando julgar necessário”, diz Priscila.

Além disso, o paciente também precisa ser informado e educado sobre tudo o que está vivenciando durante seu tratamento. “Eles são corresponsáveis pela sua segurança”, pontua a enfermeira. Para ela, o paciente empoderado e questionador é positivo para o sistema como um todo e essa realidade tem se tornado mais frequente, estimulando inclusive os profissionais de saúde a se manterem atualizados profissionalmente.

Referências:

(1) INCA – Estimativas do câncer no Brasil

 

 

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