A Intensive Care Medicine publicou, recentemente, as novas diretrizes para manejo da sepse e do choque séptico atualizadas pela Surviving Sepsis Campaign (SSC). São, ao todo, 93 recomendações que abrangem desde a triagem e o tratamento precoce, até a gestão hemodinâmica do paciente, ventilação e terapias adicionais (1).
Na matéria de hoje vamos focar uma das novidades trazidas por esse documento e que diz respeito à agilidade na admissão do paciente adulto com sepse na unidade de terapia intensiva (UTI). A nova recomendação é a de que pacientes adultos com sepse ou choque séptico que requerem cuidados intensivos devem ser admitidos na UTI em no máximo seis horas.
Lembrando que o desfecho do paciente com sepse depende da rápida assistência, o guideline enfatiza que o encaminhamento tardio desse paciente aos cuidados intensivos está diretamente relacionado ao aumento da mortalidade, do tempo de ventilação mecânica e de internação.
Traz, como embasamento, alguns estudos internacionais. O primeiro, que monitorou 401 pacientes internados na UTI, resultou em aumento de 1,5% na mortalidade a cada hora de atraso na transferência desse paciente do departamento de emergência para a unidade de terapia intensiva. O segundo, envolvendo 14.788 pacientes criticamente doentes, também apontou que quanto mais o paciente demora para ser internado na UTI, maiores as taxas de mortalidade.
Já o terceiro estudo envolveu uma população ainda mais significativa: 50.322 pacientes internados em 120 UTIs norte-americanas. Dessa vez, o resultado sugere que a mortalidade aumentou quando o paciente permaneceu na emergência por mais de seis horas, sendo que entre os sobreviventes, aqueles que foram admitidos na UTI tardiamente também permaneceram mais tempo internados e foram mais submetidos à ventilação mecânica.
Pensando em recuperação, um último estudo mencionado foi conduzido no Reino Unido e mostrou que a entrada tardia do paciente com sepse na UTI também está relacionada à maior deterioração fisiológica.
Com base em todas essas observações e evidências cientificas, a nova recomendação é a de que a admissão rápida – máximo de seis horas – de pacientes criticamente enfermos na UTI pode aumentar a segurança, levar a melhores desfechos e maior satisfação do paciente, além de impactar positivamente no desempenho e reconhecimento das equipes de saúde.
Porém, o compilado de diretrizes reconhece que há discrepâncias de assistência ao redor do mundo e que nem sempre há um leito de UTI disponível, cenário que pudemos observar durante a pandemia de covid-19 onde alguns países sofreram com a baixa disponibilidade.
Nesses casos, enfatiza ser indispensável que os cuidados sejam rapidamente iniciados mesmo fora desse ambiente e que o paciente seja encaminhado para a assistência intensiva o mais rápido possível.
Na visão de Lucas Zambon, diretor científico do IBSP, em cenários de escassez de leitos de UTI, o importante é viabilizar o cuidado crítico por tempo mais prolongado. “Uma alternativa é investir em maior capacitação da equipe de enfermagem para lidar com doentes críticos. Quanto aos médicos, com as residências de emergências se consolidando pelo país, os egressos dessas especializações podem ser de grande utilidade nas salas de emergência. Um intercâmbio maior entre intensivistas e emergencistas, presencial ou remotamente, ajuda na condução do caso, fazendo com que decisões mais complexas possam ser tomadas em conjunto”, complementa.
Referências:
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