Estudos atuais relacionados à segurança do paciente enfatizam a necessidade de reduzir a inadequada prescrição de antibióticos em todos os cenários dos sistemas de saúde. A resistência aos antimicrobianos é uma grave ameaça: 700 mil mortes por ano, no mundo, são atribuídas a infecções causadas por organismos multirresistentes (1).
Este número só tende a crescer. Uma estimativa do Centro de Controle de Doenças (CDC), agência do governo americana de vigilância epidemiológica, estima que entre 20% e 50% de todos os antibióticos prescritos nos Estados Unidos não são realmente necessários ou não foram usados de maneira adequada (2).
Os programas de stewardship, para o uso adequado e racional de antimicrobianos, são enfatizados como uma das principais estratégias para vencer a resistência. Eles já estão sendo adotados em instituições de saúde em vários países, mas sua implantação e manutenção ainda geram enormes desafios. Nem todos os hospitais contam com a infraestrutura necessária ao programa, como laboratórios adequados.
Nesse cenário, pesquisadores da Johns Hopkins University, referência internacional em segurança do paciente, e da agência americana para qualidade da saúde, a AHRQ, escreveram um artigo este mês no jornal da Associação Médica Americana, o JAMA, enfatizando a utilidade de um modelo para apoiar a prescrição de antibióticos. “Uma abordagem estruturada, enfatizando os quatro momentos críticos da prescrição de antibióticos, pode aprimorar a tomada de decisão pelos médicos e comunicar adequadamente as decisões entre outros profissionais de saúde, como enfermeiros e farmacêuticos”, escreveram os autores, liderados pela infectologista Pranita Tamma, diretora do programa de stewardship pediátrico da Johns Hopkins University (3). O modelo, que leva o prescritor a reflexões a cada passo da conduta clínica, está disponível no fim deste texto.
As instituições que adotarem o modelo, com a participação de equipe multidisciplinar, certamente terão uma performance melhor, com a diminuição de incidentes com danos . Além, claro, de contribuir de maneira inestimável para a diminuição da resistência aos antimicrobianos.
4 momentos decisivos na prescrição de antibióticos
Um modelo para apoiar a tomada de decisão na prática clínica e contribuir para o uso racional de antimicrobianos
Momento 1 – O paciente tem uma infecção que requer antibióticos?
Lembra o clínico de sintetizar todas as informações do paciente relevantes para determinar a possibilidade de uma infecção que requeira antibioticoterapia.
Momento 2 – Solicitei as culturas apropriadas antes de começar o antibiótico? Qual antibioticoterapia empírica devo começar?
Garante que a administração do tratamento seja feita no tempo adequado. Faz com que o prescritor pense cuidadosamente sobre os fatores de risco específicos daquele paciente e sobre a gravidade da doença em associação às prováveis causas de infecção.
Momento 3 – Alguns dias depois… É possível tornar a prescrição mais específica? Posso trocar a via de administração (de intravenosa para oral)? Posso parar com o antibiótico?
Faz com que o prescritor faça uma reflexão diária sobre cada paciente recebendo antibióticos. Pode ser feita na forma de uma discussão de rotina entre a equipe durante a ronda.
Momento 4 – Qual é a duração da antibioticoterapia necessária para a condição diagnosticada neste paciente?
Um lembrete de que duração da antibioticoterapia deve ser baseada em literatura científica e não na verificação de se o paciente teve resposta clínica adequada.
SAIBA MAIS
(1 ) Review on Antimicrobial Resistence. Antimicrobial resistence: talking a crisis for the health and wealth of nations. London (UK): Creative Commons;2014.
2 – Centers for Disease Control and Prevention. Core Elements of Hospital Antibiotic Stewardship Programs.
(3) Tamma PD, Miller MA, Cosgrove SE. Rethinking How Antibiotics Are Prescribed: Incorporating the 4 Moments of Antibiotic Decision Making Into Clinical Practice. JAMA. 2019;321(2):139–140. doi:10.1001/jama.2018.19509
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